24 mai, 2025 - 00:34 • João Pedro Quesado
Dois espiões russos estavam no Porto quando foram identificados pelos serviços de informações portugueses. A informação é avançada pelo jornal Expresso e, segundo o The New York Times, este casal fazia parte de uma equipa alargada de espiões russos que operava no Brasil.
Manuel Francisco Steinbruck Pereira e Adriana Carolina Costa Silva Pereira, com cerca de 30 anos, viajaram do Brasil para Portugal em 2018.
O casal esteve no Porto, com documentos portugueses, até ao Serviço de Informações de Segurança (SIS) obter a identidade dos dois — cujos nomes reais eram Vladimir Aleksandrovich Danilov e Yekaterina Leonidovna Danilova.
As identidades foram, segundo o The New York Times, reveladas no outono passado pelas autoridades brasileiras, através de uma notificação azul da Interpol, que pede às autoridades dos Estados-membros informações adicionais sobre a identidade de uma pessoa, assim como a localização ou atividades em relação a crimes cometidos.
Essas notificações colocaram os nomes, fotografias e impressões digitais dos espiões russos nas mãos das autoridades de 196 países, incluindo Portugal.
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De acordo com o Expresso, o casal de espiões foi localizado em Portugal pelo SIS, que "transmitiu às entidades nacionais competentes as informações necessárias, nomeadamente para o cancelamento da documentação nacional", segundo uma fonte da agência de segurança.
Entre os espiões russos, nove foram identificados como tal pela Polícia Federal brasileira, mas apenas dois foram detidos no Brasil — os restantes fugiram para a Rússia.
O esquema começou a ser desmontado quando um agente russo, com a identidade brasileira de Victor Muller Ferreira, apareceu no Tribunal Penal Internacional, nos Países Baixos, para um estágio — em abril de 2022, quando o tribunal estava a começar a investigar os crimes de guerra da Rússia na Ucrânia.
Depois de um alerta da CIA, as autoridades neerlandesas impediram a entrada deste agente, Sergey Cherkasov, no país, o que o fez regressar ao Brasil. Aí, a Polícia Federal apenas o conseguiu deter dias depois do regresso, com base em acusações de uso de documentos falsos.
A identidade foi definitivamente desmontada pelas autoridades brasileiras quando entrevistaram familiares da mulher indicada como mãe na certidão de nascimento. A mulher nunca tinha sido mãe.
A descoberta do esquema permitiu às autoridades perceber como os espiões russos criavam as novas identidades e obtinham os documentos oficiais.