29 out, 2015 - 09:54 • André Rodrigues
Cerca de 200 alunos da Escola Secundária João Gonçalves Zarco, em Matosinhos, ainda não tiveram, neste ano lectivo, aulas de Português nem de Matemática. Faltram professores na escola.
“O máximo que nós podemos fazer, enquanto não temos Matemática, é rever o que já sabemos". Inês carrega o semblante sempre que o assunto vem à baila. É aluna do 9.º ano numa das três turmas que está sem aulas de Matemática. Em ano de exame. Porque a escola não consegue preencher a vaga aberta para um professor de substituição.
António está na mesma situação e queixa-se que "em ano de exame, isto não devia acontecer". António tem a ajuda de uma explicadora, mas "quando se desconhece o programa da disciplina, é difícil perceber de que forma as aulas poderiam correr".
Há um factor de pressão suplementar sobre estes alunos. Inês confessa que "no 10.º ano temos os exames diagnósticos para ver se ficamos numa turma boa ou numa turma má". E tudo depende da boa preparação que vem de trás. Ou se tem ou não se tem. E sem professor há mais de um mês, há todo um percurso que pode ficar comprometido.
A presidente da Associação de Pais da Escola Secundária João Gonçalves Zarco, Maria Rosa Carvalho, admite que, nestas idades, "não ter aulas pode até ter piada, numa fase inicial. Mas depois torna-se complicado".
E a falta de professores não é um exclusivo dos alunos do 9.º ano. Mais de 80 do 10.º também estão sem professor de Matemática. E outros pediram transferência para outros estabelecimentos de ensino "porque os pais não estavam para aguentar... eles estão há mais de um mês sem aulas e o 10.º ano é início de ciclo. E, além disso, o programa de Matemática para o 10.º ano mudou".
Para fechar a contabilidade, há outros 40 alunos dos cursos nocturnos sem aulas de Português.
Para a presidente da Associação de Pais, é um sinal de que de pouco terá adiantado ao Ministério da Educação atrasar o arranque do ano lectivo "à espera que tudo começasse da melhor maneira... pois bem, parece que este ano ainda estamos pior", remata.
Enquanto isso, a direcção da escola procura soluções. Mas José Ramos lamenta que as regras para a colocação de docentes em substituição sejam desajustadas da realidade. E dá um exemplo revelador. "Imagine que temos uma lista de 400 professores de Matemática à espera de serem contactados. Imagine agora que o centésimo professor aceita vir para cá. Mas entretanto foi contratado por outra escola com horário completo e desistiu. Aí o processo volta à estaca zero. Têm de passar pelo menos oito dias até começarmos novamente a contactar professores".
Mas há outra perversidade no sistema: "quando retomamos os contactos não voltamos ao 101.º professor da lista. Temos de voltar ao primeiro. É medonho", desabafa José Ramos.
A escola aguarda agora uma autorização do ministério contratar directamente, pelo menos, um professor de Matemática. "Vamos tentar dar a volta ao sistema para ver se conseguimos minimizar os custos para os alunos".
Tudo porque os imperativos legais impedem a contratação de docentes em falta na Escola Secundária João Gonçalves Zarco, em Matosinhos.
O resultado? Cerca de 200 alunos desta escola de Matosinhos estão sem horário completo.