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Trem de aterragem não recolheu e "provavelmente uma escolha de flaps errada". O que causou a queda do avião da Air India?

12 jun, 2025 - 18:56 • Pedro Mesquita

Comandante José Estima analisou as imagens e aponta várias hipóteses para o que terá causado o desastre aéreo com um Boeing, na cidade indiana de Ahmedabad. Até agora, já foram encontrados 290 mortos. Um passageiro sobreviveu.

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Comandante José Estima aponta cenários para o acidente com avião da Air India
Comandante José Estima aponta cenários para o acidente com avião da Air India

O piloto José Estima viu e reviu as imagens do desastre aéreo desta quinta-feira, na cidade indiana de Ahmedabad, que provocou pelo menos 290 mortos. O comandante da TAP há mais de 25 anos aponta várias possibilidades para o que aconteceu e exclui alguns cenários.

No curto intervalo de tempo entre a descolagem do aparelho e o momento em que se despenhou, este piloto experiente registou alguns pormenores a ter em conta, no apuramento das causas deste acidente com o Boeing 787 Dreamliner, da Air India. Desde logo o facto do trem de aterragem não ter sido recolhido, o que pode ter contribuído decisivamente para a perda de altitude do avião.

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José Estima exclui, à partida, um problema nos motores. Além da questão do trem de aterragem, o acidente poderá ter sido provocado por uma posição errada dos "flaps" ou por excesso de peso, mas só a investigação irá esclarecer o que verdadeiramente aconteceu.

Um total de 242 passageiros e tripulantes seguiam a bordo do avião da Air india, entre os quais sete portugueses.

Viu e reviu as imagens deste acidente com um Boeing 787 Dreamliner da Air India. Há algum pormenor que lhe tenha chamado a atenção?

Depois de ver as imagens com algum detalhe, variadíssimas vezes, há dois ou três pormenores que me saltam à atenção, pela experiência que tenho. Após a descolagem, a primeira das coisas que se faz é recolher o trem de aterragem. O trem de aterragem provoca imensa resistência ao avanço e a primeira coisa que se faz, em qualquer avião, é recolher o trem de aterragem, coisa que, nas imagens que analisei, nunca foi recolhido.

Outro dos pormenores que se vê é que o avião vai em linha reta, portanto, numa opinião muito pessoal e sem ter voado nunca este avião, mas já voei alguns aviões também com dois motores, um em cada lado, que é o caso destes, não há uma falha do motor. Porque, havendo uma falha de motor, há sempre um ligeiro entornar, usando um termo mais popular, um inclinar do avião. Ele não inclina o suficiente para haver uma falha de motor.

Eu sou mais levado a pensar, entre outros fatores, que podem ter sido outros: excesso de peso, cálculo de performance do próprio avião feita de uma forma errada, descolar de um comprimento de pista que não é o correto para o peso e para a temperatura e pressão daquele dia. Poderá haver variadíssimos fatores.

Quanto aos flaps, por exemplo, notou alguma coisa estranha?

À descolagem de um avião tem, normalmente, duas ou três posições standards, consoante a necessidade e as características que há a pouco referi: Peso, temperaturas, pressão do dia e do local onde estamos. Se nós, porventura, nos enganarmos a pôr a posição correta dos flaps, ou seja, os flaps vão aumentar a área da asa, provocando a sustentação que faz com que o avião suba, se nós pusermos um setting de flaps, ou seja, uma posição de flaps inferior, o avião indo para o ar depois tem muitíssima mais dificuldade em subir.

Avião com sete portugueses a bordo despenhou-se na Índia
Avião com sete portugueses a bordo despenhou-se na Índia

O aparelho, na altura em que começou a descer, não iria, creio eu, a mais de uns 200 metros de altitude...

Exatamente. O avião chegou, por aquilo que estive a analisar, aos 625 pés de altitude, o que dá ali por volta - números redondos - 190 a 200 metros. Descolou e foi embater imediatamente em frente.

Sou levado a achar que foi um problema de não recolherem o trem de aterragem com a rapidez que é necessário fazê-lo, em todos os aviões, e provavelmente uma escolha de flaps errada para descolar.

Não há registo, neste aparelho, de qualquer outro acidente anterior. Ainda assim, sei que quando foi lançado, por volta do ano 2011, quando voou as primeiras vezes, houve algumas avarias. Recordo-me, por exemplo, de problemas com as baterias de lítio...

Sim, este avião, como em todos os aviões, carros, tudo, como é normal quando está na fase de conceção tem os seus problemas que são corrigidos, e isto ainda em fábrica. Este avião depois quando aparece já a voar nos voos experimentais na própria Boeing e depois nas companhias, o problema maior que teve - e a frota teve toda a parada a nível mundial - foi exatamente o que acaba de dizer: Houve vários problemas de incêndios, provocados pelas baterias de lítio.

Mas isso estava já perfeitamente ultrapassado e, certamente, não teve nada a ver com este acidente?

Completamente ultrapassado e não tem rigorosamente nada a ver com este acidente. Uma das coisas que gostava também de dizer às pessoas, e eu já tive cargos também na associação de pilotos, é que tenham um pouco de calma, porque aquilo que estou a dizer poderá não ser 100% verdade.

Os relatórios em aviação são muito detalhados, muito pormenorizados, e dentro dos próximos 30 dias vai saber-se inicialmente o que é que se passou e depois, mais tarde, conheceremos a realidade, se foi uma falha mecânica, se foi uma falha humana, se foi um conjunto de vários fatores. É uma tragédia que temos todos que lamentar, mas sublinho que o avião continua a ser o meio de transporte mais seguro, e na realidade este é um avião seguríssimo, é um avião bastante bom. Agora só depois de saber o que é que vai acontecer é que vamos poder tirar as conclusões finais.

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