Bancadas vazias, prejuízos à vista

Desporto

Até ao final do inverno, dois jogos de futebol da I Liga farão os adeptos mais ferrenhos espumar de desejo de voltar a entrar nos estádios para aplaudir as equipas. Há um Benfica-Porto marcado a 17 de janeiro e um Sporting-Benfica a 31 do mesmo mês. O mais provável é que estes encontros ocorram sem público. E que os cofres dos clubes continuem a emagrecer.

1. Regresso dos adeptos aos estádios está dependente da evolução da pandemia

A Liga fez “um trabalho muito sério de retoma do público aos estádios”. Os testes correram “muitíssimo bem”, estava tudo bem encaminhado, mas o aumento de casos de Covid-19 durante o mês de novembro pregou uma rasteira em todas expectativas, assume Sónia Carneiro, diretora executiva da Liga Portugal, em declarações à Renascença.

“Face àquilo que foi a evolução da situação pandémica do país, naturalmente nós compreendemos quando nos foi pedido que suspendêssemos, por agora, a nossa iniciativa”, afirma.

Segundo Sónia Carneiro, a Liga não está “conformada totalmente” com a decisão do Governo e Direção-Geral da Saúde, mas acatará as indicações. Porquê? Sente que existe diferenciação no tratamento entre diferentes setores.

“Apesar de não nos termos conformado totalmente, porque ainda na semana passada [16 a 22 de novembro] ouvimos a senhora ministra da Cultura pedir que as pessoas vão aos espetáculos, vão ao teatro, que vão ao cinema, e para o futebol não vemos esse apelo. De qualquer das formas, e como para nós o que está em primeiro lugar é efetivamente a saúde, compreendemos a suspensão.”

A diretora-executiva da Liga diz ter ainda esperança de que, “a curto prazo, voltemos a ter adeptos nos estádios”. Isto, claro, “desde que isso não interfira de maneira nenhuma com a saúde das pessoas”.

Paulo Meneses, presidente do Paços de Ferreira, traça um prognóstico ainda mais negativo. “Como neste país infelizmente há um governo absoluto sem lógica, ninguém teve coragem de explicar às pessoas a discriminação negativa relativamente ao futebol. Acho que não quero acreditar que possamos ter adeptos nos estádios antes da Primavera. Duvido muito. Foi feito um esforço, mas esta morte asfixiante do futebol vai continuar garantidamente, é a minha convicção”, diz à Renascença.

Nenhum estudo prevê que a situação pandémica venha a melhorar drasticamente nos próximos quatro meses – o que é uma má notícia para os fãs do desporto rei.

2. Clubes da I Liga vão perder milhões com bancadas vazias

Até ao final da época, os clubes da I Liga vão perder 115 milhões de euros devido à ausência de público nos estádios. Este montante inclui “bilhética, corporate e merchandising”, adianta Sónia Carneiro, diretora executiva da Liga, à Renascença.

Os números da Liga podem ser, todavia, uma estimativa conservadora. Em outubro,Pinto da Costa, presidente do FC Porto, afirmou, em entrevista à "TVI", que o clube já havia perdido 29 milhões de euros em receitas. “Quando falo com alguém, todos me dão razão. Até pessoas responsáveis me dizem que é incompreensível. Temos aqui uma série de camarotes, não podem estar aqui meia dúzia de pessoas?”, disse.

Em declarações à Renascença, Paulo Meneses, presidente do Paços de Ferreira, diz não conseguir “mensurar completamente quanto” já perdeu, dado que “há um efeito direto e indireto”.

“Em termos das receitas imediatas, temos o histórico dos clubes que jogaram connosco aqui em Paços de Ferreira. Garantidamente, perdemos 200 mil euros de receita de bilheteira esta época, e quase outro tanto de receitas indiretas, em termos de quotas dos sócios, camarotes e publicidade. Não tenho problema em dizer que o Paços de Ferreira tem um prejuízo de 350 a 400 mil euros do que é possível perspetivar”, revela.

3. Falta de público em jogos com os grandes terá o maior impacto

Para um clube “pequeno” como o Paços de Ferreira, a ausência de adeptos nas bancadas é um golpe letal nas contas. Segundo o Presidente, todos os jogos dão prejuízo salvo quando o encontro é frente ao FC Porto, Benfica, Sporting, Braga e Vitória de Guimarães.

“Falamos de jogos que possam ter receita no dia de jogo de 200 ou 300 euros. Parece ridículo, mas é verdade. Todos os sócios com quotas pagas têm acesso a todos os jogos sem pagar o ingresso. Se jogar contra o Nacional, virão 10 adeptos visitantes. Com bilhetes a cinco euros, são 50 euros, por exemplo. É fácil fazer as contas. É esta a realidade. Sócios acedem com as quotas pagas e, neste momento, não as estão a pagar”, explica.

4. Se o campeonato voltar a ser interrompido, alguns clubes vão entrar em insolvência

O pior cenário para qualquer clube de futebol nacional é uma nova interrupção do campeonato. Paulo Meneses, Presidente do Paços de Ferreira, aponta que essa decisão seria dramática e levaria à insolvência de algumas equipas.

“Normalmente temos tendência a dramatizar as coisas, mas eu não tenho dúvida que se o campeonato for interrompido, como aconteceu, clubes à dimensão do Paços de Ferreira entram em insolvência imediata, porque há falta de receitas que sustentabilizem um clube como o Paços, que são as televisivas”, afirma.

5. Adeptos mais jovens podem perder hábito de “ir ao futebol”

Os seres humanos são seres de hábitos – principalmente os mais jovens. De acordo com Sónia Carneiro, diretora executiva da Liga, se a proibição de adeptos irem aos estádios continuar durante muito tempo, existe o risco de uma geração de jovens adolescentes nunca venha a desenvolver esse hábito e que procure “outro tipo de entretenimento”.

“Há um risco muito sério de cada vez mais se começarem a desligar deste que é, hoje ainda continua a ser, o espetáculo mais importante deste país, em termos de visibilidade. É uma atividade que é muito, muito relevante e que pode perder especialmente este público mais jovem que vai crescer a habituar-se a dar importância aos videojogos, a outro tipo de espetáculo que não o futebol”, explica a responsável à Renascença.