11 dez, 2016 - 23:27 • José Alberto Lemos, em Nova Iorque
António Guterres faz esta segunda-feira o seu juramento solene da Carta das Nações Unidas numa cerimónia perante a Assembleia Geral que decorre em Nova Iorque a partir das 10h00 locais (15h00 em Portugal).
É, na prática, a tomada de posse do novo secretário-geral da ONU, já que no dia 1 de Janeiro começa a exercer funções sem qualquer outro formalismo e o secretário-geral cessante entra de férias e provavelmente já não terá qualquer intervenção pública até ao fim do mês.
A Assembleia Geral da ONU reúne-se com a solenidade que estes momentos exigem, com as regras protocolares em rigor máximo, na presença dos representantes diplomáticos dos 193 países com assento na organização e ainda do Presidente da República e do primeiro-ministro de Portugal.
Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa fizeram questão de estar presentes nas Nações Unidas naquele que é o momento mais importante de sempre para Portugal desde que se tornou membro da ONU. Nos 71 anos de existência da organização, só oito países tiveram o privilégio de ver empossar um dos seus cidadãos como secretário-geral. Guterres será o nono membro do clube mais restrito do mundo.
A cerimónia começa com uma homenagem a Ban Ki-moon, o secretário-geral cessante, na qual falarão o presidente da Assembleia Geral, Peter Thomson, os representantes dos cinco grupos regionais da ONU – África, Ásia-Pacífico, Europa de Leste, América Latina-Caraíbas, Europa Ocidental – e o representante dos Estados Unidos como país anfitrião.
Segue-se o juramento da Carta da ONU por Guterres, que colocará a mão esquerda sobre a carta e levantará a direita. O presidente da Assembleia Geral lerá o texto do juramento, que o novo secretário-geral repetirá linha a linha. No palco estarão nesse momento 33 personalidades representativas dos vários organismos das Nações Unidas, mas também o presidente e o primeiro-ministro portugueses.
Após a apresentação de cumprimentos, António Guterres usará da palavra, numa intervenção que deverá durar entre 10 e 15 minutos. No final da sessão solene e de um encontro num dos salões do Palácio de Vidro com os inúmeros diplomatas presentes para cumprimentos e fotografias, Guterres fará as primeiras declarações aos jornalistas, respondendo a algumas perguntas.
Ao fim da tarde, pelas 18h00 locais (23h00 em Portugal), o Presidente da República oferece uma recepção a todo o corpo diplomático da ONU em homenagem ao novo secretário-geral, na qual Marcelo Rebelo de Sousa, Ban Ki-moon e António Guterres usarão da palavra.
Naturalmente que o ambiente em torno de todo este programa será de festa, o que se justifica plenamente. Mas os desafios que esperam Guterres nos próximos cinco anos apontam para tempos sombrios que darão ao antigo primeiro-ministro português motivos para mais dores de cabeça do que sorrisos.
Como se não bastassem os inúmeros conflitos e problemas que assolam o mundo neste momento, e de que aqui demos conta quando Guterres foi eleito secretário-geral, após a sua escolha aconteceu aquilo que pode transformar o seu mandato numa frustração de proporções ainda imprevisíveis. Referimo-nos obviamente à eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos.
A nova administração americana, cujo início de funções coincide praticamente com o do novo secretário-geral da ONU, não é, como se sabe, dada a multilateralismos e vários dos homens que rodeiam Trump têm uma posição muito crítica em relação às Nações Unidas e a uma filosofia de compromisso em geral.
Numa altura em que se aguarda ainda a escolha do secretário de Estado - mas que poderá ser um homem ligado à indústria petrolífera sem experiência de diplomacia política – e que se conhece apenas a nova embaixadora americana na ONU, os tempos que aí vêm serão antes de mais imprevisíveis. Uma imprevisibilidade que, contudo, não augura nada de bom para a ONU e para Guterres.