04 nov, 2025 - 19:30 • Alexandre Abrantes Neves , Fábio Monteiro
O presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia defendeu esta terça-feira, em Lisboa, uma alteração profunda do modelo de medição de audiências de rádio em Portugal, considerando-o “frágil” e desatualizado.
Na conferência organizada pela Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), que assinalou os 20 anos da instituição, o cónego Paulo Franco alertou que “continuamos com estratégias de medição de rádio que têm quase 40 anos, com poucas evoluções ao longo do tempo, sem uma capacidade de ter resultados on time”, ao contrário do que já sucede com a televisão e os meios digitais.
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Na mesma conferência, o presidente do Grupo Renascença destacou o papel da independência editorial como valor distintivo e factor de confiança junto dos ouvintes e leitores: “Sabemos que a marca Renascença é uma marca de confiança no mercado. E sabemos que a nossa notícia é uma notícia de confiança”.
“As pessoas olham para a nossa notícia de uma forma independente, livre, que não está dependente de modelos económicos ou de correntes políticas. Sabemos que esse é um valor que nós temos”, defendeu.
Na mesma conferência, no Museu do Oriente, em Lisboa, o responsável máximo da Renascença aproveitou também para apelar a uma maior regulação do setor digital, particularmente no que diz respeito à publicidade, defendendo igualdade de regras entre plataformas tradicionais e novos canais de difusão.
cónego paulo franco
Presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renasc(...)
“Nós, na rádio, no áudio, por exemplo, se temos um produto financeiro, temos que ter uma legenda legal que toda a gente muda de rádio quando isso está a passar. Mas, noutros meios, e até em conteúdos de áudio no digital, essa legenda legal já não é obrigatória”, referiu o presidente do grupo.
Segundo o cónego Paulo Franco, “a normativa da regulação dos media parece-nos estar completamente desatualizada relativamente àquilo que é hoje o mundo digital”, apontando desequilíbrios com consequências na sustentabilidade do setor.
Essa foi uma perspetiva partilhada pela maioria dos presentes na mesa-redonda onde participou o presidente do Grupo Renascença, que reuniu responsáveis dos principais grupos de comunicação social em Portugal.
Para Pedro Morais Leitão, da administração da Media Capital (detida pelo empresário Mário Ferreira e dona da TVI, CNN Portugal e jornal Nascer do Sol), o atual ecossistema mediático também preocupa, ainda para mais porque prevê uma nova crise no setor, desta vez provocada pela inteligência artificial.
“Há duas crises graves do setor, a crise de 2010 com a crise financeira, que todos temos má memória, e a crise de 2020 associada à Covid-19. Parece-me previsível que, nos próximos cinco ou seis anos, teremos outra crise grave. Acredito que virá relacionada pela inteligência artificial, que vai acelerar qualquer que seja o efeito da próxima crise nas receitas”, anteviu.
Com o serviço público a dominar grande parte do debate inicial na mesa-redonda, o presidente do Conselho de Administração da agência Lusa avançou que é previsível que, até ao final do mês, o Estado passe a deter a totalidade do capital da agência de notícias, adquirindo os 2,72% ainda nas mãos da empresa “Notícias de Portugal”.
“Sobre a aquisição das participações financeiras, acredito que este mês de novembro está finalizado. Quando foi criada, a Lusa tinha 17 acionistas, alguns deles estão aqui presentes. Isto é um sinal de que o mercado na altura era atrativo, ou mais atrativo do que é hoje”, referiu Joaquim Carreira, sobre o processo que custou, ao todo, cerca de 2,8 milhões de euros às contas estatais.
Também sobre o plano para a comunicação social, o presidente do Conselho de Administração da RTP dedicou os minutos iniciais a falar do eixo de modernização da empresa – e a realçar a sua importância, perante um contexto em que as verbas da rádio e televisão públicas estão “congeladas”.
Comunicação Social
O presidente da RTP considerou que o Conselho de A(...)
“Desde 2016 que a contribuição do audiovisual para a RTP está congelada. Continuamos também a ter uma limitação em termos de publicidade por cada hora de emissão de seis minutos contra aquilo que se passa nos operadores que têm 12 minutos. Aquilo que nós temos de fazer é tentar aliviar essa situação e, por outro lado, encontrar formas de obter novas receitas”, apontou, numa altura em que o governo já anunciou mais um processo de rescisões amigáveis na RTP, que deve cobrir 41 trabalhadores.
Para Luís Santana, administrador do grupo Media (proprietário de títulos como a CMTV, do jornal Record ou a revista Sábado), as verbas e medidas destinadas à RTP e à agência Lusa são “importantes”, mas são, para já, os únicos efeitos visíveis do plano para a comunicação social – continuando os privados “à espera” das consequências positivas anunciadas pelo governo há mais de um ano.
“Estamos à espera de perceber o que é que as 30 medidas de apoio à comunicação social possam trazer para melhorar algumas questões que são muito relevantes.Há setores da nossa indústria que estão muito fragilizados – neste caso dos jornais, a distribuição”, assinalou.
[Notícia atualizada às 21h01]