06 jan, 2017 - 14:15
A Time Out Market decidiu suspender o projecto de um mercado para a estação ferroviária de S. Bento, no Porto, que tinha anunciado em Outubro do ano passado.
O presidente da Time Out Market, João Cepeda, explica em declarações ao Público que a suspensão é “uma pausa” no processo e não uma desistência, mas reconhece que já não deverá ser em 2017 que o projecto estará concluído.
Cepeda afirmou que as declarações do vereador da autarquia portuense, Rui Losa, nas quais apelidou o projecto da Time Out como “inqualificável” foram o derradeiro sinal para que decidisse colocar o travão no processo.
“Fizemos tudo o que tínhamos que fazer. Fiquei a saber que o vereador, sem nunca ter falado connosco, acha a proposta inqualificável. Tentaremos fazer um projecto que seja qualificável. Vamos repensar o projecto, mas não é fácil, tendo em conta os espaços que temos disponíveis na estação – e que não são tão grandes como o vereador pensará. Mas arranjaremos uma forma, somos persistentes”, garante João Cepeda ao Público.
Porto Vivo arquiva
A Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana, informou esta sexta-feira que vai arquivar o pedido de informação prévia da Time Out sobre o projecto para a estação de São Bento, após a empresa ter pedido a suspensão da apreciação.
"O pedido de suspensão da apreciação do Pedido de Informação Prévia (PIP) por parte da Time Out chegou a 3 de Janeiro [terça-feira]. Nestes casos [de pedido de suspensão], a Porto Vivo arquiva o processo", revelou à Lusa Álvaro Santos, presidente da SRU.
A Lusa tentou também obter um comentário sobre o assunto junto da Câmara do Porto e da Infraestruturas de Portugal (IP), proprietária do edifício da estação, mas não obteve resposta.
O projecto do grupo Time Out, revelado em Outubro, previa instalar em São Bento um novo mercado com 2.200 metros quadrados, 500 lugares, 15 restaurantes, quatro bares, quatro lojas, uma cafetaria e uma galeria de arte.
A 5 de Outubro, quando se assinalou o centenário da inauguração da Estação Ferroviária de São Bento, o ministro do Planeamento anunciou ainda que seriam instalados no edifício um hostel, uma loja "Starbucks" e um café.
A Câmara do Porto disse, na altura, desconhecer qualquer projecto para São Bento e, uns dias depois, a SRU embargou a obra de um hostel que estava a ser instalado sem licenciamento.
A 8 de Outubro, João Cepeda disse à Lusa que a Time Out Market pretendia apresentar "nas próximas semanas" o "projecto formal" do novo "mercado de cultura e comida" que previa inaugurar no segundo semestre de 2017.
O responsável salientou ser "absolutamente rigorosa" a informação dada pela Câmara de que não deu entrada nos serviços "qualquer processo de licenciamento", mas indicou que a autarquia "conhece o processo e, desde o início, mostrou receptividade total e absoluta".
Processo atribulado
No dia 20 de Dezembro, em reunião camarária, Rui Loza, vereador independente e representante da autarquia na SRU, revelou que a Porto Vivo tinha encaminhado para a autarquia o PIP apresentado pela Time Out para São Bento.
O vereador do Urbanismo, Manuel Correia Fernandes, indicou o prazo de "20 dias" para a Câmara, a SRU e a Direcção Geral do Património Cultural se pronunciarem sobre aquele PIP.
Correia Fernandes vincou que a câmara "não prescinde" de se pronunciar sobre o projecto para o edifício classificado, que é propriedade da Infraestruturas de Portugal (IP).
No mesmo dia, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, disse ter sido "surpreendido" com a apresentação do projecto na cerimónia do centenário da estação, até porque a Câmara "tinha desenvolvido com a IP um projecto de natureza diferente".
"Entretanto, fizemos uma reunião com a IP e falamos com a tutela. Estamos tranquilos. Não me parece haver razões para preocupação", acrescentou Moreira, a 20 de Dezembro.
A 30 de Dezembro, o ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, garantiu que nada seria feito na estação de São Bento à revelia da Câmara do Porto.
"Estamos a trabalhar com grande proximidade com a autarquia e em particular com a SRU. Um trabalho desta natureza, na zona histórica, nunca aconteceria contra a Câmara do Porto ou contra as entidades que têm responsabilidade sobre o património", afirmou o ministro.