12 mai, 2025 - 19:02 • João Pedro Quesado
Donald Trump está prestes a aceitar um dos maiores presentes de sempre entregues ao governo dos Estados Unidos da América. O avião em causa é um Boeing 747-8, doado pela família real do Qatar e equipado de forma luxuosa, que primeiro passará a servir de Air Force One e depois de avião privado do atual Presidente dos EUA.
Segundo a ABC News, que revelou a doação do “palácio voador”, o anúncio deveria acontecer esta semana, durante a visita de Trump ao Qatar — a primeira do segundo mandato na Casa Branca. Mas o chefe de Estado norte-americano foi às redes sociais confirmar, este domingo, a intenção de aceitar o avião, sublinhando que o Departamento de Defesa “está a receber um PRESENTE, DE GRAÇA”.
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Nos EUA, como em qualquer país, uma doação deste tipo desafia as leis anti-corrupção. Além disso, a Constituição do país proíbe, no mesmo artigo onde impede os títulos de nobreza, que qualquer funcionário ou representante do país aceite um “presente, emolumento, cargo ou título” de “qualquer rei, príncipe ou Estado estrangeiro” — não sem o consentimento do Congresso, pelo menos.
Contudo, essa preocupação parece estar ultrapassada na administração Trump, já que o advogado da Casa Branca e a procuradora-geral, Pam Bondi, concluíram formalmente que a doação à fundação da biblioteca presidencial de Trump é legal. Isso renovou a atenção sobre o passado de Bondi como lobista paga pelo Qatar em 2020 e 2022, com um salário de 115 mil dólares por mês.
De acordo com os planos entretanto conhecidos — apesar de representantes do Qatar dizerem que a “transferência” do avião ainda está a ser avaliada pelos dois países —, o Boeing vai ser transferido, em primeiro lugar, para a Força Aérea dos EUA, que o vai modificar para cumprir os requisitos militares de segurança definidos para o transporte do Presidente dos EUA.
As conversações entre as delegações dos Estados Un(...)
Depois, o avião vai ser transferido para a Fundação Biblioteca Presidencial Trump, até 1 de janeiro de 2029 — ficando disponível para servir de avião privado de Donald Trump, e assim substituir o Boeing 757 de Trump usa desde 2011 (mas que foi construído em 1991). Os custos da transferência do avião, que Trump já visitou em fevereiro, deverão ainda recair sobre a Força Aérea norte-americana.
Tanto a ABC News como o jornal "The New York Times" referem que uma nova aeronave Boeing 747-8, a última geração do avião jumbo da fabricante norte-americana, custa cerca de 360 milhões de euros. O luxo atribuído ao avião, além das modificações necessárias para servir de Air Force One, farão aumentar o valor.
Não é a primeira vez que Donald Trump mexe no capítulo das aeronaves da frota presidencial dos EUA. Qualquer avião que transporte o Presidente dos Estados Unidos usa o nome Air Force One — o mesmo é válido para o vice-presidente e o nome AIr Force Two — mas, na prática, o transporte é quase sempre feito nos mesmos aviões, os VC-25A (o nome dado à versão militar do Boeing 747-200B, produzida no final dos anos 1980).
A idade dos aviões e os motores menos eficientes (no panorama atual) fizeram a Força Aérea começar a procura por novos aviões em 2009. O substituto, precisamente o modelo 747-8 da Boeing, foi anunciado em 2015, num programa com um custo máximo de 4 mil milhões de dólares.
Trump começou a mexer no contrato na primeira passagem pela Casa Branca, fazendo a Boeing recorrer a dois aviões construídos, mas nunca entregues ao comprador (que faliu), para poupar custos. Em 2019, quis ainda acabar com a pintura tradicional, criada na presidência de John F. Kennedy, para implementar um “esquema de cores patriótico” em que a barriga do avião é azul escura e há uma risca vermelha (também de tom escuro) ao longo do meio da aeronave. No fundo, seria uma versão invertida da pintura utilizada por Trump no seu avião.
Á medida que o avião, inicialmente previsto para 2021 e depois para 2024, foi sofrendo mais atrasos, a decisão da pintura foi revertida por Joe Biden, em 2023, com a justificação de que as cores pedidas por Trump obrigariam a mais trabalho de engenharia. Visto que os aviões tendem a ser maioritariamente brancos para refletir a maior quantidade de calor possível, o azul escuro iria ter o efeito contrário, podendo sobreaquecer sistemas essenciais da aeronave e da sua segurança.
A entrega do primeiro dos novos aviões, com o nome de modelo VC-25B, está atualmente programada para 2027, com o segundo a ser entregue em 2028. Segundo o The New York Times, as modificações necessárias ao avião oferecido pelo Qatar, devido às verificações de segurança obrigatórias para os trabalhadores nas modificações, devem demorar “anos, não meses”.
Publicamente, a Força Aérea apenas refere que os aviões Air Force One têm equipamentos eletrónicos e de comunicações específicos, mecanismos de carregamento de malas e escadas integradas, e a capacidade de reabastecimento em voo. Outros detalhes de segurança são confidenciais.
Os aviões contam ainda com uma suíte executiva (que inclui casa de banho e vestiário), gabinete para o Presidente, sala de conferências e jantar, e uma zona separada para convidados, funcionários da Casa Branca, Serviços Secretos e até jornalistas.