21 jun, 2025 - 11:13 • Reuters
O Paquistão anunciou este sábado que irá recomendar o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o Prémio Nobel da Paz, um galardão que ele próprio já afirmou desejar, pelo seu contributo na resolução do recente conflito entre a Índia e o Paquistão.
Alguns analistas paquistaneses disseram que esta iniciativa poderá levar Trump a reconsiderar a hipótese de se juntar a Israel num ataque às instalações nucleares do Irão. O Paquistão condenou as acções de Israel por violarem o direito internacional e representarem uma ameaça à estabilidade regional.
Em maio, um anúncio inesperado de Trump sobre um cessar-fogo pôs fim, de forma abrupta, a um conflito de quatro dias entre as potências nucleares Índia e Paquistão. Desde então, Trump tem afirmado repetidamente que evitou uma guerra nuclear, salvou milhões de vidas, e tem-se queixado de não receber qualquer crédito por isso.
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O Paquistão reconhece que a intervenção diplomática dos EUA pôs fim aos combates, mas a Índia afirma que se tratou de um acordo bilateral entre os dois exércitos.
O acordo acontece após semanas de confrontos desen(...)
“O Presidente Trump demonstrou grande visão estratégica e uma notável capacidade de estadista através de um envolvimento diplomático vigoroso com Islamabad e Nova Deli, que permitiu desanuviar uma situação que se deteriorava rapidamente”, declarou o Paquistão. “Esta intervenção é um testemunho do seu papel como verdadeiro pacificador.”
Os Governos podem nomear pessoas para o Prémio Nobel da Paz. Washington ainda não reagiu de forma oficial. Um porta-voz do governo indiano não respondeu ao pedido de comentário.
Trump já afirmou por diversas vezes estar disponível para mediar o conflito entre a Índia e o Paquistão em torno da disputada região da Caxemira, a principal fonte de tensão entre ambos. Islamabad, que há muito tempo apela à atenção internacional sobre a Caxemira, ficou satisfeito.
No entanto, esta posição veio abalar a política tradicional dos EUA na Ásia do Sul, que favorecia a Índia como contrapeso à China, e colocou em causa a relação anteriormente próxima entre Trump e o Primeiro-Ministro indiano, Narendra Modi.
Numa publicação nas redes sociais feita na sexta-feira, Trump listou uma série de conflitos que afirma ter resolvido, incluindo o da Índia e do Paquistão e os Acordos de Abraão, no seu primeiro mandato, entre Israel e vários países muçulmanos. Acrescentou: “Nunca receberei o Prémio Nobel da Paz, aconteça o que acontecer.”
A decisão do Paquistão de nomear Trump surgiu na mesma semana em que o chefe do exército paquistanês, Marechal de Campo Asim Munir, almoçou com o presidente norte-americano. Foi a primeira vez que um líder militar paquistanês foi convidado à Casa Branca estando um governo civil em funções em Islamabad.
O encontro previsto entre Trump e Modi na cimeira do G7 no Canadá, na semana passada, não aconteceu, depois de o presidente norte-americano ter saído mais cedo. No entanto, ambos falaram posteriormente por telefone, durante o qual Modi terá dito que “a Índia não aceita, nem aceitará nunca, mediação” no seu conflito com o Paquistão, segundo o governo indiano.
Mushahid Hussain, antigo presidente da Comissão de Defesa do Senado no parlamento do Paquistão, considerou que a nomeação de Trump para o Nobel da Paz é justificada.
“Trump é bom para o Paquistão”, disse. “Se isso alimenta o ego de Trump, que assim seja. Todos os líderes europeus têm andado a bajulá-lo descaradamente.”
Contudo, a medida não foi recebida com entusiasmo por todos no Paquistão, onde o apoio de Trump à guerra de Israel em Gaza tem inflamado os ânimos.
“O padrinho de Israel em Gaza e entusiasta dos seus ataques ao Irão não é candidato a prémio nenhum”, disse Talat Hussain, conhecido comentador político paquistanês, numa publicação na rede X. “E se daqui a uns meses voltar a beijar o Modi nas duas faces?”