15 set, 2025 - 17:33 • Redação com agências
A principal especialista das Nações Unidas para os direitos palestinianos, Francesca Albanese, acusou esta segunda-feira Israel de procurar tornar a Cidade de Gaza inabitável através da sua ofensiva sobre a maior área urbana do enclave, colocando em risco também a vida dos reféns israelitas. A relatora da ONU para os territórios palestinianos ocupados afirmou ainda que o número de mortos na guerra de Gaza é muito superior a 65 mil e pode rondar os 680 mil.
"Na verdade, devemos começar a pensar em 680 mil, porque este é o número que alguns académicos e investigadores apontam como a verdadeira cifra de mortos em Gaza", afirmou.
Albanese referiu que meios científicos especializados e até investigadores israelitas apontam para esta estimativa com base em cálculos sobre o nível de destruição no território e o número de pessoas que aparentam ainda viver ali. "Se este número se confirmar, 380 mil serão crianças com menos de 5 anos", sublinhou.
Face à intensidade dos bombardeamentos israelitas, que destruíram praticamente toda a Faixa de Gaza, "levará anos a verificar o número verdadeiro de vítimas e a recuperar os restos mortais desta catástrofe, como aconteceu na Bósnia", acrescentou a relatora, uma das primeiras figuras públicas a afirmar que está a ser cometido um genocídio em Gaza.
“Israel está a bombardear com armas não convencionais... está a tentar deslocar à força os palestinianos. Porquê? Porque esta é a última parte de Gaza que precisa de ser tornada inabitável antes de avançar com a limpeza étnica desse pedaço de terra”, disse Albanese em conferência de imprensa em Genebra.
A Missão Permanente de Israel junto da ONU rejeitou as declarações. “As suas inúmeras afirmações demonstram a sua disposição para ir a extremos na deslegitimação do Estado de Israel”, afirmou em comunicado. “Segundo ela, o Hamas não se entrincheira em infraestruturas civis, não utiliza cinicamente civis como escudos humanos e, em geral, praticamente não existe.”
A advogada italiana acusou Israel de genocídio e afirmou que a comunidade internacional é cúmplice. “A ofensiva em curso para tomar o último reduto de Gaza não devastará apenas os palestinianos, mas colocará igualmente em perigo os reféns israelitas ainda detidos”, disse.
Albanese foi sancionada pelos Estados Unidos devido à sua posição e, entre outras restrições, não pode viajar a Nova Iorque para apresentar o seu relatório à Assembleia-geral da ONU, salvo se obtiver uma isenção de última hora.
Relativamente à Cisjordânia, Albanese sustentou que a população enfrenta uma "pressão intensificada", com mais de mil palestinianos mortos desde o início da guerra entre o Hamas e Israel, incluindo 212 crianças, além do aumento de assassínios seletivos, da destruição de campos de refugiados e do deslocamento forçado de 40 mil civis.