04 jun, 2025 - 11:00 • Redação
A 9ª edição do festival "TAN TAN TANN" - Festival de Artes Performativas Contemporâneas - realiza-se nos próximos dias 6 e 7 de junho, na Tanoaria Josafer, um dos mais antigos espaços industriais ainda em atividade no concelho de Ovar, em Esmoriz.
A iniciativa resulta do esforço conjunto entre a companhia Imaginar do Gigante e a Câmara de Ovar, enquanto entidade organizadora/promotora do evento.
O diretor artístico do festival, Pedro Saraiva, diz à Renascença que o fator diferenciador deste festival é o realizar-se numa tanoaria em funcionamento, sendo que já existem poucas no país.
"Esta tem a particularidade de ainda manter a sua traça original, desta arte ancestral que é a de fazer os barris e, depois, porque junta no mesmo local os jovens, ou seja, este é um festival para jovens que possam participar numa fusão entre o antes, o agora e o depois - sempre numa perspetiva de futuro, mas, acima de tudo, numa fusão entre dois mundos", afirma .
O nome "TAN TAN TANN" pode ser intrigante, mas tem um significado - uma onomatopeia que espelha o som de martelos, numa tanoaria.
"Para fazer uma pipa, é necessário ela estar no fogo e que seja martelada. Se entrar numa tanoaria que trabalhe de uma forma tradicional, o que se ouve mais é constantemente esse som do 'tan-tan-tan'. Inclusivamente também é o som que origina a sílaba 'tan', de 'tanoeiro', de 'tanoaria'. Então, aproveitámos esses vocábulos para que pudesse ser o nome do festival e acaba por estar todo relacionado com o espaço", explica o diretor artístico.
Sendo um festival que tem como objetivo trazer projetos artísticos que não tenham muito palco, a direção acaba por apostar em projetos emergentes e que não sejam muito conhecidos pelo público. Assim, "sendo um projeto internacional, a ideia é que possa haver essa mistura e voltemos à base do festival que é misturar as pessoas mais antigas com as pessoas mais novas", relata Pedro Saraiva.
"Na programação artística também se compadece esse sentido de trazer projetos inovadores que possam ser híbridos com o antigo", acrescenta, dando ainda o exemplo do artista Carlos Raposo, que é português e que vai levar a viola campaniça com música eletrónica.
Na edição deste ano há propostas que chegam não só de Portugal, como também de França ou até da Venezuela.
O dia 6 começa com a atuação de uma companhia oriunda de França, "com uma incursão pelo binómio máscara e teatro físico através do DÍRTZTHEATRE", que irá apresentar "Alias", uma apresentação que navega pelo domínio do psicossomático e os seus mistérios.
Este espetáculo revela um homem que tenta libertar-se das suas diversas camadas, das suas amarras e que parte com o intuito de encontrar o eu com o "outro", que também habita no seu próprio corpo e que urge como descoberto. Nesta performance é notório o desejo emergente em filosofar.
"Uma cabeça, um corpo e um ego (tirânico e desajeitado) fustigados por uma dimensão existencial marcada pelo caos. Nesta “anatomia complexa” do ser(-se) há, ainda assim, ombros capazes de aguentar, de suportar, o peso da existência", anuncia o comunicado.
Em mote sequencial, Carlos Raposo apresentará uma combinação entre géneros que parecem distintos, mas que não o são - a junção entre a Viola Campaniça e a música eletrónica. Esta proposta nada mais é que uma simbiose entre a música tradicional portuguesa, com referências a música folk e o fado, bem como as guitarras de Carlos Paredes, e a música eletrónica, sustentada por clássicos dos anos 70 e 80.
Proveniente de terras gaulesas, chega a Esmoriz CIE JUSCOMAMA, com uma abordagem da tipologia objetos e teatro visual. "Cara a cara, duas silhuetas estranhas observam-se. A fantasia abunda, as intérpretes com as cabeças envoltas em cubos pretos, desfilam sob o giz: um céu estrelado, uma cidade a preto e branco, um pássaro colorido ou rostos que exprimem múltiplas emoções…".
Num jogo entre máscaras e o teatro de objetos, vai-se desenvolvendo uma narrativa, sendo uma viagem interpretada pelas atrizes Justine Macadoux & Coralie Maniez.
Depois, segue-se outro duo, mas desta vez com origem venezuelana. ARIANNA Y KAUÊ é a aposta nas canções de família, tempo e emoção.
Em permanência, do início ao fim do festival, podem contar com "A Ilusão", de autoria de Paula Moita. Nesta proposta, o público é convidado a embarcar numa viagem onde é posta à prova a visão sobre a realidade e o que é mera aparência. "Com recurso a uma experiência interativa visual e sonora, é revelada a forma como a mente humana lê e interpreta o mundo à sua volta, moldada por opiniões ou expectativas internas e externas, sob a influência das redes sociais e condicionada pela fugacidade da vida", pode ler-se no comunicado.
Apesar de não ser um festival muito comum, a principal dificuldade que o projeto enfrenta é o facto da capacidade se esgotar depressa. Não sendo um festival de massas, Pedro Saraiva diz que a organização tem que pensar num novo formato de forma a estender no tempo, com o intuito de que "mais pessoas possam usufruir do evento".
"Tem ficado muita gente na entrada. Há pessoas que acabam por sair mais cedo e então deixamos entrar quem está à espera, mas essa é a maior dificuldade porque o festival, inclusive, faz parte das festas da cidade de Esmoriz e que foi ganhando dimensão dentro também deste enquadramento e do panorama dos festivais contemporâneos, das artes performativas e acaba por ter esta fluência que é ótimo, estamos muito felizes por isso", acrescenta.
Segundo Pedro Saraiva, ideia do festival é que o espaço da tanoaria possa ser um espaço museológico, que seja dinâmico e interpretativo e que possa ser um lugar para artistas e para fluir com outras linguagens. Além disto, o responsável salienta a importância de demonstrar o que é uma tanoaria, uma vez que muitos jovens não sabem, mas quando ali chegam ficam espantados e até entusiasmados com a emblemática do espaço.
O festival é gratuito, mas as pessoas têm de reservar bilhetes, já que o espaço só tem capacidade para 80 pessoas por noite - por ser numa "fábrica que tem as suas nuances de máquinas e de objetos de labor".
A reserva dos bilhetes pode ser feita através do contacto telefónico com a Câmara Municipal ou com a Imaginar do Gigante, e a abertura de portas inicia-se às 21h30, com o início dos espetáculos marcados para as 22h00.