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Campanha já salvou mais de 100 mil cagarros nos Açores desde 1995

11 out, 2025 - 09:15 • Lusa

O cagarro é a ave marinha mais característica dos Açores e uma das mais antigas que existem no planeta.

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Mais de 100 mil cagarros já foram salvos nos Açores desde 1995, graças à campanha que se dedica a resgatar aquela “ave icónica”, através do “esforço conjunto” entre Governo Regional, associações e cidadãos.

“O ano em que foram resgatadas menos aves foi [o de] 2012, com cerca 1.800, mas, por exemplo, em 2022 tivemos cerca de dez mil. Em 2024 tivemos 6.388, ou seja, quase 6.400 aves resgatadas. […] Podemos, facilmente, falar em mais de 100 mil aves resgatadas desde que existe a campanha”, disse à agência Lusa o diretor regional de Políticas Marítimas.

Segundo o responsável, a campanha SOS Cagarro, que se realiza há 30 anos no arquipélago açoriano, “envolve cidadãos e entidades” no resgate desta ave marinha.

A edição deste ano da SOS Cagarro começa na quarta-feira e prolonga-se até 15 de novembro e pretende reforçar a aposta no “envolvimento dos cidadãos”, através de várias iniciativas de sensibilização.

“Para este ano, pretendemos apostar mais na ação cidadã. No fundo, na sensibilização para o conhecimento desta ave que é um 'ex-líbris' regional para que as pessoas, estando sensibilizadas, possam juntar-se a este esforço para salvar esta ave”, afirmou.

Em espaços por várias ilhas, como esquadras da Polícia de Segurança Pública (PSP), postos da Guarda Nacional Republicana (GNR) ou quartéis dos bombeiros, são disponibilizadas caixas próprias para que os cidadãos possam resgatar as aves encandeadas pela iluminação artificial.

“No fim do dia, as aves estão a fazer os primeiros voos e a sair do ninho para se alimentarem e são encandeadas pela luz artificial. Ficam desorientadas, o que faz com que venham para a rede viária, campos de futebol ou portos de pesca, zonas onde, normalmente, há um maior foco de luz artificial”, explica o diretor regional.

Aquelas caixas têm um código QR para que seja possível obter um conjunto de informações sobre o resgate e “mapear as zonas mais propicias” à queda das aves, acrescentou Rui Martins.

Além de uma linha telefónica para apoiar quem resgatou um cagarro (800 292 800), existem cerca de 74 postos de recolha por todo o arquipélago, “designados vulgarmente por hotéis do cagarro”, que tanto podem ser esquadras, juntas de freguesia ou cafés.

Com recurso às caixas, os cidadãos podem salvar o cagarro e libertá-lo na manhã seguinte, perto do mar, numa zona sem obstáculos, ou deixar a ave num dos pontos de recolha.

“Todas as manhãs, as brigadas do Parque Natural de ilha fazem a passagem pelos pontos identificados e, normalmente, as aves são pesadas, anilhadas e depois libertadas”, disse.

São ainda organizadas várias brigadas noturnas de salvamento de cagarros e ações de sensibilização em escolas e bibliotecas da região.

“Há um grande envolvimento cidadão. É uma conjugação de esforços entre o Parque Natural, os cidadãos comuns e as associações cívicas, sejam organizações não-governamentais ou ambientais”, destacou.

A campanha SOS Cagarro nasceu a partir de uma iniciativa do cientista Luís Monteiro (1962-1999), com o intuito de preservar aquela ave marinha.

“Queremos é tentar sensibilizar as pessoas para o facto de termos uma ave icónica a nível regional, porque 75% nidifica nos Açores e regressa às nossas ilhas todos os anos. Vive cerca de 42 anos e normalmente vem nidificar no sítio onde nasceu, na mesma ilha”, concluiu Rui Martins.

Monitorizar nível de microplásticos no oceano

Os cagarros dos Açores vão permitir monitorizar o nível de microplásticos que poluem o oceano, ao terem sido reconhecidos internacionalmente como bioindicador, um reconhecimento que “valoriza a ciência e o esforço dos cidadãos”, segundo o Governo Regional.

De acordo com o diretor regional de Políticas Marítimas, Rui Martins, a inclusão da ave marinha como bioindicador é um “motivo de orgulho”, já que reconhece o trabalho realizado pela campanha SOS Cagarro, que em 2024 salvou 6.388 animais e recolheu 230 aves mortas.

“Acabámos por recolher cerca de 230 aves que estavam mortas ou vieram a morrer. A essas aves, fazemos [posteriormente] necropsias e uma avaliação do conteúdo gástrico. Esse conteúdo gástrico e o facto de fazermos essa análise há vários anos, permitiu que o cagarro fosse designado como bioindicador para os microplásticos no oceano pela OSPAR [convenção para proteger o ambiente marinho do Atlântico Nordeste]”, realçou hoje Rui Martins à agência Lusa.

Formada em 1972, a Convenção OSPAR tem como objetivo a proteção do meio marinho no atlântico nordeste e junta países como Portugal, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Islândia, Irlanda, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia, Reino Unido, Luxemburgo, Suíça, além da União Europeia.

Segundo o diretor regional, o cagarro passa a ser a segunda ave reconhecida como bioindicador no atlântico, juntando-se à espécie fulmar (que permite recolher dados das zonas próximas da Inglaterra à Noruega).

Rui Martins lembra que a campanha de salvamento de cagarros nos Açores acontece quando os animais saem pela primeira vez do ninho, altura em que se alimentam de uma “espécie de papa” feita pelos progenitores.

“Nessa papa encontram-se microplásticos. Se nós, ao longo dos anos, formos fazendo essa avaliação, vai-nos permitir dizer que o oceano tem mais ou menos microplásticos conforme o conteúdo gástrico”, reforçou.

O diretor regional considera que o reconhecimento revela o “sucesso da ciência regional” e o “esforço dos cidadãos” que se envolvem na campanha SOS Cagarro.

A SOS Cagarro nasceu em 1995 a partir de uma iniciativa do cientista Luís Monteiro (1962-1999) com o intuito de preservar aquela ave marinha, dado que 75% da população mundial nidifica nos Açores.

Estima-se que a campanha, que envolve Governo Regional, associações e cidadãos, já tenha salvo mais de 100 mil cagarros nos últimos 30 anos.

A edição deste ano da iniciativa anual começa quarta-feira e decorre até 15 de novembro.

Em julho de 2023, um estudo científico que juntou investigadores de todo o mundo, incluindo da Universidade dos Açores, identificou três aves que nidificam nos Açores, os cagarros, o painho-de-monteiro e o painho-da-madeira, como estando expostas aos riscos do plástico marinho.

Na página do Governo Regional dos Açores na Internet, é referido que o cagarro "pertence a um grupo formado por diversas espécies de aves marinhas (Procellariiformes) que inclui os albatrozes, as pardelas [...] e os painhos”.

“O cagarro é a ave marinha mais característica dos Açores e uma das mais antigas que existem no planeta. Os cagarros passam grande parte da sua vida no mar (aves pelágicas), vindo a terra apenas quando chega a altura de reprodução, para fazerem os seus ninhos, acasalarem, incubarem o seu ovo e cuidarem da sua cria", lê-se.

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