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Reportagem Renascença

Greve no Metro: "Dá muito jeito. Mas é quando não há greve"

11 set, 2025 - 10:25 • João Cunha

Segundo dia de greve parcial no Metro marcado por trânsito intenso nos acessos à cidade, autocarros e elétricos da Carris cheios e tarifas de TVDE ao dobro do habitual.

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O corre-corre na estação intermodal do Cais do Sodré é o de sempre. Centenas de passageiros, vindos de barco da margem sul do Tejo, chegam ao mesmo tempo que outras centenas de passageiros acabados de chegar da linha ferroviária de Cascais.

Os dois magotes de gente juntam-se, mas, ao contrário do que se passou na passada terça-feira, já não dão de caras com o portão de acesso ao Metropolitano, fechado devido à paralisação parcial greve.

Mas houve exceções: houve quem não soubesse da greve, ainda que fosse o segundo dia de paralisação esta semana. Como Cândida Rodrigues, que espeta o dedo no vidro atrás do qual está um mapa da rede de carreiras da Carris, para perceber como vai fazer para chegar ao seu destino.

"Eu tenho uns exames a fazer e tenho de ir a Entrecampos. Mas como o 36 agora não sai daqui, tenho de apanhar o elétrico até à Praça da Figueira e ir a pé até ao Rossio, para apanhar esse autocarro", explica, dando a entender que conhece a fundo a rede da Carris.

"Aprendi à custa das greves no Metro, para não ficar descalça. O Metro dá muito jeito, mas é quando não há greve."

A fila para o autocarro vai aumentando, assim como os protestos de quem se queixa de alguns autocarros que já chegam cheios ao Cais do Sodré. A fila única onde todos esperam, que por vezes já entra na estação ferroviária, serve para apanhar uma das oito carreiras de autocarros e elétricos, o que induz em erro os mais distraídos, que acabam por ver partir o autocarro que queriam apanhar.

Mesmo o que apanham, por exemplo, um autocarro para ir para a Gare do Oriente, têm de preparar-se para quase uma hora de viagem, tal o trânsito.

Há depois os que não arriscam, sequer, ir de autocarro, e mesmo com trânsito, optam por um Uber. Mesmo percebendo, quando o chamam, que a tarifa em vigor é bem acima do habitual. Pelo menos no trajeto até à Gare do Oriente.

Fila para autocarros e elétricos da Carris   Foto: João Cunha/RR
Fila para autocarros e elétricos da Carris   Foto: João Cunha/RR

"É lei da oferta e da procura", explica Catarina Soares, que veio de Belém de comboio e que lá está, junto ao rio no Cais do Sodré, à espera. Na mão tem uma caixa de papelão com uma pega e uma janela, coberta de acrílico, através da qual se consegue ver, no interior, um bolo de aniversário branco, com um enorme 3 a azul.

"Eu faço bolos e hoje vim fazer uma entrega. Não sabia que havia greve no Metro", confessa, admitindo que vai ficar mais caro mas que, ainda assim, "uma criança feliz paga tudo".

Já na Gare do Oriente, vai trocando mensagens com o comprador, numa tentativa de combinarem um local para a entrega. Junto à entrada do metro, no subsolo da estação, há quem venha de passo apressado para entrar, mas depressa percebe que os portões de metal estão encerrados.

Entre os que chegam, um casal, britânico, acabadinho de chegar do aeroporto e que tenta entrar no Metro. Percebem que algo se passa e são informados que há uma greve, e que por isso os portões estão fechados.

"Metro?”, pergunta o simpático britânico de meia-idade, com duas malas de rodinhas pela mão.

"Queríamos ir para o comboio, que daqui a pouco sai para o Porto", diz, entre pausas para respirar, depois de um trajeto feito quase a correr.

Depois de perceber que, afinal, o comboio é no topo da estação e que ali, no subsolo, é a entrada do Metro, suspira de alívio e desabafa.

"Graças a Deus! Ainda vamos a tempo de uma francesinha ao jantar".

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