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Venezuela

A dissidente venezuelana com raízes portuguesas. Quem é a Nobel da Paz María Corina Machado?

10 out, 2025 - 19:15 • Redação, com Reuters

Líder da oposição afirmou ter provas de que Nicolás Maduro não venceu as últimas eleições e, desde julho do ano passado, vive escondida "devido a sérias ameaças à vida", afirmou o Comité Nobel.

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A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, recebeu esta sexta-feira o Prémio Nobel da Paz. É, segundo o Comité Nobel Norueguês, "um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos".

Mereceu-o pelo "trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia", afirmou o comité.

Corina Machado, a opositora política com raízes portuguesas

Formada em Engenharia Industrial e especialista em Finanças, María Corina Machado, de 58 anos, nasceu em Caracas, Venezuela. O último apelido é uma herança "de uma família de Portugal, com já vários séculos na Venezuela", partilhou em entrevista à agência Lusa em 2023.

É filha de um empresário na indústria siderúrgica e de uma psicóloga e cresceu, por isso, num berço de classe alta – origens que são ativamente alvo de críticas por parte do partido socialista que governa a Venezuela.

A família empreendedora da "dama de ferro", nome inspirado no negócio da família, que também era a alcunha da antiga primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, inspirou-lhe a olhar para o mercado de trabalho com uma visão liberal da economia, defendendo o mercado livre.

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Enquanto trabalhava na empresa de aço e outros metais da família, a Venezuela vivia uma profunda crise política durante o Governo de Hugo Chávez e Corina Machado fundou o grupo civil "Súmate". Recolheu mais de quatro milhões de assinaturas para o referendo revogatório contra o antigo Presidente, em 2004.

O Governo chavista acusou-a de receber financiamento estrangeiro e conspirar contra o Estado. María Corina Machado negou sempre estas acusações, mas esta experiência assinalou o seu primeiro passo no teatro político como opositora às forças principais.

Como a líder da oposição caminhou até à política?

O negócio familiar foi expropriada pelo Governo de Hugo Chávez em 2010 e, dois anos depois, Corina Machado candidatou-se pela primeira vez nas primárias da oposição para enfrentar o antigo Presidente. Henrique Capriles acabou por liderar a oposição nestas presidenciais e Chávez foi reeleito.

"Vente Venezuela", um partido político de orientação liberal, foi fundado pela opositora em 2013. A liderança de Machado distinguiu-se por uma rejeição absoluta ao modelo socialista e recusava qualquer diálogo com Nicolás Maduro, eleito presidente da Venezuela desde 2013.

Em 2023, lançou-se novamente como candidata à presidência e venceu com 93% dos votos nas primárias da oposição na Venezuela, um total de dois milhões de votos. Fez uma campanha estratégica pelas cidades mais pequenas, por vezes a pé, e aproximou-se das comunidades, somando apoiantes com grandes multidões nos comícios.

Corina Machado foi impedida de se candidatar à presidência, porque o Supremo Tribunal da Justiça proibiu-a de ocupar cargos públicos durante 15 anos, a partir de janeiro de 2024. Contudo, não se deixou intimidar e continuou a ter influência política para além de qualquer cargo formal.

Machado afirmou ter provas de que a vitória de Maduro nas eleições de julho de 2024 é fraudulenta, apesar do Conselho Nacional Eleitoral de Venezuela ter proclamado Maduro como vencedor com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González, candidato da oposição apoiado por Machado.

Até ao momento, não foi apresentado o resultado da contagem final ou atas ou outros documentos, apesar da insistência de vários políticos e figuras da comunidade política internacional, e até governos latino-americanos.

Vários países, incluindo os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia não reconhecem o Governo de Maduro como legítimo.

"Maduro não venceu as eleições presidenciais venezuelanas no domingo. Perdeu para uma vitória esmagadora de Edmundo González, 67% a 30%. Eu sei que é verdade", declarou ao jornal norte-americano "The Wall Street Journal", a 1 de agosto de 2024.

A desconfiança de fraude eleitoral foi partilhada por milhares de populares que organizaram múltiplos protestos de rua, por vezes violentos contra a vitória de Maduro.

Os confrontos causaram, pelo menos, 11 mortes, centenas de feridos e a forças policiais capturaram mais de 1.200 manifestantes.

Para as figuras próximas da Nobel da Paz, esta foi uma tentativa de golpe de Estado e pediu-se a prisão María Corina Machado e de Edmundo González por instigarem a violência.

Nobel na clandestinidade

Desde a última proclamação de Maduro, a líder da oposição vive escondida na Venezuela "devido a sérias ameaças à vida", confirmou o presidente do Comité Nobel, Jørgen Watne Frydnes. Até os três filhos de Corina Machado vivem fora da Venezuela por razões de segurança devido ao ambiente de tensão política.

"Escrevo escondida a temer pela minha vida, liberdade e a dos meus compatriotas da ditadura liderada por Nicolás Maduro", lamentou ao "The Wall Street".

O Nobel da Paz entregue esta sexta-feira reconheceu, assim, o percurso de María Corina Machado por hastear a bandeira venezuelana a uma luta pacífica pela democracia.

Numa publicação na rede social X, o Comité do Nobel elogia o percurso de Machado: "A democracia depende de pessoas que se recusam a ficar em silêncio, que ousam avançar apesar dos graves riscos, e que nos lembram que a liberdade nunca deve ser dada como garantida, mas deve ser sempre defendida – com palavras, coragem e determinação."

Esta "máfia criminosa", como Machado apelida ao governo, também já deteve e forçou a abandonar o país quase todos os seus principais conselheiros.

Edmundo González procurou refúgio diplomático após alegar que poderia ser preso ou torturado caso permanecesse na Venezuela e, desde setembro de 2024, vive em Madrid, Espanha.

Machado confessou que conversa frequentemente com González sobre a "luta pela liberdade". Ainda sonha com uma Venezuela livre de Nicolás Maduro e erguida por reformas económicas liberais, programas sociais para os mais pobres e a privatização de empresas estatais.

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