14 jan, 2025 - 12:03 • Liliana Monteiro
Terá sido o dinheiro a levar alguns portugueses a juntarem-se a extremistas na Síria, no Iraque e noutros países. Esta é, pelo menos, a convicção dos órgãos de investigação portugueses.
O coordenador de investigação na Unidade Nacional Contra Terrorismo da Polícia Judiciária, António Alves da Cunha, avançou esta explicação durante uma formação dirigida a magistrados e futuros magistrados no Centro de Estudos Judiciários (CEJ).
"Há muitas pessoas radicalizadas ideologicamente e que depois nunca tiveram intenção de praticar atos terroristas, assim como já encontrámos terroristas que não estavam radicalizados ideologicamente, movia-os sobretudo a possibilidade de ganharem dinheiro.”
“Aos nossos combatentes, o que os moveu inicialmente foi deslocarem-se para a Síria para ganharem dinheiro e a radicalização veio a posteriori", precisa.
Sobre o crime de terrorismo, Alves da Cunha, sublinhou a dificuldade de o investigar. "Muitas vezes, as notícias de crime, quando chegam, não são percetíveis, o objetivo terrorista não aparece definido. Abrimos inquérito e não abrimos por terrorismo, não sabemos se é de ameaça, instigação à prática de crime, instigação ao ódio ou tentativas até de homicídio..."
alerta procuradora do DCIAP
Radicalizados são cada vez mais jovens e não estão(...)
Nesta intervenção captada pela Justiça TV, António Alves da Cunha garantiu que qualquer indício ou suspeita são sempre levados muito a sério. "Levamos sempre muito a sério toda e qualquer ameaça."
"A maior parte das ameaças surgem pela internet e redes sociais e têm de ser trabalhadas. No dia em que desvalorizarmos uma ameaça se calhar é nesse dia que vai acontecer alguma coisa",acrescentou.
O coordenador da PJ recordou mesmo um caso recente daquilo que se pensava ser a tentativa de ataque na Faculdade de Ciências de Lisboa, em setembro de 2023, para sublinhar a preparação que estava montada.
Regresso de famílias de extremistas
Ministério Público alerta para possível regresso a(...)
"Na véspera, nós observamo-lo a adquirir determinadas armas e produtos inflamáveis e supusemos que no dia seguinte, como ia à Universidade, ia fazê-lo. Obviamente que nós nesse dia estávamos a acompanhá-lo, havia membros a um metro de distância e se alguma coisa se tivesse desencadeado nesse dia nós tínhamos agido", revelou.
À semelhança da procuradora Claudia Oliveira Porto, também presente na formação do CEJ, que alertou não só para o regresso das famílias de extremistas portugueses como para a idade mais nova dos radicalizados, também António Alves da Cunha falou dos jovens: "Um estudo publicado em 2019 pela Europol, que abrangeu 88 atentados ou ataques frustrados entre 2015 e 2018, observou que 16% dos autores eram menores.”
“Relatórios do Centro de Prevenção do Extremismo e Terrorismo da Alemanha tem chamado à atenção para a radicalização dos jovens e tem concluído que estão radicalizados numa idade cada vez menor, idades entre os 14 e 15 anos", acrescentou.