13 mai, 2025 - 20:32 • Fábio Monteiro , Ricardo Vieira com Reuters
José “Pepe” Mujica, antigo Presidente do Uruguai e figura marcante da política latino-americana, morreu, esta terça-feira, aos 89 anos. A notícia foi avançada pelo atual chefe de Estado, Yamandú Orsi, nas redes sociais.
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“Obrigado por tudo o que nos deu e pelo seu profundo amor pelo seu povo”, escreveu Orsi na rede social X.
Mujica destacou-se pela sua linguagem directa, postura antiprotocolar e pela defesa de reformas sociais.
Antes de chegar à presidência, Mujica integrou o Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), uma organização de guerrilha urbana ativa nas décadas de 1960 e 1970. O grupo recorreu a sequestros, assaltos e atentados contra alvos do regime, numa tentativa de resistir à ditadura militar.
Mujica acabou por ser capturado e passou quase 15 anos na prisão, muitos deles em regime de isolamento.
Durante esse período de reclusão, enfrentou condições extremas. Chegou a comer sabão e perdeu dentes por falta de cuidados médicos.
Acabou por ser libertado em 1985, com o regresso da democracia ao país.
Com o fim do regime militar, Mujica regressou à vida política, agora pela via institucional. Foi eleito deputado, senador e ministro da Agricultura, antes de alcançar, em 2010, a presidência do Uruguai.
Venceu as eleições com 52% dos votos, apesar das reservas de alguns eleitores quanto à sua idade e ao seu passado radical.
Enquanto Presidente, promoveu reformas sociais de grande impacto. Legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a interrupção voluntária da gravidez em fases iniciais e o comércio de canábis sob controlo estatal.
Mujica manteve-se fiel à imagem de líder simples e próximo do povo. Recusou viver na residência oficial, preferindo manter-se na sua modesta casa nos arredores de Montevideu, onde cultivava flores e legumes com a mulher, a ex-senadora e também ex-guerrilheira Lucía Topolansky. Conduzia um velho Volkswagen “carocha” e frequentava cafés e restaurantes comuns no centro da capital.
Numa entrevista concedida em 2024, revelou que ainda mantinha o carro em “condições fenomenais”, mas que preferia conduzir o trator, por ser mais divertido e dar espaço para pensar.
“O problema é que o mundo é governado por velhos que se esquecem de como eram quando eram jovens,” afirmou um dia.