17 jun, 2025 - 14:31 • Ana Kotowicz
As culpas são para repartir, mas há um culpado que surge acima de todos os outros. Quando se fala do apagão ibérico, o dedo do Governo espanhol aponta para a Rede Elétrica, em primeiro lugar, e para as empresas privadas, em segundo.
Esta terça-feira, o Governo de Pedro Sánchez apresentou, em conferência de imprensa, as principais conclusões do relatório feito às circunstâncias que levaram ao apagão que deixou Portugal e Espanha sem energia a 28 de abril. Segundo a ministra espanhola para a Transição Energética, a principal causa foi um fenómeno de sobretensão. E o sistema foi incapaz de controlá-la.
Sara Aagesen deixou claro que o apagão não pode ser atribuído a uma única causa, mas frisou que também não se tratou de um evento fortuito. E responsabilizou a operadora estatal, a Rede Elétrica (empresa que se dedica ao transporte de energia) por criar uma matriz energética que se revelou incapaz de mitigar as falhas de energia.
Na véspera do apagão, esclareceu a ministra, a Rede Elétrica tinha previsto ter dez centrais termoelétricas em funcionamento, mas uma delas — cuja função é amortecer as flutuações de tensão — ficou indisponível. A opção da empresa, disse Sara Aagesen, foi "não substituir aquela central durante o horário de pico do dia". E isso levou o sistema elétrico espanhol a operar com "menor potência reativa do que em qualquer outro dia do ano", ou seja, estava numa posição vulnerável para fazer face a picos de energia.
Além disso, a ministra também implicou as empresas privadas: nenhuma das nove centrais ditas convencionais (a gás natural, nuclear ou a carvão) que deveriam estar a postos para amortecer o pico de 28 de abril reagiu como esperado. Segundo o relatório, todas elas reagiram "de forma insuficiente".
Depois de reconstituir o que se passou a 28 de abril, hora a hora, o Governo espanhol concluiu ainda que algumas das ações implementadas pela Rede Elétrica para controlar a escalada de tensão nos segundos anteriores à falha de energia agravaram o problema, em vez de suavizá-lo. Apesar disso, a ministra defendeu que a Rede Elétrica cumpriu os protocolos existentes que são de responsabilidade da Comissão Nacional de Mercados e Concorrência e do próprio Governo.