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270 anos do grande sismo de 1755

João Azevedo: "Há escolas onde há risco elevado de colapso", se houver um grande sismo

01 nov, 2025 - 09:13 • Pedro Mesquita

O antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica reconhece que estão a ser feitos projetos, "mas tudo isso demora muito tempo".

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SEX JOAO AZEVEDO
Ouça aqui a entrevista a João Azevedo

O numero é redondo — passam 270 anos do grande sismo de 1755, e a pergunta é recorrente: Estamos a preparar-nos devidamente para a repetição de um tremor de terra com idêntica intensidade? "Vai-se fazendo alguma coisa, mas não o suficiente". É o que diz à Renascença um dos maiores especialistas em estruturas, que já foi presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica.

João Azevedo alerta, por exemplo, que há ainda escolas na região de Lisboa com risco elevado de colapso, em caso de um forte sismo e lamenta, por outro lado, que não exista no PRR qualquer menção à resiliência sísmica, apesar da aposta forte na construção de casas.

Este especialista avisa que não se deve "facilitar na segurança, só para se gastar o dinheiro", frisando que, "às vezes, temos um bocadinho de habilidade para fazer isso".

E o presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica remata: "Mesmo que fosse possível prever que haveria um sismo no próximo ano, o que é que nós íamos fazer? Íamos evacuar Lisboa? Ou seja, o que nós temos é construir bem".

Passam este sábado 270 anos do grande sismo de 1755. Estamos a preparar-nos devidamente para um tremor de terra com idêntica intensidade?

É evidente que vamos estando mais preparados, mas claramente não estamos suficientemente preparados. Vai-se fazendo alguma coisa, mas não o suficiente. Uma das áreas em que eu tenho insistido (nessa necessidade) é tudo aquilo que são as grandes construções coletivas.

Em relação aos hospitais, vai-se fazendo qualquer coisa. O Tribunal de Contas, que enfim, deveria tratar das contas, acabou por impor que o novo Hospital de Lisboa tivesse isolamento de base, o que é uma ótima solução e deve ser seguida. Portanto temos aqui um passo positivo. Em relação às escolas, há também estudos feitos, por exemplo, sobre escolas na região de Lisboa.

Foram detetadas escolas com graves problemas. Sei que estão a ser feitos projetos, mas tudo isso demora muito tempo.

Há escolas onde há um risco elevado de colapso, como aconteceu, por exemplo, em Itália. Num sismo no centro de Itália morreram perto de 50 crianças e a professora e, a partir daí, a Itália decidiu reabilitar todas as escolas do país. E fizeram.

Nós aqui andamos a falar disso há muito tempo e as coisas vão avançando, a "Parque Escolar" introduziu bastantes melhorias em algumas delas, mas muitas continuam com graves problemas.

Vem aí, espera-se, construção em massa com recurso ao PRR, construção de habitações. Isso preocupa-o, no plano de engenharia sísmica?

Preocupa se facilitar na segurança, só para se gastar o dinheiro. Às vezes, temos um bocadinho de habilidade para fazer isso. Temos (em Portugal) das regras de construção mais avançadas do mundo, mas às vezes facilitamos. Os projetos não são verificados, a fiscalização da obra é feita um bocadinho a correr.

Teme que isso possa acontecer novamente?

Eu temo que isso possa acontecer porque vai acontecendo (risos). Vai acontecendo.

Há alguma menção no PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) à segurança sísmica, na construção de tantas habitações?

O PRR, que é um programa de resiliência, e a Sociedade Política de Engenharia Sísmica chamou à atenção para isso, não tem uma única menção à resiliência sísmica (com a eventualidade de um forte sismo).

Este é um indício de que nós, como sociedade, não estamos muito preocupados. A única coisa que sabemos é que um dia, pode ser 10, 20, 100 ou 200 anos, um dia teremos um sismo tão grande ou maior do que o de 1755. E digo-lhe uma coisa, mesmo que fosse possível prever que haveria um sismo no próximo ano, o que é que nós íamos fazer? Íamos evacuar Lisboa? Ou seja, o que nós temos é construir bem e esperar por ele (pelo sismo), mas com confiança e não tentar adivinhar quando é que ele vai acontecer.

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