10 jun, 2025 - 09:58 • Reuters
Peritos das Nações Unidas afirmam num relatório, publicado esta terça-feira, que Israel cometeu o crime de “extermínio” contra a humanidade ao matar civis que se abrigavam em escolas e locais religiosos em Gaza, parte de uma “campanha concertada para obliterar a vida palestiniana”.
A Comissão Internacional Independente de Inquérito das Nações Unidas sobre os Territórios Palestinianos Ocupados, incluindo Jerusalém Oriental, e Israel deverá apresentar o seu relatório ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, no dia 17 de junho.
“Estamos a ver cada vez mais indícios de que Israel está a levar a cabo uma campanha concertada para destruir a vida dos palestinianos em Gaza”, afirmou em comunicado a antiga Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, que preside à comissão.
“O ataque de Israel à vida educativa, cultural e religiosa do povo palestiniano prejudicará as gerações actuais e vindouras, impedindo o seu direito à autodeterminação”, acrescentou.
A comissão examinou os ataques a instalações educativas e a locais religiosos e culturais para avaliar se o direito internacional foi violado.
Israel desligou-se do Conselho dos Direitos Humanos em Março, alegando que este era parcial.
Quando o último relatório da comissão, em março, concluiu que Israel tinha cometido “actos genocidas” contra os palestinianos ao destruir sistematicamente as instalações de cuidados de saúde das mulheres durante o conflito em Gaza, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu afirmou que as conclusões eram tendenciosas e anti-semitas.
No seu último relatório, a comissão afirmou que Israel destruiu mais de 90% dos edifícios escolares e universitários e mais de metade de todos os locais religiosos e culturais de Gaza.
“As forças israelitas cometeram crimes de guerra, incluindo ataques diretos contra civis e assassinatos intencionais, nos seus ataques a instalações educativas... Ao matarem civis que se abrigavam em escolas e locais religiosos, as forças de segurança israelitas cometeram o crime de extermínio contra a humanidade”, afirmou.
A guerra foi desencadeada quando militantes liderados pelo Hamas mataram 1.200 pessoas em Israel num ataque surpresa em outubro de 2023 e levaram 251 reféns para o enclave, de acordo com os registos israelitas.
Israel respondeu com uma campanha militar que matou mais de 54.000 palestinianos, de acordo com as autoridades sanitárias de Gaza.
Os danos causados ao sistema educativo palestiniano não se limitaram a Gaza, segundo o relatório, que cita o aumento das operações militares israelitas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, bem como o assédio a estudantes e os ataques de colonos.
“As autoridades israelitas também visaram os funcionários das escolas, professores e os estudantes israelitas e palestinianos dentro de Israel que manifestaram preocupação ou solidariedade para com a população civil em Gaza, o que resultou no seu assédio, despedimento ou suspensão e, em alguns casos, em prisões e detenções humilhantes”, afirma o relatório.
“As autoridades israelitas têm visado especialmente as educadoras e as estudantes, com o objetivo de dissuadir as mulheres e as raparigas de participarem no ativismo em locais públicos”, acrescentou a comissão.