24 mai, 2025 - 20:57 • Fábio Monteiro com Reuters
Quando os eleitores do estado mexicano de Durango forem às urnas no próximo fim-de-semana, poderão escolher como juiz federal um antigo traficante condenado nos Estados Unidos por tráfico de metanfetaminas. O caso de Leopoldo Chavez é um dos vários que está a gerar preocupação com a integridade das primeiras eleições judiciais no país.
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Com a votação marcada para 1 de junho, organizações da sociedade civil, associações judiciais e legisladores alertam que a reforma judicial poderá facilitar a infiltração do crime organizado no sistema de justiça.
Entre os cerca de 5.000 candidatos a mais de 840 cargos, foram identificados nomes como Francisco Hernandez, ex-magistrado afastado por suspeitas de corrupção e abuso sexual, e Fernando Escamilla, que prestou assessoria jurídica a membros do cartel Los Zetas. Ambos negam irregularidades e dizem confiar na avaliação dos eleitores.
“Deixem o povo julgar-me”, disse Hernandez à “Reuters”.
Outra candidata em destaque é Silvia Delgado, ex-advogada de Joaquín “El Chapo” Guzmán, chefe do Cartel de Sinaloa.
Delgado, agora a concorrer ao cargo de juíza criminal em Chihuahua, considera que representar legalmente o narcotraficante foi um dever profissional e nega qualquer envolvimento ilícito.
“Não sou corrupta. Representar alguém não é crime”, defendeu Delgado, sublinhando que a sua atuação se limitou ao âmbito legal.
Segundo a associação Defensorxs, pelo menos 20 candidatos têm ligações a crimes graves, incluindo ligações a cartéis ou condenações anteriores.
A reforma, aprovada em setembro de 2024, reduziu o número de juízes do Supremo Tribunal de 11 para 9, encurtou os mandatos, eliminou requisitos de idade e experiência e criou um novo tribunal disciplinar com apenas cinco membros para supervisionar um sistema judicial com cerca de 50 mil profissionais.
Para os críticos, como a associação de magistrados JUFED, esta eleição “coloca em risco a independência judicial” e poderá permitir que grupos criminosos influenciem decisões judiciais.
Apesar da polémica, o Instituto Nacional Eleitoral (INE) já afirmou que é tarde para excluir candidatos antes da votação. Se algum dos eleitos for considerado inelegível, será substituído pelo segundo classificado, desde que a investigação esteja concluída até 15 de junho.
“O que está a acontecer é perigoso”, alertou Juana Fuentes, diretora nacional da JUFED. “Há um risco sério de interesses criminais se infiltrarem no sistema judicial.”