04 nov, 2025 - 11:34 • Anabela Góis com Lusa
A prevalência da diabetes bateu recordes em Portugal no ano passado, com 14,2% da população, o valor mais elevado de sempre, e a doença registou o maior número de novos casos nos Cuidados de Saúde Primários, com 88.476, segundo um relatório.
Os dados do Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes – “Diabetes: Factos e Números”, elaborado pela Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) e divulgado esta terça-feira, mostram uma tendência crescente da doença no país e alertam para a persistência de elevados níveis de subdiagnóstico, atribuídos, em parte, à falta de integração dos dados provenientes do setor privado.
Apesar dos progressos observados em alguns indicadores, o relatório destaca a estagnação no número de amputações relacionadas com a diabetes, que se mantém estável há uma década — com as amputações ‘major’ a representarem uma proporção idêntica às ‘minor’ —, um dado considerado “preocupante”.
"As amputações levantam sempre uma grande preocupação porque efetivamente continuamos na última década, com os números muito semelhantes de ano para ano e continuamos com mais de 2000 amputações por ano", disse Rita Nortadas, presidente do Observatório Nacional da Diabetes, à Renascença, acrescentando que" têm uma letalidade associada de 7%, portanto, são números que nos preocupam".
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Os dados indicam ainda que, em 2024, o custo direto da diabetes em Portugal foi estimado entre 1.500 e 1.800 milhões de euros, o que equivale a 0,5-0,6% do PIB nacional e entre 5% a 6% da despesa total em saúde.
"Continuamos com uma prevalência da diabetes a aumentar, portanto, a prevalência estimada atualmente é de 14,2%, e isto significa 780 novos casos por cada 100 mil habitantes registados. O que é bastante", sublinhou Rita Nortadas, apontando que "outro dado preocupante é que cerca de 5,5% das pessoas que têm diabetes não sabem que têm diabetes".
Para resolver o problema da população por diagnosticar, a responsável assume ser preciso "chegar com mais eficácia à população".
"Apesar de tudo, desde o COVID que tem sido feito um grande esforço por parte dos cuidados de saúde primários e conseguimos recuperar muitas das consultas que se haviam perdido durante a pandemia, mas ainda assim é preciso chegar mais atempadamente às pessoas fazer", admite, concretizando a necessidade de "sermos mais eficazes naquilo que é a prevenção e fazemos diagnósticos mais precoces também".
O número de pessoas que utilizam bombas infusoras de insulina comparticipadas pelo SNS aumentou significativamente, aponta o relatório. A despesa para o SNS representou 6,3 milhões de euros, que Rita Nortadas afirma ser um investimento com retorno garantido.
"A tecnologia associada à diabetes tem vindo a aumentar por várias razões, por que elas promovem um melhor controlo da diabetes e, no fundo, também aumentam a qualidade de vida das pessoas que vivem com diabetes", explicou, sublinhando ser "um investimento que o país tem feito em paralelo aquilo que tem vindo a acontecer no mundo ocidental, mas que provavelmente vai ver refletido o seu impacto naquilo que são os internamentos e as complicações".
O relatório revela ainda tendências positivas que refletem melhorias no acompanhamento e controlo da doença: registou-se uma redução de 39% nos anos potenciais de vida perdidos por diabetes ao longo da última década, um ligeiro decréscimo da doença nas causas de morte, bem como uma diminuição significativa dos internamentos hospitalares em que a diabetes surge como diagnóstico principal ou associado.
Mais de 90% dos internamentos ocorrem na população adulta e 85,3% das pessoas com diabetes tiveram pelo menos uma consulta registada no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 2024, números que demonstram a recuperação da atividade assistencial nos Cuidados de Saúde Primários.
“A ausência de dados mais detalhados — por tipo de diabetes, por setor e por região — continua a ser um obstáculo à formulação de políticas de saúde eficazes”, considera Rita Nortadas em comunicado, que defende ser fundamental “avançar para sistemas de informação integrados que permitam decisões baseadas em evidência”.
“A diabetes representa até 0,6% do PIB nacional. Investir na prevenção e na gestão da doença é investir na sustentabilidade do sistema de saúde e na qualidade de vida das pessoas”, conclui Rita Nortadas.
A diabetes afeta atualmente cerca de 589 milhões de adultos em todo o mundo, número que poderá ultrapassar 800 milhões nas próximas décadas.
Em Portugal, cerca de 1,1 milhões de adultos vivem com diabetes, o que, segundo a SPD, reforça a urgência de políticas de prevenção e acompanhamento.