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Comunidade Islâmica ajuda fiéis a emigrar para escapar à crise

26 dez, 2012 • Isabel Alves, Agência Lusa

A Mesquita Central de Lisboa tem um protocolo com a junta de freguesia desde 2011, para a distribuição gratuita, duas vezes por mês, de refeições à população carenciada.

Comunidade Islâmica ajuda fiéis a emigrar para escapar à crise
Muçulmanos, Islão, Imã, David Munie
A crise é indiferente a credos ou confissões. Também entre os islâmicos surgem os mesmos pedidos de apoio que acontecem entre católicos, só que entre os muçulmanos já se ajudam os fiéis a emigrar.

“Já ajudámos dezenas de pessoas a emigrar”, revelou à Lusa o responsável espiritual da Comunidade Islâmica de Lisboa e imã da Mesquita Central da capital, o xeque David Munir, especificando que Bélgica, Inglaterra, Moçambique e Angola estão entre os principais países de destino.

O desemprego, sobretudo quando atinge uma família inteira, tem levado muitos muçulmanos portugueses a “emigrar de vez, à procura [de melhores condições de vida]”.

“Quando falamos de muçulmanos imigrantes que querem regressar para o seu país, porque chegaram à conclusão que as coisas não correram bem, também damos o bilhete de ida. Ainda o conseguimos fazer, amanhã não sei se poderemos continuar a dar essa facilidade”, explica o xeque David Munir.

A caridade é um dos pilares obrigatórios do Islão e os muçulmanos estão obrigados a uma contribuição anual de 2,5% dos seus rendimentos.

É destes donativos obrigatórios que sai o financiamento para o apoio prestado, mas com quebras entre os 80% e os 90% no total das doações, a gestão passou a ser muito mais criteriosa.

“Nos dias de hoje sabemos que a crise afecta todos, inclusive os muçulmanos que vivem no nosso país, a solicitação aumentou. Nos dois últimos anos aumentou imenso, e hoje podemos dizer que, infelizmente, não temos a capacidade que tínhamos há uns anos atrás”, afirma.

A lista de prioridades inclui o pagamento de medicamentos, alimentação, rendas de casa, quando não são “dívidas de anos” e, de vez em quando, as contas de água e luz.

A mesquita já chegou mesmo a pagar operações urgentes que não podiam ser asseguradas pelo Estado.

A cirurgia e a viagem a Cuba para solucionar um problema de visão de um jovem muçulmano foram encaradas como “um investimento”.

“Assim, ele deixará de pedir todos os dias. Há pessoas que se habituam a pedir. Quem pede não se cansa, quem se cansa é quem dá”, disse.

A mesquita de Lisboa tem sentido dificuldades até na gestão das despesas de manutenção deste templo muçulmano, uma vez que está impedida de usar as contribuições obrigatórias para esse fim.

Daí que, espalhadas pelo jardim interior da mesquita estejam várias caixas a apelar aos donativos, por mais pequenos que sejam.

Integrada em Campolide, a Mesquita Central de Lisboa tem com a junta de freguesia um protocolo, activo desde 2011, para a distribuição gratuita, duas vezes por mês, de refeições à população carenciada, muçulmana ou não.

“O nome é ‘Sopa para Todos’, mas é uma refeição completa. Há muçulmanos e não muçulmanos, há uma convivência”, sublinha o xeque.

O coordenador deste programa de refeições da mesquita, Mahomed Abed revela à Lusa que só em 2011 foram servidas 2200 refeições, e actualmente servem cerca de 150 refeições por dia, 300 por mês. Este ano registaram um aumento na procura, mas até esperavam mais pessoas. A explicação pode estar na inibição em entrar na mesquita que ainda notam.

“[Vêm cá], essencialmente as pessoas de mais idade, mas vêm casais e até casais novos, com filhos. Estamos abertos, qualquer pessoa pode vir, ninguém questiona se têm necessidade ou não”, explica Mahomed Abed.