12 mar, 2025 - 18:19 • José Pedro Frazão
O Presidente da República não fez mais na atual crise política “porque se sente limitado pelos seus atos passados”, diz Mariana Vieira da Silva no programa Casa Comum, da Renascença. A antiga ministra do PS recusa associar o comportamento presidencial aos desenvolvimentos da comissão parlamentar de inquérito à administração de um medicamento a gémeas luso-brasileiras.
“Estou a falar da forma como o Presidente sempre se posicionou sobre crises políticas e a forma como tão ativamente promoveu dissoluções, mesmo quando o que estava em causa era, por exemplo, um orçamento não aprovado. O Presidente da República tem consciência que os passos que poderia dar iam sempre ser avaliados em função dos que deu noutro contexto e com outro governo. E julgo que foi isso que o limitou”, afirma Vieira da Silva.
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No programa Casa Comum, a dirigente socialista toma nota de “um muito maior silêncio” do Presidente da República ao longo deste processo, diagnosticando a procura de “um equilíbrio maior” por parte de Marcelo Rebelo de Sousa “a procurar não ser outra vez o centro das atenções”, sobretudo à medida que se aproxima do fim do seu mandato.
“Se me pergunta se considero que o Presidente da República fez tudo o que faria, não fora o caso do histórico dos últimos anos, julgo que não. Teria sido mais interventivo, procurando fazer o que sempre fez: representar aquilo que considera ser a maioria do país e a necessidade de esclarecimentos. Nunca o fez, manteve-se em silêncio e agora aqui estamos”, conclui Mariana Vieira da Silva.
Também o social-democrata Duarte Pacheco defende que Marcelo Rebelo de Sousa deveria ter tentado “um diálogo mais forte entre os dois líderes, chamando-os até a Belém, tal como fez durante o Orçamento”.
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O antigo deputado considera que o Presidente da República não agiu porque percebeu que as situações estavam muito extremadas. Mas, noutro plano, admite que Marcelo não terá gostado das mais recentes atitudes de Luís Montenegro.
“Também houve atos, nomeadamente por parte do primeiro-ministro, que deixaram o Presidente amuado. Pelo menos por aquilo que veio a público. E isso pode ter contribuído para que não desenvolvesse a ação toda que poderia ter desenvolvido. Porque aquilo que fez durante [a discussão] do Orçamento do Estado - com o Conselho de Estado que até reuniu de propósito para discutir a situação, com parceiros sociais, com os líderes partidários - exercendo a sua magistratura de influência, que é relevante, não se vislumbrou durante as últimas semanas”, afirma Duarte Pacheco.
E os partidos podiam ter feito mais? Mariana Vieira da Silva considera que o PS fez tudo o que se justificava perante a estratégia do Governo.
“A moção de confiança que o Governo fez entrar na Assembleia era completamente provocatória e tinha como único objetivo irmos para eleições”, sustenta a antiga ministra.
Os desenvolvimentos das últimas 24 horas, durante a discussão parlamentar da moção confiança, transformaram-se “numa espécie de mistura entre um teatro e um jogo”, na avaliação da dirigente do PS.
Mariana Vieira a Silva defende que o Governo “tentou recuar porque se assustou com as sondagens”, assinalando “a surpresa do PSD com os dados que têm vindo a público”.
Duarte Pacheco defende que o PSD podia ter mostrado uma maior capacidade de negociação para um possível “entendimento à porta fechada”, assim que foi formalizado o pedido de comissão de inquérito.
“Por exemplo, durante a segunda-feira à tarde, se calhar chegava-se ao fim do dia, a moção de confiança tinha sido retirada e o debate de ontem nem sequer tinha acontecido”, sugere Duarte Pacheco no cenário de uma comissão parlamentar de inquérito.
No entanto, na avaliação do antigo deputado, o PS também tem responsabilidades. “Percebo que o líder queira mostrar que tem palavra. Disse desde o início da sua função - ficou agarrado depois a isso, se calhar não devia ter dito - que nunca inviabilizaria uma moção de confiança ao Governo”. Mas Pedro Nuno Santos poderia ter escolhido outra estratégia, defende Duarte Pacheco.
“Se Pedro Nuno Santos quisesse verdadeiramente os esclarecimentos, tinha uma solução, que era a abstenção, de modo a que a Comissão de Inquérito pudesse arrancar, com o anúncio imediato de que se apurasse algo que responsabilize diretamente o primeiro-ministro, seria o próprio Partido Socialista apresentar a moção de censura. E, portanto, o Governo ficava sempre com este cutelo”, explica o militante social-democrata no programa Casa Comum.