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Legislativas 2025

A direita que "não gosta de direitos" e que Tavares quer entortar

09 mai, 2025 - 00:31 • Alexandre Abrantes Neves

A greve da CP ajudou o Livre a afinar a estratégia para tentar enfraquecer uma possível solução à direita - que acusa de lançar discussões "assombrosas" sobre direitos conquistados no 25 de Abril. Já quanto a metas para as legislativas de 18 de maio, Rui Tavares continua a não se comprometer com números específicos.

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A direita que "não gosta de direitos" e que Tavares quer entortar
Ouça aqui a reportagem da Renascença. Foto: Hugo Delgado/Lusa

A paralisação da CP e a discussão sobre uma possível alteração da lei da greve fizeram Rui Tavares, do Livre, endurecer o discurso contra a direita e acusá-la de ter mudado para pior. “Estamos a viver tempos em que já não temos uma direita que goste tanto de direitos como ela costumava gostar”, criticou, à margem de uma iniciativa sobre cultura em Lisboa.

Mais do que a questão circunstancial sobre esta greve em específico, Rui Tavares move a questão para centro do debate sobre as bases da democracia portuguesa. E, para isso, o historiador coloca-se em terreno confortável e puxa da memória coletiva para provar o seu ponto.

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“Nós vemos um primeiro-ministro que, em plena campanha eleitoral, decide reabrir um debate sobre um direito conquistado no 25 de Abril e que já há mais de um século teve muita luta em Portugal. Como é que um primeiro-ministro reabre o consenso que existe em relação ao direito à greve e o quer infringir? É uma questão que me parece assombrosa, até”, lamentou.

As palavras podem ser vistas como tomar a parte pelo todo, mas na manhã desta quinta-feira Rui Tavares já explicava quais são alguns dos outros direitos que acredita ficarem em risco com o governo da AD. Quando questionado pela Renascença sobre a postura do governo na gestão da greve na CP, Rui Tavares colocou a marcha-atrás e recuou até ao passado fim-de-semana.

Este Governo pode anunciar deportações a um sábado de manhã (…) e aí não é governo de gestão. Mas para fazer aquilo que o ministro das Infraestruturas tem de fazer – sentar-se à mesa, falar com os trabalhadores e perceber que há funções que, mesmo com um governo de gestão, muitas vezes, são inadiáveis, porque o serviço está a faltar aos portugueses – aí um governo de gestão não pode fazer. Não – o que não quer é fazer”, criticou.

Nas entrelinhas da estratégia para enfraquecer um possível governo à direita, o líder do Livre parece dizer que o Governo da AD está menos importado com os problemas do quotidiano dos portugueses e mais preocupado com “a jigajoga da campanha eleitoral”, para não perder fôlego nas sondagens. Mas, na cidade dos galos, deixa um aviso de amigo aos adversários: prognósticos só no fim do jogo. “A direita não pode contar com o ovo antes do ovo ser posto”, avisou, na feira de Barcelos.

O alvo do costume e “basta fazer as contas”

O dedo foi fortemente apontado à AD, mas Rui Tavares não quis deixar de fora das críticas aquele que tem sido o seu alvo mais recorrente. “Ter um Estado social agora é radical? Só se for para Rui Rocha”, respondeu Tavares ao homónimo que, na quarta-feira, acusou PS, Bloco de Esquerda e Livre de estarem a formar uma “esquerda perigosa”.

Para justificar a tese de uma “direita a radicalizar-se”, o porta-voz do Livre insiste na revisão constitucional da IL que deixam direitos “afuera”, o “aventureirismo” das privatizações e, principalmente, o “motosserismo” que muitos liberais dizem apoiar. “O Bernardo Blanco, da IL, já disse que, entre Macron e Milei, preferia de longe Milei. Isso é que é extremismo”, apontou.

O objetivo, já assumido, é disputar o lugar de quarta força política nacional com os liberais - e também fortalecer uma possível alternativa governativa de esquerda e enfraquecer uma solução à direita. E se isso pode fazer prever que as críticas a Rocha vão continuar nos próximos dias, não parece significar que Tavares se venha comprometer com um número específico de deputados a alcançar. “Dá azar, eu não vou dar uma meta específica”, reforçou, entre risos.

Mas, em plena Feira de Barcelos, em Braga, Rui Tavares assumiu estar confiante na eleição de um deputado por aquele distrito. Se a este se juntarem os quatro lugares ocupados atualmente pelo partido no parlamento, os deputados estreantes desejados em Leiria e Aveiro e ainda os lugares extras sonhados para Lisboa, Porto e Setúbal, o número de deputados ambicionados pelo Livre situa-se nos dez, mais do dobro do que os atuais.

Se vocês fizerem as contas, como dizia o outro, chegam a números. Mas eu não vou dar esses números”, rematou Tavares.

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