22 jan, 2025 - 09:43 • Redação
Mais de mil consultas terão sido canceladas, sem previsão de nova data, no Hospital Amadora-Sintra, na sequência da demissão em bloco de dez médicos cirurgiões — situação que ocorreu no início de janeiro. A acusação foi feita por um dos sindicatos afetos à FNAM que afirma que esta situação no Hospital Fernando Fonseca coloca em risco os cuidados cirúrgicos a mais de 500 mil habitantes da região, bem como o acompanhamento de doentes oncológicos.
O hospital nega estas acusações e acusa o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS-FNAM) de "desconhecimento da situação", além de "afetar a credibilidade e o bom nome da Instituição, que serve quase 600 mil utentes".
O caso não é novo. A saída de 10 cirurgiões aconteceu no início de janeiro devido ao regresso de dois outros médicos que tinham denunciado más práticas no serviço, que não se confirmaram. A Ordem dos Médicos analisou 18 casos denunciados e identificou apenas uma "má opção cirúrgica". Os médicos que apresentaram as denúncias foram suspensos, por suspeita de acesso indevido a processos clínicos e dados dos doentes. Quando regressaram ao serviço, os dez cirurgiões apresentaram a demissão.
No comunicado, o sindicato aponta que a demissão acontece "na sequência de uma situação de assédio laboral por parte de dois médicos do serviço" e condena firmemente o assédio laboral praticado por dois médicos, "um deles antigo diretor de serviço, que gerou um ambiente de instabilidade".
Na semana passada, e devido à saída daqueles médicos, a Ordem dos Médicos considerou que o Hospital Fernando Fonseca está sem condições para assegurar a formação dos 10 médicos internos de formação específica. No entanto, o presidente da ULS Amadora-Sintra contestou o relatório e assegurou ter condições para garantir a formação dos internos, garantindo que a situação se alterou, tendo sido contratados 12 médicos para o serviço de urgência, oito dos quais especialistas em cirurgia geral.
Esta quarta-feira, o SMZS-FNAM voltou a denunciar a situação e acusa o Conselho de Administração da ULS Amadora/Sintra e o Ministério da Saúde de, apesar das repetidas denúncias, "não terem tido qualquer intervenção" capaz de resolver o problema. "Esta inércia revelou-se fatal para a manutenção de um serviço fundamental, privando a população destes dois concelhos do acesso a cuidados cirúrgicos."
Na resposta ao sindicato, a ULS Amadora/Sintra desmente os factos descritos: "O caso reportado no Comunicado do SMZS-FNAM, referente a denúncias de assédio laboral, remonta a 2022, sendo anterior à entrada do atual Conselho de Administração. O então Conselho de Administração instaurou um processo de inquérito com base nas denúncias, do qual não foi apurada nenhuma situação de assédio laboral mencionada no Comunicado do SMZS-FNAM, comprovada pela inexistência de processos disciplinares nessa sequência."
Já a presidente da Federação Nacional dos Médicos, Joana Bordalo e Sá, diz à Renascença que se trata de uma "situação grave" de assédio laboral. "O Ministério da Saúde sabia da situação e nada fez para a resolver", acusa. Segundo Joana Bordalo e Sá, houve "uma espécie de perseguição" que levou os dois médicos em causa a estar temporariamente num processo de mobilidade, noutra unidade de saúde. "Mas o seu regresso, no final do ano passado, fez com que a esmagadora maioria do serviço" mostrasse o seu descontentamento e que pedisse a demissão.
"É uma perda enorme e sem precedentes numa unidade do SNS, que não deveria acontecer", sublinha a dirigente sindical, lembrando que a situação em causa levou à retirada da idoneidade formativa dada pela Ordem dos Médicos, "obrigando à saída imediata de dez médicos internos de Formação Específica e dos internos de Formação Geral" para outras unidades de saúde.
Desta forma, "fica muito difícil conseguir prestar o serviço à população", porque "as equipas cirúrgicas, de urgências, as que fazem as cirurgias programadas e as consultas estão completamente destruídas".
Contas feitas pelo Sindicato de Médicos da Zona Sul, que pertence à FNAM, ficam em risco os cuidados cirúrgicos a mais de 500 mil habitantes da região, servidos pelo Hospital Amadora-Sintra.
Acrescenta a presidente da FNAM que "mais de mil consultas foram canceladas, sem previsão de nova data, afetando também o acompanhamento de doentes oncológicos".
Joana Bordalo e Sá lamenta que o Conselho de Administração da ULS Amadora/Sintra e o Ministério da Saúde não tenham tido qualquer intervenção capaz de resolver o problema, e adianta que "para os médicos internos será necessária a sua reafectação noutra unidade de saúde, que possa garantir a sua formação".
Quanto à população, "a responsabilidade tem de ser pedida ao Ministério de Ana Paula Martins".
(Notícia atualizada com a posição do Amadora Sintra às 19h39)