09 mai, 2025 - 23:53 • Tomás Anjinho Chagas
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A primeira semana de campanha eleitoral do Chega fica marcada por três protestos, em três cidades diferentes, por fortes protestos da comunidade cigana. Primeiro foi em Aveiro, depois em Braga e esta sexta-feira em Viana do Castelo.
O tema tem sido, sucessivamente, puxado à força para a campanha de André Ventura, que tem reagido de forma acesa, procurando devolver as críticas e vitimizar-se com os incidentes.
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Em tempos, Ventura usou este tema com uma das principais bandeiras do Chega, mas ultimamente não é basilar. Na campanha eleitoral do ano passado, só o fez raras vezes e de um modo discreto. Agora, o líder do partido, ao seu estilo, já está a aceitar que o tema é incontornável e prepara-se para surfar a onda mediática.
Na noite desta sexta-feira, sem que ninguém lhe pedisse, de forma voluntária e espontânea, André Ventura tocou no tema e preparou o terreno: "Em Portugal, ninguém é menos que outros por ser cigano, mas também não pode estar acima de outro por ser cigano", atirou.
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O mais recente episódio foi esta sexta-feira. Na última arruada da primeira semana da campanha, tudo parecia ir bem e pacífico. André Ventura falou aos jornalistas e, finalmente, sobre um tema que não fossem estas receções hostis por parte da comunidade cigana em Braga no dia anterior, e em Aveiro dois dias antes.
Só que não há duas sem três: no fim da arruada, em Viana do Castelo, cerca de duas dezenas de ciganos esperavam-no no fim da Feira Semanal, a acusar André Ventura de ser “racista” e de “alimentar o ódio”.
Foi o momento mais tenso da semana de campanha. Junto ao Arco da Porta Nova, no centro de Braga, local escolhido para arrancar a arruada na "cidade dos arcebispos", vários membros da comunidade cigana esperavam por André Ventura.
Com o atraso do líder do Chega, foi mais de meia hora de troca de insultos entre a dúzia de manifestantes e as dezenas de militantes do partido que hasteavam bandeiras brancas e bandeiras nacionais.
Quando chegou, André Ventura foi insultado, e até cuspidelas foram atiradas para cima da comitiva do Chega.
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O primeiro episódio deste género aconteceu na quarta-feira. No fim da arruada em Aveiro, a comitiva do Chega tinha à sua espera meia dúzia de pessoas da comunidade cigana, que o acusaram de ser racista e de alimentar o ódio.
Em todos os episódios, André Ventura respondeu que todos devem ter os mesmos deveres e direitos, e sugeriu que aquelas pessoas só ali estariam porque não trabalham.
O efeito que estes protestos, uns mais violentos que outros, têm no eleitorado permanece uma incógnita. Mas uma boa parte do núcleo duro de André Ventura está confiante que estes episódios não prejudicam o partido nas urnas, pelo contrário.
“Penso que acaba por ser positivo para nós”, explica um dirigente à Renascença. Com as imagens dos protestos a rolar na comunicação social e nas redes, muitos acreditam que o Chega pode sair beneficiado eleitoralmente.
Outro dirigente partilha a opinião: “são benéficos, a população não gosta deste tipo de comportamento numa sociedade de direito”, considera.
Um terceiro membro da direção não partilha do entusiasmo e assume que o efeito é ainda incerto: “Não percebemos ainda, no entanto, já irrita andarem sempre atrás de nós”.
Mas a convicção geral é que estes protestos da comunidade cigana, que têm sido um dos principais temas da campanha, vão gerar simpatia para o Chega. “As métricas das nossas redes demonstram que isso é positivo para a nossa mensagem de igualdade de direitos e obrigações para todos, quer no número de views e quer no de likes”, comenta com a Renascença um outro dirigente.
Nem sempre André Ventura toca no tema atualmente. O líder do partido sabe que não é com isso que se vence eleições, mas há alguns anos, quando o Chega ainda nem existia, foi com os problemas com a comunidade cigana que André Ventura projetou a sua imagem.
Estávamos em 2017, André Ventura era militante do PSD e foi o candidato pelos social-democratas à Câmara de Loures. Uma autarquia "impossível", entregue ao PCP há vários anos e onde o PSD sabia que a vitória não era um cenário realista. Mas a campanha foi o trampolim que uma figura - que se começou a projetar no comentário desportivo – precisava para para impressionar.
Na altura, uma entrevista que dá ao “jornal i” é uma pedrada no charco. Premeditada e voluntariamente, André Ventura acusa a comunidade cigana de viver “quase exclusivamente de subsídios do Estado”. As declarações valem-lhe a retirada da confiança política por parte do CDS (na altura liderado por Assunção Cristas). A polémica instalou-se e foi Passos Coelho que o segurou e recusou ceder à pressão – o que explica, em parte, a lealdade que André Ventura tem pelo antigo primeiro-ministro.