05 jul, 2025 - 23:35 • Lusa
O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, reconheceu este sábado que o Governo e o Partido Socialista espanhóis vivem "dias difíceis" devido a suspeitas de corrupção, mas reiterou a intenção de prosseguir nos cargos e não se demitir.
"Estou plenamente consciente de que estão a ser dias difíceis para todos, sem dúvida alguma, para o Governo de Espanha e para a militância do partido", disse Pedro Sánchez, no arranque de uma reunião da comissão federal do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), em Madrid.
A reunião deste sábado do máximo órgão do PSOE entre congressos pretende mudar nomes na cúpula do partido e aprovar medidas para aumentar a transparência, prevenir e combater a corrupção dentro da estrutura e também castigar comportamentos machistas e o assédio sexual.
O Governo de Sánchez e o PSOE foram atingidos nas últimas semanas por polémicas e suspeitas de corrupção que, dada a dimensão, podem pela primeira vez colocar realmente em risco a sobrevivência política do primeiro-ministro, segundo a opinião unânime dos analistas e de vozes internas do partido socialista.
O último e maior golpe ocorreu na segunda-feira, quando o até há poucas semanas 'número três' do PSOE e um dos braços direitos de Sánchez, Santos Cerdán, ficou em prisão preventiva, num caso de suspeita de corrupção que envolve também um antigo ministro de Sánchez e ex-dirigente do partido, José Luis Ábalos.
Cerdán e Ábalos foram dois dos homens mais próximos de Sánchez na sua corrida à liderança do PSOE (que conquistou em 2014) e do Governo (tornou-se primeiro-ministro pela primeira vez em 2018). Santos Cerdán foi também o dirigente socialista que negociou a lei de amnistia com os independentistas catalães que possibilitou a reeleição de Sánchez como primeiro-ministro em novembro de 2023.
Na investigação policial foram ainda apreendidas gravações de conversas telefónicas de Ábalos com um assessor relativas a mulheres que Sánchez qualificou hoje como repugnantes e contrárias aos "princípios e valores" do PSOE e do Governo, que se define como feminista.
Sánchez afirmou estar "com o coração tocado", mas também como "a determinação intacta e a mesma vontade" de enfrentar "a adversidade", dizendo que as medidas hoje anunciadas deixam o PSOE preparado para enfrentar o novo ciclo eleitoral em Espanha, que arranca em 2025 com eleições autonómicas em Castela e Leão e na Andaluzia. A legislatura espanhola atual termina em 2027.
O primeiro-ministro de Espanha disse sentir a responsabilidade de continuar à frente do Governo porque a alternativa é uma "coligação de ultra direita" formada pelo Partido Popular (PP) e pelo Vox, que governam ou já governaram juntos nos últimos dois anos em municípios e governos regionais e levaram a cabo, realçou, cortes no estado social, nos direitos e liberdades, assim como políticas negacionistas das alterações climáticas.
Sánchez realçou, por outro lado, o bom desempenho da economia espanhola nos últimos anos e considerou haver reconhecimento internacional do trabalho do executivo a nível de política externa.
"Somos conscientes de que a deceção é grande, mas a responsabilidade de Espanha continuar a avançar é ainda maior", afirmou, depois de ter de novo pedido desculpas aos espanhóis e aos militantes socialistas por se ter enganado e depositado confiança em pessoas "que não mereciam".
Sánchez reiterou que o PSOE, como organização, não é corrupto e prometeu colaboração com a justiça em relação às suspeitas que envolvem os ex-dirigentes do partido.
O líder do PSOE está a enfrentar críticas dentro do próprio partido, com uma das de maior peso a ser a do presidente do Governo regional de Castela La Mancha, Emiliano García Page, que hoje, após o discurso de Sánchez na reunião da comissão federal do partido pediu para o primeiro-ministro se submeter a uma moção de confiança no parlamento que convoque eleições. "A crise atual, em termos de corrupção, é a mais grave" da história do PSOE, disse Emiliano García Page.
Espanha
Santos Cerdán, o número três do partido de Pedro S(...)
Já o PSOE anunciou este sábado que expulsará qualquer militante que recorra à prostituição, uma posição que surge após um alto representante ter sido preso por um caso que envolve prostitutas.
“Solicitar, aceitar ou obter um ato sexual de uma pessoa em troca de remuneração” será punido com “a sanção máxima, ou seja, a expulsão do partido”, anunciou o PSOE num comunicado divulgado este sábado por ocasião da reunião em Madrid de um comité federal do partido.
O secretário-geral do partido e primeiro-ministro, Pedro Sánchez, explicou que se os socialistas defendem “que o corpo de uma mulher não está à venda, não pode haver lugar” no partido para “qualquer comportamento contrário”.
A reunião do comité federal agendada para este sábado começou com atraso devido à demissão de Francisco Salazar, um colaborador próximo de Pedro Sánchez que deveria integrar a nova direção do partido.