09 jun, 2025 - 12:04 • José Pedro Frazão
O Presidente francês assume a liderança mediática da discussão dos Oceanos e como coanfitrião, com a Costa Rica, da terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos pontuou o seu discurso com indiretas aos Estados Unidos, politicamente ausentes de Nice enquanto ativamente avançam com a mineração em mar profundo e exploração em águas não apenas norte-americanas.
Macron defendeu que uma moratória sobre perfurações no fundo do mar é uma "necessidade internacional", lembrando que França faz parte de uma coligação com 33 estados a favor dessa pausa precaucionária.
"Não sou de forma alguma contra a atividade económica, muito pelo contrário. Mas acho uma loucura lançar ações económicas predatórias que irão perturbar as águas profundas, perturbar a biodiversidade, destruí-la e libertar sumidouros de carbono irrecuperáveis quando não sabemos nada sobre isso. É obscurantismo fazer uma exploração antes de iniciar investigações", denunciou Macron a partir da Conferência de Nice.
O chefe de Estado francês defende a necessidade de mais pesquisas científicas sobre o fundo do mar, a natureza das suas reservas de carbono e da biodiversidade ali presente.
"Esta luta é vital para todos nós. E digo isto aqui enfaticamente: os abismos não estão à venda, tal como a Gronelândia não está à venda. A Antártida ou o alto mar não estão à venda", afirmou Macron na abertura da Conferência dos Oceanos (UNOC 3).
Noutra referência indireta aos EUA, o Presidente de França defendeu que a "batalha pelos oceanos" só existirá se for baseada "numa ciência livre, aberta e colaborativa". Sublinhando a natureza livre da investigação científica, Macron fez a defesa dos cientistas contra o discurso político que nega as alterações climáticas. "O clima, tal como a biodiversidade, não é uma questão de opinião; é uma questão de factos cientificamente comprovados", afirmou Macron.
Macron começou o discurso a gritar vitória, uma "vitória por estarmos todos juntos aqui", uma "vitória sobre a inércia e a indiferença, sobre a degradação do nosso ambiente", contudo "uma vitória frágil, porque exige uma ação rápida e não pressupõe recuo".
Apesar dos barómetros digitais especializados não o confirmarem, o Presidente francês anunciou ter recolhido garantias de que poderão ser conseguidas mais do que as 60 ratificações necessárias para a entrada em vigor do Tratado do Alto Mar que regula as atividades em águas internacionais.
"Posso dizer neste momento que, para além das 50 ratificações já apresentadas, aqui mesmo nas últimas horas 15 países comprometeram-se formalmente a aderir, o que significa que o acordo político foi obtido, o que nos permite dizer que este tratado sobre o alto mar será devidamente implementado. Portanto, é uma vitória", declarou Macron na abertura da Conferência.
Nos objetivos de proteção marinha, Macron garantiu que 30% da sua zona económica exclusiva já está protegida. E sublinhou uma proteção acrescida de mais de quatro milhões de novos quilómetros quadrados na Polinésia Francesa, incluindo 900 mil quilómetros quadrados sob forte proteção.
A Conferência dos Oceanos da ONU que arrancou esta segunda-feira em Nice.