26 ago, 2025 - 07:34 • Rita Vila Real
"O alojamento é um problema porque está a tornar o Ensino Superior, em vez de um instrumento de mobilidade social, um reprodutor das desigualdades pré-existentes", lamenta Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto, que falou com a Renascença sobre as dificuldades dos estudantes na oferta de alojamento acessível.
Na cidade do Porto, a disponibilidade de camas para estudantes deslocados está ainda mais limitada "devido às obras que inúmeras residências estão a sofrer". As soluções para quem escolheu a cidade para estudar estão no mercado privado, que a FAP denuncia praticar "preços exorbitantes". "O preço médio [de um quarto] no Porto é de 450 euros e muitas vezes - ou até na maioria das vezes -, sem contrato, recibo ou fatura, o que impede também os estudantes de usufruírem de qualquer apoio social".
O presidente da FAP refere que, desde 2018, foram prometidas "15 mil novas camas" para estudantes universitários distribuídas por todo o país, mas tudo não passa de "promessas feitas, concretizações adiadas". "Falta pouco menos de um ano para termos de ter cumprido os timings do PRR e continuamos apenas com 10% de execução", lamenta Francisco Porto Fernandes, que não atribui só culpas aos "governos do PS e PSD". "A culpa também é muito das instituições de Ensino Superior", aponta Porto Fernandes, que acredita que estas "também têm de ser responsabilizadas por esta inércia no aumento do número de camas públicas ou de camas a preço acessível para os estudantes".
"As instituições de Ensino Superior têm o primeiro objetivo de transferir conhecimento, mas também têm de ter como missão a igualdade de oportunidades", defende o presidente da FAP, que denuncia que as instituições "não têm tido uma prioridade para aumentar a sua oferta de alojamento". "No ano passado, o Governo abriu uma linha de financiamento para contratualizar camas com privados do setor social. Aqui no Porto houve uma instituição que aumentou 15% a oferta, o que é excelente, e houve outra que contratualizou um total de zero camas".
Para fazer face às desigualdades no acesso à habitação, a FAP inaugurou, em 2023, uma residência académica, e promete não ficar por aí. "Através dos lucros da Queima das Fitas temos tentado diminuir o impacto da crise do alojamento e, este ano, vamos inaugurar mais uma residência com mais 24 camas".
Francisco Porto Fernandes acredita que a diminuição no número de estudantes do secundário que se candidatou ao Ensino Superior este ano (67% do total de alunos face a 61% no ano anterior) pode também estar relacionada com estes (e outros) "fatores sociais". "Penso que aqueles seis por cento não o fazem por motivos sociais, nomeadamente os custos que envolvem estudar no Ensino Superior, acima de tudo o alojamento".
"É preocupante alguns responsáveis de instituições" atribuírem a diminuição de inscritos ao modelo de acesso", admite. "Os estudantes portugueses são bons, os jovens portugueses são bons, são interessados, não é pela dificuldade do modelo de acesso que há mais ou menos estudantes candidatos", remata.