19 mai, 2025 - 02:00 • João Malheiro
A noite eleitoral foi longa, mas as dúvidas sobre os resultados finais rapidamente se dissiparam. A AD festejou um reforço em votos e mandatos, o PS viu o Chega colar-se e a esquerda percebeu que iria perder mandatos.
Nos discursos dos líderes políticos não se abriram portas a entendimentos ou coligações, mas AD e IL querem garantir governabilidade, enquanto o Chega garante que o sistema "abanou". Já sabemos que o PS vai ter um novo líder brevemente enquanto Livre, BE e CDU querem preparar-se para um combate parlamentar em que a esquerda parte em desvantagem.
O PAN manteve Inês de Sousa Real na Assembleia da República, mas queria mais. Mesmo assim, há um partido que apenas um deputado é motivo para sorrir: O JPP consegue chegar ao Parlamento nacional e trazer, pela primeira vez, um décimo partido para uma legislatura.
A Renascença resume as principais frases da noite.
Luís Montenegro (AD): "Todos devem saber colocar o interesse nacional acima de qualquer interesse"
Num discurso em que celebrou "um voto de confiança no Governo, na AD" e em si próprio, Luís Montenegro pediu a todos os partidos para colocarem o interesse nacional "acima de qualquer interesse".
O social-democrata considerou que os portugueses querem que o Governo respeite e fale com a oposição, mas também quer que a oposição respeite e fale com o Governo.
Montenegro anunciou que o novo executivo vai “continuar a levar a cabo mais regulação da imigração”, proposta que gerou uma das mais sonoras ovações da noite. De seguida, prometeu “mais reforço da segurança, mais combate à criminalidade grave e corrupção, e o reforço das nossas estruturas das forças de segurança e armadas".
Afirmou, ainda, que Portugal “não é imune à pressão externa” e defendeu que o país “tem de ser parte das grandes decisões da Europa”, mas alertou que o trabalho interno “não pode deixar de ser feito”.
Pedro Nuno Santos (PS): "Partidos que provocaram a instabilidade foram premiados"
Apesar de anunciar a saída da liderança do PS, Pedro Nuno Santos não deixou de criticar o Governo e Luís Montenegro, apontando que "os que provocaram a instabilidade foram premiados".
Para o socialista, o PS, que dizer ter procurado sempre a estabilidade, acabou por sair penalizado.
Garantindo que não quer ser "um estorvo para o PS", Pedro Nuno Santos não deixou de defender que o PS "não deve dar suporte" ao futuro Governo da AD.
"Luís Montenegro não tem a idoneidade necessária para o cargo de primeiro-ministro e as eleições não alteraram essa realidade", defendeu.
André Ventura (Chega): "Acabou o bipartidarismo"
O líder do Chega não perdeu tempo em vaticinar uma nova realidade para a vida política do país, garantindo que "nada ficará como dantes".
Para André Ventura, os resultados eleitorais que fizeram o seu partido igualar o PS - pelo menos, enquanto os mandatos da emigração não definem quem será a segunda força política no Parlamento - são sinal de que "acabou o bipartidarismo em Portugal".
"Não sabemos ainda o resultado final destas eleições, mas, com os resultados obtidos até ao momento, podemos assegurar ao país algo que não acontecia desde 25 de abril de 1975: o Chega tornou-se nestas eleições o segundo maior partido", celebrou.
André Ventura promete não ir "atrás de ninguém", mas vai exigir "contas a todos". E, pegando em críticas feitas por Pedro Nuno Santos sobre a agressividade do Chega e dos seus apoiantes, Ventura garante: "Ainda não viram nada".
Rui Rocha (IL): "O nosso papel será no Parlamento"
Rui Rocha não abriu porta a uma coligação com a AD, considerando que "as maiorias possíveis estão constituídas" e o lugar da Iniciativa Liberal "será no Parlamento, continuando a defender as nossas ideias".
No entanto, o liberal garante que o partido séria "garantia de governabilidade. Seremos garantia de solução para o país".
"Estamos disponíveis para todas as conversas e contactos, mas essa é a nossa posição. Seremos fiéis a nós próprios, não vamos oferecer tudo a todos", garante.
No final do discurso, aos jornalista,o liberal diz que não há cenário de maioria e que o partido está "isento dessa responsabilidade". Rui Rocha garante contudo que "não fecha diálogo com Presidente da República".
Rui Tavares (Livre): "Este é o início da reviravolta"
Rui Tavares foi dos poucos que, à esquerda, teve razões para celebrar. O Livre cresceu de quatro para seis deputados e o seu coordenador acredita que isso é sinal do "início da reviravolta".
