01 fev, 2024 - 06:38 • Tomás Anjinho Chagas (nos Açores)
O voto é para o Parlamento Regional dos Açores mas não é só isso que se decide no próximo domingo. Com as sondagens a apontar para a inexistência de uma maioria absoluta, os olhares voltam-se para as contas de somar e subtrair.
A maioria terá – ao que tudo indica – de ser feita através de coligações e qualquer que seja o desfecho nos Açores vai ter implicações na campanha que começa logo depois, para as legislativas.
As projeções apontam para uma forte possibilidade de haver uma maioria de direita no hemiciclo açoriano, mas em todos os casos o Chega terá de ser incluído na equação. Sem o Chega o PSD poderá ter de dar a vez ao PS.
Para mais, o líder do PSD Açores e atual presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro parece ter uma interpretação diferente da do líder do PSD, Luís Montenegro, em relação às coligações pós-eleitorais.
“Respeito muito a vontade do povo” , disse Bolieiro em entrevista ao Observador, indicando que um entendimento com o Chega está em cima da mesa. É uma resposta bem diferente da que Luís Montenegro tem dado: “Não é não”, sobre a inclusão do partido de André Ventura num acordo no dia 11 de março.
A reedição de uma geringonça de direita açoriana – que existiu entre 2020 e 2023 – com o Chega terá necessariamente uma leitura nacional e não apenas regional. O tiro de partida da campanha eleitoral vai ficar condicionado para os social-democratas caso Bolieiro precise do Chega para voltar a governar e assine o acordo.
Será um embaraço e um fantasma que vai perseguir Luís Montenegro durante a corrida às legislativas. E a situação é diferente daquela que foi vivida até agora: em 2020, quando o PSD fez um acordo parlamentar com o Chega nos Açores o líder do partido era Rui Rio – que ao contrário de Montenegro não afastava liminarmente este cenário.
Foi José Manuel Bolieiro que forçou a barra e pediu eleições antecipadas (ao ver o orçamento regional chumbar com o voto contra da IL). A ideia será repetir o que António Costa conseguiu em 2022: roer a corda com os parceiros de acordo e conseguir maioria absoluta. Mas a granada pode explodir nas mãos do PSD (nacional, pelo menos).
O contrário também se verifica, se o PSD/Açores vencer com maioria absoluta, Luís Montenegro ganha um novo élan: será um forte argumento para utilizar nas legislativas ao ter a autoridade para poder afirmar que não precisa do Chega para governar e ter prova disso no arquipélago açoriano.
A campanha nos Açores fica também, inevitavelmente, ofuscada pelo terramoto judicial que abalou a Madeira. Com as buscas que terminaram na demissão de Miguel Albuquerque, a oposição tem sugerido que há um padrão negativo nas várias governações do PSD.
A coincidência temporal não ajuda aos social-democratas e até a Iniciativa Liberal questionou se, nos Açores, não existem negócios semelhantes àqueles que levaram às buscas que culminaram na queda do executivo madeirense.
O PS tem, este domingo, a oportunidade de recuperar o poder nos Açores. Em 2020 a maioria à direita foi inédita no arquipélago – que era governado pelos socialistas desde o 25 de abril – e o PS tem agora uma chance de reverter a situação. A tarefa é num primeiro plano de Vasco Cordeiro, líder do PS Açores, mas também Pedro Nuno Santos vai ser posto à prova.
O novo líder socialista – que procura segurar no leme de um partido em choque com a demissão de António Costa – coloca as fichas no arquipélago açoriano e pode beneficiar em dois cenários.
O primeiro é no caso de o PS vencer as eleições e em menos de dois meses Pedro Nuno Santos poder colocar uma vitória eleitoral no currículo de líder partidário.
O segundo é no caso de o PSD vencer as eleições mas fazer uma coligação com o Chega. Apesar de uma derrota, a incontornável contradição entre o PSD e o PSD/Açores seria uma arma de arremesso durante as eleições nacionais. Montenegro seria o alvo.
Não obstante, a liderança de Pedro Nuno Santos pode ficar já ferida no caso de o PSD conseguir maioria absoluta. No caso de uma vitória sem espinhas por parte dos social-democratas, Pedro Nuno Santos perde estas que podem ser vistas como as primárias, antes das legislativas.
Estas são as primeiras eleições dos dois líderes partidários, serão sempre vistas como a primeira prova de fogo e num momento de particular efervescência política. As leituras além-Açores e extrapolações vão ser inevitáveis tanto para Pedro Nuno Santos como para Luís Montenegro.
A importância das eleições açorianas, tanto em si mesmas como para as leituras nacionais, estão a obrigar os líderes partidários a dirigir-se para Ponta Delgada. O líder do PSD, Luís Montenegro, vai estar nos Açores na noite eleitoral do próximo domingo. Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, chega esta quinta-feira a São Miguel para dar força a Vasco Cordeiro.
Os partidos nas regiões autónomas não adoram a presença dos líderes partidários nas ilhas por colocar em causa a autonomia dos partidos. Isso ficou bem patente na resposta de José Manuel Bolieiro aos jornalistas, esta quarta-feira, onde garantiu não ter convidado Luís Montenegro, apesar de defender que o líder do PSD "não se fez" de convidado.
Quem tem estado quase em permanência na ilha é André Ventura, o líder do Chega, que vê nestas eleições uma oportunidade única de desgastar Luís Montenegro e obrigar o PSD a ir a jogo no Continente. Apesar do categórico “não é não” do líder dos laranjas em relação a um eventual acordo com o Chega nas legislativas, André Ventura não se abstém de pressionar o PSD para entrar em diálogo no dia a seguir às eleições.
Se a estratégia seguida tem sido essa, as regionais dos Açores são o momento escolhido para forçar a barra, e André Ventura até já provocou Luís Montenegro ao dizer que devia “aprender” com José Manuel Bolieiro (uma vez que este nunca disse que não a um futuro reentendimento com o Chega).
O líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, também esteve nas ilhas e procura manter a influência na região autónoma. Afinal, com o deputado que conquistou, em 2020, conseguiu condicionar a governação da coligação (PSD/CDS/PPM), uma vez que era indispensável para atingir os 29 sins nas votações. A outra grande incógnita será a força conquistada pelo PAN nos Açores. Na Madeira o partido Pessoas Animais e Natureza assinou um acordo com o PSD (que entretanto rasgou) e desbloqueou uma solução de governo.