05 mai, 2025 - 14:35 • João Pedro Quesado
Foi o último confronto de ideias, críticas e acusações entre os líderes dos partidos e coligações na Assembleia da República antes das eleições legislativas de 2025. Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos, André Ventura, Rui Rocha, Mariana Mortágua, Paulo Raimundo, Rui Tavares e Inês Sousa Real estiveram esta segunda-feira no Debate da Rádio.
Sem grandes novidades nos argumentos ou no estilo, os oito candidatos debateram a fundo o caso da Spinumviva e a justiça portuguesa, a governabilidade, os cenários pós-eleitorais, o apagão de 28 de abril e a defesa, além de respostas rápidas sobre temas como a eutanásia ou o acesso de crianças às redes sociais.
A frase é de Luís Montenegro, da AD (a coligação entre PSD e CDS). De forma mais completa, o primeiro-ministro disse: “O verdadeiro Pedro Nuno Santos reapareceu, eu bem disse que era tudo maquilhagem”.
O social-democrata disparou a provocação depois de acusar o PS de quebrar a “tradição” de ser o vencedor das eleições a governar, com a coligação à esquerda em 2015, acrescentando que “o PS convive mal com a derrota”.
Pedro Nuno Santos interrompeu para devolver a Montenegro a acusação de ter provocado a crise política, e o primeiro-ministro, enquanto se ria, apontou que o líder do PS “está mesmo nervoso”, e “fez um restyling” ao aparecer “mais sereno até esta semana”.
Agora “está sempre a interromper com insinuações”, picou Luís Montenegro, antes de falar da maquilhagem de Pedro Nuno.
A frase é de Pedro Nuno Santos, do PS. O debate começou pelo tema que provocou as eleições, levando Montenegro a defender-se que essa “questão é juridicamente intocável”.
O líder do PS atacou rapidamente, repetindo uma ideia que tem defendido desde fevereiro e sublinhando que “o pior que pode acontecer a um país é termos alguém a governar um país que tenha interesses particulares”.
Pedro Nuno Santos acusou ainda Luís Montenegro de ser “um fator de instabilidade”, já que “estes temas vão continuar a acompanhar” o primeiro-ministro.
A frase é de André Ventura, do Chega, em plena discussão com Paulo Raimundo depois de que uma questão sobre o que faria se a bancada do Chega perdesse deputados (questão a que fugiu).
Ventura definiu o objetivo como “vencer à direita” e virou depois a espingarda para o líder do PCP por “votar contra propostas que apresenta no Orçamento”.
Raimundo defendeu que “não alimenta troca tintas, nem demagogia, nem hipocrisias”, ouvindo depois a provocação “levou uma tareia tão grande no outro debate” de Ventura. Raimundo brincou — “estou aqui que nem me aguento” — e provocou risos quando disse ao líder do Chega que “daqui a nada estamos no nheca nheca outra vez”. O debate mudou de protagonista, mas a conversa entre os dois ainda demorou a parar.
A frase é de Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, que decidiu atacar Ventura na fase das perguntas sobre cenários pós-eleições — depois de também evitar responder à pergunta sobre o que faria se a IL não crescesse.
“Já disse que André Ventura é socialista, estava a ser manso, é mesmo comunista”, acusou Rocha depois de ver o líder do Chega a criticar o PCP por não apoiar propostas suas.
André Ventura devolveu com alguma ironia ao dizer, com reticências no fim, que “aumentar salários e pensões é comunista”, o que fez o líder da IL apontar que “a esquerda não tem propostas para o país” e apenas agita “papões”.
A frase é de Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, também quando se falava sobre cenários de governação.
Questionada sobre uma maioria parlamentar de esquerda em que o PS não é o mais votado de todos, Mortágua determinou que “só há uma garantia de estabilidade”, e que “o Presidente pode dar posse a quem entender”.
“Só conseguimos estabilidade com uma maioria de deputados”, e “tudo o resto são mini-ciclos", defendeu a bloquista, virando-se depois contra o PS que, diz, não é diferente da AD na habitação.
“A política do mal menor não mobiliza ninguém”, avisou Mortágua, acrescentando que “a sociedade das desigualdades está permanentemente a alimentar frustrações”.
A frase é de Paulo Raimundo, da CDU, de novo na fase das questões sobre os acordos de governação. O comunista não considera possível o PS governar se tiver menos votos que a AD, apontando que “em nenhum momento da história isso aconteceu”.
Depois, criticou o foco na “estabilidade governativa”, esquecendo “o fundamental que é a estabilidade das pessoas”.
“Os salários, as pensões que não chegam para pagar os medicamentos, se há creche para colocar os filhos, a estabilidade de quem tem de ter dois ou três empregos”, elencou Raimundo, criticando depois o PS por viabilizar o orçamento de 2025 do governo da AD.
Depois de Pedro Nuno apontar que chumbar o Orçamento do Estado de 2025 resultaria em “eleições ao fim de seis meses”, Raimundo pediu uma mudança de justificação já que “afinal” conta “a estabilidade governativa” ao invés “da vida das pessoas”.
A frase é de Rui Tavares, do Livre, na mesma fase do debate. Ao contrário de Raimundo, Tavares considera são conhecidas as “preferências” de Marcelo Rebelo de Sousa na estabilidade governativa.
“A IL quer uma conversa sobre a Spinumviva e a chave do armário onde está a motosserra”, disse o porta-voz do Livre, alertando que a direita “pode estar a quatro lugares de uma maioria constitucional”.
“Ou a esquerda tem clareza ou podemos estar em face de uma situação constitucionalmente perigosa para o país”, avisou Rui Tavares, listando depois as condições para apoiar um governo — inexistência de conflitos como o da Spinumviva, audições prévias a ministros no Parlamento, não se faça privatização do SNS mas sim investimento, o reconhecimento da Palestina e a continuação do apoio à Ucrânia.
A frase é de Inês Sousa Real, do PAN, quando defendeu que o partido quer ser “útil à democracia”.
Depois, a porta-voz apontou que “é difícil uma aproximação a Luís Montenegro quando baixa o IVA das touradas ou quando anda a fazer reuniões para voltar a matar os nossos animais de companhia”.