04 nov, 2025 - 17:48 • Reuters
O mundo está longe de atingir a principal meta de combate às alterações climáticas — limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius —, e vai provavelmente ultrapassar esse limite na próxima década, afirmou esta terça-feira o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP).
O relatório anual "Emissions Gap" afirma que, devido à lentidão dos países em reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, que aquecem o planeta, é claro que o mundo ultrapassará a meta principal do Acordo de Paris de 2015 — pelo menos temporariamente.
O Acordo de Paris de 2015 compromete os países a limitar o aumento da temperatura média global a 2°C acima dos níveis pré-industriais (definidos pelas temperaturas médias entre 1850 e 1900) e a ter como meta 1,5°C.
No entanto, segundo o relatório, os últimos compromissos dos governos de reduzir as emissões no futuro, se cumpridos, levam o mundo a enfrentar um aquecimento de 2,3 a 2,5 °C.
Isso representa um aquecimento cerca de 0,3°C menor do que a projeção da ONU em 2024, indicando que os novos planos de redução de emissões anunciados este ano por vários países, incluindo a China — maior emissora de CO2 — não conseguiram diminuir substancialmente essa diferença.
Crise climática
Aquecimento global "poderá desencadear perturbaçõe(...)
"Será difícil reverter essa situação [de ultrapassar a meta de emissões], o que exigirá reduções adicionais mais rápidas e significativas nas emissões de gases de efeito de estufa para minimizar a ultrapassagem desse limite", afirma o relatório.
A autora principal do relatório, Anne Olhoff, considera que cortes profundos nas emissões, realizados agora, podem adiar o momento em que a ultrapassagem ocorrer, "mas não podemos mais evitá-la completamente".
Em setembro, a China prometeu reduzir as emissões do país em 7 a 10%, em relação ao pico atingido, até 2035. Segundo vários analistas, o país tende a estabelecer metas modestas e a superá-las.
Os resultados aumentam a pressão sobre a COP30, a cimeira climática da ONU que acontece este mês, onde os países vão debater como impulsionar e financiar ações mais rápidas para conter o aquecimento global.
As metas de temperatura do Acordo de Paris foram baseadas em avaliações científicas de como cada aumento no aquecimento global intensifica ondas de calor, secas e incêndios florestais. Por exemplo, um aquecimento de 2°C mais que duplica a parcela da população exposta ao calor extremo, em comparação com 1,5°C. Um aquecimento de 1,5°C destruiria pelo menos 70% dos recifes de coral, contra 99% com 2°C.
As políticas atuais — aquelas que os países já implementaram — levariam a um aquecimento ainda maior, de cerca de 2,8°C, segundo a UNEP.
O mundo fez alguns progressos. Há uma década, quando o Acordo de Paris foi assinado, o planeta estava a caminho de um aumento de temperatura de cerca de 4°C.
Mas as emissões de CO2, que retêm calor, continuam a aumentar, à medida que os países queimam carvão, petróleo e gás para impulsionar as economias.
As emissões globais de gases de efeito de estufa aumentaram 2,3% em 2024, atingindo o equivalente a 57,7 gigatoneladas de CO2.