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Livre e Bloco separados na Defesa: Tavares quer armas, Mortágua exige casas

14 abr, 2025 - 23:30 • Fábio Monteiro

No frente-a-frente entre Rui Tavares e Mariana Mortágua, as (poucas) diferenças entre Livre e Bloco de Esquerda emergiram. A proposta de uma Comunidade Europeia de Defesa, defendida por Tavares, encontrou resistência de Mortágua, que rejeita mais investimento em armamento e acusa o projeto europeu de enveredar por uma “economia de guerra”.

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É muito mais aquilo que os une do que aquilo que os separa. Isto já era sabido. Mas, esta segunda-feira, no frente-a-frente televisivo, a verdadeira (e quase única) clivagem entre o Bloco de Esquerda e o Livre apareceu: a Defesa.

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Rui Tavares, do Livre, defendeu uma Comunidade Europeia de Defesa como resposta à incerteza internacional e à eventual retirada dos Estados Unidos da NATO. “Não podemos ficar à mercê de Trump, de Putin ou de Xi Jinping”, afirmou.

Mariana Mortágua contestou a visão do Livre, classificando-a como “um erro estratégico”. Para a coordenadora do Bloco de Esquerda, a Europa já tem capacidade militar suficiente. “Não é a defesa da Europa que está em causa, é a indústria do armamento”, acusou, rejeitando a ideia de uma economia assente no sector militar.

“O projeto económico da Europa tem de ser a habitação, os serviços públicos, a transição ecológica. Não é a guerra”, sublinhou Mortágua.

Tavares contrapôs com o argumento do realpolitik: “A Europa tem mais soldados do que a Rússia, mas falta interoperabilidade. Precisamos estar preparados. Não se trata de alimentar uma corrida ao armamento, mas de evitar ser apanhados desprevenidos”.

“Putin não vem num tanque pela fronteira espanhola”

O conflito na Ucrânia serviu de pano de fundo ao debate sobre segurança. Tavares evocou a proximidade física do conflito. “As tropas russas estiveram em Bucha, à distância de Alverca a Oeiras”, recordou, defendendo o apoio europeu a Kiev e a necessidade de dissuasão militar credível.

Mariana Mortágua rejeitou o alarmismo. “Putin não chegou a Kiev porque a Europa apoiou a Ucrânia. Mas também porque a Rússia tem limites. Comparar distâncias internas não é argumento”, afirmou, criticando a lógica de que mais armamento traz mais segurança.

A deputada bloquista acusou ainda os Estados europeus de hipocrisia. “Exportaram armas para a Rússia após a Crimeia, para Israel durante o genocídio em Gaza. A indústria militar europeia não é neutra nem ética”, apontou.

Tavares reconheceu falhas, mas reforçou que “a União Europeia não deve ser confundida com os seus Estados-membros”. E avisou: “Se não formos levados a sério, corremos riscos reais. A paz constrói-se com força e credibilidade”.

Velhas feridas da esquerda europeia

A discussão sobre o papel da União Europeia revelou tensões históricas entre os dois partidos. Rui Tavares recordou declarações passadas de figuras do Bloco, como Fernando Rosas e Francisco Louçã, para ilustrar o ceticismo bloquista em relação à Europa. “Há quem nunca tenha lamentado o fim da União Europeia. Nós sempre defendemos a construção europeia como projeto de paz”, disse.

Mariana Mortágua respondeu com ironia. “Eu chorei uma lágrima, sim. Quando vi o BCE e a Comissão Europeia esmagarem a Grécia. Foi um momento de violência antidemocrática”, afirmou. Reforçou que o Bloco defende uma Europa solidária e democrática, mas sem submissão aos “tecnocratas de Bruxelas”.

Apesar das críticas, ambos reconheceram a importância do projeto europeu, ainda que com ênfases distintas. Para Tavares, “não há alternativa à Europa unida”. Para Mortágua, “gostar da Europa é ter a coragem de a criticar”.

Milionários ou trabalhadores: quem foge mais depressa?

Na política económica, o tom foi mais convergente. Ambos defenderam a criação de rácios salariais nas empresas, que limitem a disparidade entre o maior e o menor salário. “Se o CEO quer ganhar dois milhões, que pague melhor aos seus trabalhadores”, sintetizou Mortágua.

Rui Tavares acrescentou que a União Europeia permite harmonizar regras económicas e laborais sem comprometer a concorrência. “Como nas quotas de género, também podemos legislar sobre desigualdade salarial”, disse.

A questão das fugas de capitais foi alvo de crítica comum. “Nunca nos perguntam se os pobres fogem. Só se os ricos fogem”, disse Tavares. Mortágua respondeu na mesma linha: “Há sempre um argumento para proteger os mais ricos. Mas os que ganham o salário mínimo não podem fugir de nada”.

Sobre empresas em falência, Mortágua defendeu que os trabalhadores devem poder assumir a gestão, com apoio do Estado. Tavares concordou, defendendo a regulamentação do direito constitucional à autogestão.

“A esquerda tem mais respostas do que a direita”

Nos minutos finais, os dois candidatos reforçaram os pontos de contacto entre Livre e Bloco, mas também delimitaram o espaço de cada partido. Rui Tavares apelou a uma governação progressista, com ética e ambição social. “A esquerda tem de falar de liberdade, e reivindicá-la. Há espaço para entendimentos, sim, com uma fasquia ética elevada”.

Mortágua foi prudente quanto ao PS. “Pedro Nuno Santos quer um voto do PSD para governar. Essa estratégia não resolve os problemas do país”, alertou.

A coordenadora do Bloco defendeu que a campanha deve ser centrada em propostas concretas: teto às rendas, reforma antecipada para quem trabalha por turnos, investimento em serviços públicos. “Não é sobre 2043. É agora”, concluiu.

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  • Utopias do BE
    15 abr, 2025 País Falido 08:35
    O Calhau de esquerda sonha em tornar este País uma nova Cuba ou albânia, com um programa utópico e considerações infantis sobre uma hipotética "paz", que se ouvidas em Moscovo, fariam Putin dar saltos de alegria. O que vale é que tal como em Moscovo, ninguém com 2 dedos de testa vai atrás deste (mau) canto de sereia, por cá.

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