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novo ano letivo

Proibição de telemóveis. “Há alunos no superior a jogar no casino online durante as aulas”

11 set, 2025 - 06:30 • Cristina Nascimento

Com mais de 20 de experiência no ensino público e privado, António Carlos Cortez olha com apreensão para a educação. As restrições de telemóveis nas escolas deviam ser mais severas, diz, e a fragilidade da formação de professores é um dos principais problemas do setor.

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“Nós estamos numa aula no ensino superior e os alunos estão com o tablet aberto a jogar no casino online.” O relato, preocupado, é de António Carlos Cortez, professor há cerca de 20 anos e autor de “O Fim da Educação”. Durante essas duas décadas trabalhou quer no ensino público, quer no privado, e deu aulas não só a alunos do ensino superior, mas também do básico e do secundário.

No arranque de mais um ano letivo, este professor mostra-se preocupado com o estado da educação. Questionado sobre aquela que será uma das principais mudanças neste ano letivo – a proibição de “smartphones” nas escolas até ao 6.º ano – Cortez diz, sem rodeios, que as restrições deviam ter sido “mais severas”, defendendo a proibição até ao 12.º ano.

Este professor, que recentemente escreveu o “O Fim da Educação”, justifica a sua posição com o que vê acontecer nas salas de aula.

“O Maio de 68 tinha aquela chancela ‘é proibido proibir’, mas as escolas hoje debatem-se com problemas terríveis devido ao digital. Nós estamos numa aula no ensino superior e os alunos estão com o tablet aberto a jogar no casino. Nós temos o maior índice de adolescentes e de jovens universitários viciados em jogos online da Europa”, descreve.


Hábitos que depois refletem-se na prestação dos estudantes: “Os nossos alunos não leem absolutamente nada e devo dizer que a maioria, 90%, escreve mal, não sabe língua portuguesa.”

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António Cortez mostra-se crítico da qualidade atual do ensino e identifica a formação de professores como “a grande questão”.

“Eu julgo que a grande questão está, de há vários anos a esta parte – é um problema que tem mais de 25, 30 anos –, na qualidade da formação docente. Muitos professores, na verdade, carecem de uma formação continuada ao nível das leituras que se devem ter e que muitos não têm”, argumenta.

Cortez prossegue o raciocínio.

“Quando nós falamos com os adolescentes, com jovens universitários e perguntamos porque é que não gostam da escola, invariavelmente a maioria diz, e com razão, que as ‘aulas são uma seca’. Mas as aulas são uma seca porquê? Porque nós temos uma classe docente que, na verdade, além de ganhar mal, não tem acesso à cultura, por um lado, e por outro também não lê. O hábito faz o monge… Se eu não leio, se eu não me habituei a ler, vou para o ensino para debitar algumas coisas que vou lendo nos manuais escolares, então, as aulas são, de facto, uma seca”, diz.

Cortez identifica outro problema no sistema de ensino: a burocracia. Este professor de Literatura é atualmente professor no Ensino Superior, mas também no Liceu Camões, em Lisboa, um estabelecimento de ensino que, assegura, “funciona sem o peso burocrático asfixiante que nós vemos noutros estabelecimentos de ensino”. Cortez culpa “direções excessivamente zelosas da malha burocrática e isso faz com que os professores não se consigam mexer, não consigam propor nada, não consigam ter um quotidiano escolar livre”.

Questionado sobre, se pudesse atuar livremente, que medidas implementaria mais urgentemente na educação, Cortez começou por apontar a necessidade de “reconhecer e explicar bem aos portugueses que esta profissão é um dos últimos pilares de cidadania que o país tem”.

“No dia em que os professores forem completamente destruídos por um aparelho burocrático, que os empobrece, ou no dia em que forem substituídos pelas máquinas, podemos dizer adeus a qualquer coisa que se chame sociedade portuguesa”, reforça.

Na mesma linha desta ideia, Cortez classifica os professores como “agentes multiplicadores de cultura” e diz que, se não forem assim, os professores são apenas “fazedores acéfalos de tarefas que emanam do Ministério da Educação”.

Outras medidas passariam pela valorização salarial dos docentes e ainda “uma reforma do ensino que pusesse as Humanidades no centro do processo educativo”.

António Cortez aprofunda a sua visão. Esta reforma visaria três eixos: língua e literatura; história e filosofia; e música e artes.

Cortez remata considerando que esta falta de centralidade das Humanidades está “a conduzir-nos àquilo que nós vemos – a radicalização da política na sociedade portuguesa e a ascensão de forças obscurantistas”.

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