06 set, 2016 - 07:00 • Carolina Bico
A crise alterou os hábitos de consumo dos portugueses. Cerca de 40% passaram a comprar regulamente nas promoções, revela um estudo que vai ser apresentado esta terça-feira, em Lisboa.
De acordo com o Primeiro Grande Inquérito sobre Sustentabilidade, realizado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) e promovido pela Missão Continente, 35% dos consumidores optam pelos produtos mais baratos e 30% passaram a adquirir produtos de marca branca.
A crise cortou o orçamento de muitas famílias portuguesas e alterou os hábitos de consumo, o que levou à adopção de práticas mais sustentáveis pela classe média, explica à Renascença, Luísa Schmidt, responsável pela investigação do ICS.
"Houve um conjunto de pessoas com formação, que passaram a optar por consumos mais sustentáveis e mais pensados. Por exemplo, levar o almoço na marmita para o emprego, criar pequenas hortas urbanas ou trocar de alimentos com familiares”, refere a socióloga.
A docente do Instituto de Ciências Sociais frisa que há um grupo de inquiridos de classe mais baixa que "se sente excluído do mercado e do acto social de consumir".
Agricultura ou TIC?
O Primeiro Grande Inquérito sobre Sustentabilidade também olhou para os sectores em que Portugal deve investir mais. E as opiniões divergem.
"Há uma clivagem geracional importante. Nós temos as gerações mais idosas e menos escolarizadas a sublinhar as actividades tradicionais, como a agricultura e o comércio e os mais novos a ‘puxar’ pelas tecnologias de informação e energias renováveis. No fundo, uma visão bastante diferente daquilo que pode ser o futuro”, afirma Luísa Schmidt.
No quadro das políticas públicas, os portugueses consideram prioritárias as políticas sociais, nomeadamente os incentivos à boa prestação de serviços e segurança pública.
Os dados revelam ainda que as famílias com crianças pequenas optam por actividades de lazer ao ar livre, em detrimento dos centros comerciais.
Mulheres mais conscientes
Já no plano do consumo consciente, Luísa Schmidt destaca a importância do papel das mulheres. "Neste inquérito, as mulheres aparecem muito empenhadas num consumo sustentável, nas questões da alimentação e saúde. São elas as principais decisoras no quadro doméstico”.
Analisando as respostas dos 1.500 inquiridos, nas entrevistas realizadas entre 7 de Abril e 7 de Maio deste ano, o grupo de investigadores concluiu que a população portuguesa se preocupa com a gestão das suas poupanças e em ter um vasto leque de bens e serviços à disposição.
Para Luísa Schmidt, o cruzamento dos dados permitiu enquadrar as respostas em novos perfis de consumidores, como o consumidor ético, mais preocupado com os processos de produção e que prefere os mercados biológicos.
Há também o produtor-consumidor, muito ligado aos homens e ao lema “faça você mesmo”, em que o consumidor tem uma intervenção no produto após a compra, como por exemplo móveis que são montados em casa pelo próprio comprado.
O consumidor identitário é aquele que se identifica com a marca. E, por fim, o consumidor hedonista, típico do final dos anos 80, que compra por impulso e pelo simples prazer de consumir.
Os resultados e as principais conclusões do inquérito serão apresentados oficialmente esta terça-feira em formato de conferência, seguida de um debate sobre sustentabilidade moderado pelo jornalista João Adelino Faria, no auditório do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.