11 nov, 2023 - 09:00 • Susana Madureira Martins , Tomás Anjinho Chagas
Natural de Baião, onde já foi autarca, José Luís Carneiro mostra-se ao PS numa altura em que o partido está em choque ao perder o "pilar" Costa, que manteve os socialistas no poder durante oito anos seguidos.
José Luís Carneiro é ministro da Administração Interna e assim vai manter-se em funções até março do próximo ano. É agora, oficialmente, candidato ao lugar de secretário-geral do PS.
À porta da Comissão Política desta quinta-feira, já de madrugada, Carneiro apresentou-se como pretendente a habilitar-se a ser "candidato a primeiro-ministro". Do outro lado do tabuleiro terá Pedro Nuno Santos.
Pode não ser o governante mais mediático, é, aliás, reconhecidamente discreto, mas há décadas que trabalha nos bastidores dos governos e no influente aparelho do PS-Porto. Aos 52 anos, oferece-se para passar para a primeira linha.
Formou-se em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada do Porto e concluiu o mestrado em Estudos Africanos no ISCSP, em Lisboa.
Foi chefe de gabinete de Francisco Assis entre 2000 e 2002 quando este era líder parlamentar do PS de António Guterres e sempre exerceu forte influência no aparelho do partido no Porto que chegou a liderar.
Esta madrugada, à saída do Largo do Rato, em Lisbo(...)
Ainda passou, como assessor, pelo gabinete de Carlos Zorrinho (secretário de Estado), na altura em que Nuno Severiano Teixeira era ministro da Administração Interna.
Fez parte do núcleo duro de António José Seguro na altura em que este foi secretário-geral do PS (2011 a 2014), conseguindo depois fazer a aproximação e a transição para o "costismo".
Estava como presidente da Câmara Municipal de Baião, cargo que ocupou quase 10 anos, entre novembro de 2005 e agosto de 2015, quando saiu para a Secretaria de Estado das Comunidades no primeiro Governo de Costa.
Com Carlos César a decidir-se pela saída do Parlamento, Costa foi obrigado a fazer "xadrez político". Tirou Ana Catarina Mendes da sede do PS, pô-la como líder parlamentar e chamou o eficaz secretário de Estado das Comunidades José Luís Carneiro para esse lugar operacional de topo, o secretário-geral adjunto.
Fontes do PS garantiram, nessa altura, à Renascença que foi uma jogada com intenção profunda. Discreto, gastou dias úteis e fins de semana a correr o país todo a falar com as estruturas, federações e concelhias, meio em que Pedro Nuno Santos também se mexe como "peixe dentro de água".
Foi uma pausa de dois anos em cargos executivos. Depois da conquista da maioria absoluta do PS, em janeiro de 2022, é chamado por António Costa para ficar à frente do Ministério da Administração Interna.
Não querendo responder a perguntas sobre um eventu(...)
Em períodos de grande contestação, José Luís Carneiro conseguiu ser dos governantes menos apupados. Durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ2023), os agentes da PSP colocaram vários cartazes gráficos para reivindicar melhores salários, mas raramente foi contestado enquanto ministro.
Dentro do PS, integra o secretariado nacional (núcleo duro da direção de António Costa) e é no Norte que colhe mais apoios dos socialistas. Entre 2012 e 2016 foi presidente da Federação do PS do Porto.
Caso não vença a corrida interna à liderança do PS, é um protocandidato à Câmara do Porto, juntamente com Manuel Pizarro, camarada de partido com quem não tem, atualmente, as melhores relações, na sequência do embate entre seguristas e costistas.Carneiro perdeu, em 2014, a liderança da Federação do Porto para o agora ministro da Saúde.
“Com franqueza, enquanto autarca não tenho nada a apontar. De uma competência enorme, tudo o que assumi com ele, ele concretizou”, resume o socialista Ricardo Leão, presidente da Câmara de Loures, em declarações à Renascença.
Quando se refere a compromissos, fala na construção de alojamentos para agentes da PSP ou de novas esquadras.
Ricardo Leão fala num perfil de proximidade de terreno e de um homem com disponibilidade: “Sempre que liguei, atendeu-me sempre com amabilidade. Se ele passasse aqui por Loures ligava-me".
“Reconheço-lhe competência e honra. Tem empenho, competência e sentido de Estado”, classifica o autarca de Loures, que o conhece há muitos anos, mas que intensificou o trabalho com José Luís Carneiro sobretudo durante a organização da JMJ.
Porfírio Silva
Posição do dirigente socialista Porfírio Silva tra(...)
Segundo Leão, um homem muito próximo de António Costa, o ministro goza de uma ótima relação com as autarquias: “Muitos autarcas nutrem por ele uma enorme simpatia”, garante.
“Determinado, trabalhador e com capacidade para fazer consensos”. É desta maneira que Carneiro é definido por um socialista à Renascença.
Há, no entanto, quem veja em Carneiro um protagonista demasiado regional. "O PS é um partido aberto e cosmopolita e não um lugar para o Carneiro. Estamos a tratar da liderança de um partido com milhões de eleitores", acusa um dirigente nacional socialista à Renascença.
O ministro da Administração Interna tem para muitos socialistas o problema de não ter "a credibilidade pública das elites", segundo um membro da Comissão Política do PS. "O Carneiro tem dificuldade, é muito de Baião. É chato, é injusto, mas é isto", resume a mesma fonte.
Estes recados, segundo fontes socialistas, foram t(...)
Outro elemento da Comissão Política do PS diz ainda à Renascença que o ministro da Administração Interna "está a dar gás a uma série de gente que não gosta do Pedro Nuno Santos".
Ou seja, há uma ala moderada que não é propriamente "carneirista", mas que, por agora, só vê esta alternativa ao ex-ministro das Infraestruturas, conotado com a ala mais à esquerda do PS.
Um outro membro da Comissão Política do PS admite que Pedro Nuno Santos "tem um feitio explosivo" que só o penaliza , mas que funciona se comparado com Carneiro que é acusado de não ter "capacidade de liderança". A mesma fonte prevê que o ex-ministro "vai cilindrar de norte a sul".