É tempo do partido "dinamizar um grande movimento democrático e progressista", indo a "todos os cantos deste país falar com toda a gente".
Para Rui Tavares, Portugal "pode ser muito mais que isto, e que tudo o que construímos nestes 50 anos do 25 de Abril tem ainda muito para dar a todos os nossos concidadãos".
"Não achamos que seja normal ter um país em que a direita se radicalizou, em que a direita está num crescendo muito grande, em que a extrema-direita tem tantos deputados, e a esquerda esteja a decrescer", lamentou, ainda.
Paulo Raimundo (CDU): "É o tempo de combate"
A CDU perdeu um deputado, mas resistiu às previsões mais pessimistas. No entanto, num contexto de crescimento da direita, Paulo Raimundo diz que "é o tempo de combate".
"Não é tempo de conformação ou de entendimento com as direitas, não é tempo de dar a mão à direita, é o tempo de combate à política dos baixos salários, defender os serviços públicos, direito à habitação e contra a promiscuidade e mais favores ao capital".
O líder dos comunistas diz que a CDU vai "defender a democracia, a constituição e a paz" e, numa leitura dos resultados gerais, com um crescimento da direita, Raimundo fala numa "evolução negativa".
"É o tempo de democratas e patriotas assumirem o caminho da resistencia e da luta contra o retrocesso e abrir o caminho que o país precisa", concluiu.
Bloco de Esquerda (BE): "A esquerda tem uma derrota importante, o BE tem uma grande derrota"
Mariana Mortágua acabou sozinha no Parlamento. Foi a única deputada a ser eleita pelos bloquistas e assume "uma grande derrota" para o partido.
Contudo, apesar de admitir uma "reflexão", não abriu a porta à sua saída da liderança do BE.
Mariana Mortágua não se demite e reforça que encabeça “uma moção à próxima convenção” e que está “nos momentos bons e nos momentos maus”.
Mortágua considera que o partido fez “uma boa campanha, mobilizamos muita gente, fizemos porta a porta e orgulhamo-nos da campanha”.
Inês de Sousa Real (PAN): "Não é o resultado que gostaríamos de ter tido"
O PAN manteve a deputada única, contudo Inês de Sousa Real assume que "não é resultado que gostaríamos de ter tido".
A porta-voz do PAN, reconduzida pelo círculo eleitoral de Lisboa, admitiu que seria "importante que não estivesse sozinha no Parlamento" e que o partido "reforçasse a sua representatividade" em todo o país.
Inês Sousa Real agradeceu "o voto de confiança de quem garantiu que a causa animal e ambiental e os direitos das mulheres continuam sentados no Parlamento", numa altura fraturante da política nacional.
"O voto útil acabou por prejudicar mais uma vez a pluralidade democrática", lamenta.
Filipe Sousa (JPP): "Não vamos passar cheques em branco a ninguém"
O Juntos Pelo Povo fez história. Depois de nascer na Madeira, entra agora no Parlamento nacional. Naturalmente, muitos vão querer saber como é que o seu deputado único, Filipe Sousa, se vai posicionar, numa legislatura em que não há maiorias claras.
À Renascença, Filipe Sousa garante que a posição do partido "ao centro" e isso implica "não passar cheques em branco a ninguém”.
O novo deputado lamenta o “clima de guerrilha” que se tem vivido no Parlamento, em que “os verdadeiros problemas do país são secundarizados”.
Filipe Sousa lembra que o slogan do JPP é “a voz das ilhas por Portugal”, mas reforça que a questão é “também do ponto de vista social, onde há muitas pessoas que precisam de voz”.
Nuno Melo (AD): "Fez-se justiça à AD"
Nuno Melo, presidente do CDS-PP e dirigente da AD, fez a sua primeira intervenção após serem conhecidos resultados, considerando que “se fez justiça à AD, com grande vantagem para Portugal”.
“A AD voltou a vencer as eleições, reforçando o resultado de há um ano em percentagem, em votos e em mandatos”, sublinhou Nuno Melo.
“Foi reforçada a legitimidade e a credibilidade deste que é um projeto político que junta o PSD ao CDS”, disse Nuno Melo, considerando que o resultado também fortalece o papel de Luís Montenegro como líder do Governo.
O dirigente centrista apontou ainda críticas ao PS, acusando os socialistas de causarem uma crise política “totalmente desnecessária” e afirmou que foram por isso “fortemente penalizados”.