18 mai, 2013 • Filipe d’Avillez
O Papa Francisco aceitou a resignação de D. José Policarpo, apresentada em Fevereiro de 2011, nomeando para o lugar D. Manuel Clemente.
O Cardeal D. José da Cruz Policarpo, Patriarca de Lisboa, foi ordenado Bispo titular de Caliabria e auxiliar de Lisboa a 26 de Maio de 1978, tendo recebido a Ordenação Episcopal em Lisboa, a 29 de Junho de 1978.
Em Março de 1997 tornou-se Arcebispo Coadjutor do Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, a quem sucedeu como Patriarca a 24 de Março de 1998. Era, desde o ano passado, o Patriarca católico há mais tempo em funções.
D. José Policarpo já foi várias vezes presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e tem uma vasta produção literária, tanto a nível de livros como de artigos académicos, entre os quais se inclui um diálogo com Eduardo Prado Coelho sobre a fé, sinal de uma abertura ao mundo intelectual e de uma exposição que o diferenciam do seu antecessor, mais reservado.
Apesar da importância histórica da arquidiocese de Braga, cujo bispo tem o título "Primaz das Espanhas", Lisboa, com o seu estatuto de patriarcado e de capital do país, goza de uma influência muito importante. D. José Policarpo é, por isso, uma figura de realce na vida nacional, sendo frequentemente convidado para momentos solenes de Estado.
Pela mesma razão era frequentemente procurado como voz da Igreja portuguesa para comentar os assuntos da actualidade. Ao longo da última década, a Igreja viu-se várias vezes em conflito com as forças políticas, nomeadamente com a liberalização do aborto e também com a legalização do casamento entre homossexuais. Em todos estes casos, o Patriarca de Lisboa deixou bem clara a orientação da Igreja, embora alguns o tenham criticado de falta de intervenção nos debates que se desenrolaram à volta destes assuntos.
D. José Policarpo recebeu duas visitas papais, uma de João Paulo II, em 2000, e outra em 2010, com Bento XVI. Ambos os casos foram um enorme sucesso, como foi aliás outro grande evento organizado em Lisboa, o Congresso Internacional da Nova Evangelização, em 2005, que trouxe centenas de milhares de pessoas às ruas da capital, numa grande demonstração pública de fé.
Cautela com muçulmanos e ordenação de mulheres
Em Junho de 2011, D. José Policarpo deu uma entrevista em que afirmou que não havia razões teológicas de fundo para não ordenar mulheres ao sacerdócio. Esse comentário originou alguma polémica e levou a uma retractação oficial, em que o Patriarca afirmava desconhecer um documento escrito por João Paulo II que afirma categoricamente que a Igreja não tem autoridade de fazer essa reforma.
Esta não foi a única polémica do seu mandato. D. José Policarpo viu-se envolvido em controvérsia com a comunidade islâmica quando aconselhou "cautela" a cristãos que pensem casar com muçulmanos, mas este caso não afectou definitivamente as relações inter-religiosas no Patriarcado, que são por muitos consideradas exemplares.
Foi ainda durante o seu mandato que se fez sentir a pressão da crise de vocações, embora nos últimos anos o número de seminaristas e ordenações tenha subido de forma gradual. Este último ano no cargo fica ainda ensombrado por alegações públicas de abusos sexuais praticados por membros do clero, cujo arquivamento pelo Ministério Público, por questões técnicas, não fez dissipar as suspeitas.
Do seu legado na arquidiocese de Lisboa ficam não só os seus textos e homilias, como também uma importante reorganização de paróquias e vigararias, decidida em parte para fazer frente à escassez do número de padres. Apesar de as vocações terem estabilizado nos últimos anos, continuam a morrer mais sacerdotes anualmente do que aqueles que são ordenados.
Recentemente, D. José Policarpo decidiu tornar mais rigorosas as regras de acesso aos sacramentos, como o baptismo, crisma e casamento, aplicando as normas que estavam suspensas há vários anos no que diz respeito à escolha de padrinhos de baptismo, baixando a idade de recepção do crisma, como era nas suas suas origens, e exigindo aos noivos a realização de cursos de preparação para o matrimónio.
Aos 75 anos, apresentou a sua resignação, como é próprio para bispos diocesanos da Igreja romana, mas o Papa Bento XVI respondeu a pedir que prolongasse o seu mandato durante mais dois anos.
D. José Policarpo é Cardeal há muitos anos, tendo participado no conclave que elegeu Bento XVI e Francisco. Durante o conclave que elegeu Bento XVI, o seu nome foi avançado como possível sucessor de João Paulo II, o que não se veio a concretizar.
Em 2013, quando Bento XVI anunciou a sua resignação, D. José disse aos jornalistas que se considerava demasiado velho para vir a ser escolhido Papa e que ele mesmo preferia um homem mais novo para o cargo. Acabou por participar num conclave em que foi surpreendentemente eleito Jorge Maria Bergoglio, de 76 anos, que tomou o nome de Francisco e que aceitou agora o pedido de resignação elaborado por D. José há mais de dois anos.