04 jun, 2025 - 07:00 • Alexandre Abrantes Neves
O número vítimas de violência doméstica que pediram ajuda à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) cresceu, nos últimos quatro anos,perto de 30%, em grande parte, graças à maior presença das guerras e da violência no espaço mediático e também aos confinamentos provocados pela pandemia.
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A análise divulgada esta quarta-feira pela instituição aponta que, entre 2021 e 2024, o número de pedidos de ajuda subiu 29,3%, totalizando 43.110 vítimas apoiadas.
Em declarações à Renascença, Daniel Cotrim, da APAV, assinala que há cada vez mais jovens a sofrer com violência dentro da própria casa e com agressões cada vez mais graves.
“A dimensão da gravidade da violência doméstica aumentou, ela é diferente. Falamos de pessoas cada vez mais jovens a pedirem ajuda, estamos a falar, sobretudo, de mulheres entre os 26 e os 55 anos de idade [44,5%]. As pessoas agressoras são também pessoas relativamente jovens, entre os 26 e os 55 anos de idade”, clarifica.
Desde 2021, os casos que chegaram à instituição também mostram que as vítimas fazem a denúncia cada vez mais cedo – entre dois a quatro anos desde o primeiro momento de agressão –, provavelmente, devido ao facto de “as pessoas estarem mais sensibilizadas e informadas para a realidade da violência doméstica”.
Reportagem
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Entre as razões para estes números, estão, uma vez mais, a “desigualdade estrutural” entre homens e mulheres e a “perpetuação de dinâmicas de controlo” nas relações amorosas, mas não só.
Parte da análise abrange anos de pandemia e com confinamentos, momentos de stress e ansiedade e nos quais os casais foram obrigados a passar mais tempo juntos. Além disso, aponta Daniel Cotrim, a banalização da violência e das guerras também pode ajudar a ler estes dados.
“Há um conjunto de situações de guerras relativamente perto, como o conflito no Medio Oriente e a guerra na Ucrânia. É como se também houvesse aqui alguma dessensibilização das pessoas relativamente à violência e como se, neste momento, a violência fizesse parte da vida das pessoas”, sugere.
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Já sobre o tipo de violência, Daniel Cotrim alerta que os agressores utilizam cada vez mais as redes sociais para prolongar a violência que começa em casa, através de “cyberbullying” e “stalking digital”.
“A violência doméstica é um crime que vai evoluindo, da mesma forma que vão evoluindo as diferentes formas de estarmos uns com os outros e de comunicarmos”, esclarece.
Entre os agressores, os homens voltam a ser maioritários e provocam 70,5% dos casos de agressão, sendo que as situações mais recorrentes voltam a acontecer dentro de relações amorosas (33,6%, somando os casos dentro do matrimónio com os das restantes relações amorosas). Logo a seguir, surgem as ocorrências entre ex-companheiros e os casos em que os pais agridem os filhos, ambos com 12,1%.
A APAV foi criada em 1990 e, desde aí, tem-se dedicado a apoiar vítimas de vários tipos de violência, incluindo violência doméstica. Em 2024, morreram 22 pessoas vítimas de violência doméstica em Portugal, 19 das quais mulheres.