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10 DE JUNHO

Marcelo pede que se cuide "mais" dos portugueses que "ficaram para trás ou estão a ficar"

10 jun, 2025 - 12:00 • Susana Madureira Martins

A cerimónia militar do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas está a decorrer na cidade algarvia de Lagos, onde o Presidente da República terá agenda pública até ao final da tarde.Marcelo critica nacionalismos num país onde "ninguém pode dizer que é mais puro do que o outro". Ramalho Eanes foi condecorado com o grande-colar da Ordem Militar de Avis, num dia em que os candidatos presidenciais tiveram opções diferentes: o almirante Gouveia e Melo esteve ausente, com agenda pública em Lisboa, ao contrário de Luís Marques Mendes que fez questão de ver e ser visto pelos jornalistas.

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"Somos portugueses porque somos universais e somos universais porque somos portugueses." Foto: José Sena Goulão/Lusa
"Somos portugueses porque somos universais e somos universais porque somos portugueses." Foto: José Sena Goulão/Lusa
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Foto: José Sena Goulão/Lusa

No último discurso que proferiu num 10 de junho enquanto Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, apelou esta terça-feira ao "dever de criar e de nos ultrapassar e cuidar da nossa gente".

Marcelo Rebelo de Sousa discursava esta terça-feira durante a cerimónia militar do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a decorrer na Avenida dos Descobrimentos, em Lagos, na última vez em que participa nas celebrações enquanto chefe de Estado.

Num discurso lido, Marcelo pediu que se cuide "mais" dos que "ficaram para trás ou estão a ficar", considerando que estes são "intoleravelmente muitos, são demais", repetindo por várias vezes a necessidade de "cuidar dos nossos compatriotas" e da "pertença" de Portugal na Europa.

"Temos o dever de nos recriar, de nos ultrapassar, cuidar melhor da nossa gente, para que seja mais numerosa, mais educada, mais atraída a ficar nesta pátria feita de um retângulo e dois arquipélagos, se quiser ficar, ou a partir para voltar e nunca perder a saudade da terra, se quiser partir. Cuidar mais do que puder e dever ser feito, produzido, inovado, investido, exportado e sobretudo proporcionado a quem é nela a viver. Cuidar dos que já ficaram para trás ou estão a ficar, e são sempre entre dois e três milhões, e são muitos há muito tempo", lamentou Marcelo.

Numa crítica direta às desigualdades sociais que permanecem "regime após regime, situação após situação", o chefe de Estado disse que os que estão a "ficar para trás" são "intoleravelmente muitos, são demais", apelando a que se cuide dos "nossos compatriotas que todos os dias criam Portugal por todo o mundo". Na mesma semana em que decorre a conferência das Nações Unidas sobre oceanos, na cidade francesa de Nice, Marcelo pede que se cuide "do mar, dos oceanos, essa valia que é muito nossa, portuguesa e universal, universal e portuguesa, mas temos de a não ignorar, temos de não a minimizar".


Contra os nacionalismos - "Ninguém possa dizer que é mais puro do que qualquer outro"

Num discurso de quase dez minutos, Marcelo atirou ainda aos nacionalismos em Portugal, recordando os "quase 900 anos da pátria comum" onde conviveram "vindos de todas as partes, gregos, fenícios, romanos, germânicos, nórdicos, judeus, mouros, africanos, latino-americanos e orientais, e desde as raízes, lusitanos, lioneses, burgueses, gauleses, saxões, os mais antigos aliados políticos" e os "muitos mais que fizeram uma mistura" dos portugueses que fizeram com que "ninguém possa dizer que é mais puro do que qualquer outro".

Considerando que é preciso olhar para "as independências que ganhámos" mas também para "aquelas que perdemos, mas que conseguimos recuperar", no último discurso do 10 de junho que proferiu, Marcelo rebelo de Sousa salientou a necessidade de "recordar as epopeias que vivemos e os seus combatentes, desde há mais de cinco séculos, e o que delas soubemos acertar, aprender, converter em futuro nosso e da humanidade", pedindo que se tire também de tudo isso "o que errámos, o que desperdiçámos, o que não fizemos em continentes e oceanos". É "tudo isto", diz, "e muito mais", que "definiu o que somos"com país. "Somos portugueses porque somos universais e somos universais porque somos portugueses", sentenciou".

Marcelo apela ainda ao cuidado da "fraternidade" de Portugal com os povos e os Estados que "como nós falam português e fazem do português uma grande língua mundial". Na semana em que o país assinala os 40 anos de entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE), atual União Europeia, o Presidente da República pede que se cuide da "pertença na Europa, unida, aberta, que acredita em valores humanos, de dignidade, de respeito pelas pessoas, seus direitos e deveres, sua pluralidade de cultura e de vida. Este recriar Portugal é a nossa obrigação primeira neste novo ciclo da nossa história".

O discurso do Presidente da República surgiu, de resto, alinhado com o da escritora Lídia Jorge, conselheira de Estado e presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do 10 de junho que alertou contra a possibilidade de "loucos" chegarem ao poder e contra “a fúria revisionista que assalta pelos extremos”, num discurso em que condenou o racismo e a escravatura e onde assinalou que escritores como Shakespeare, Camões e Cervantes "perceberam bem que, em dado momento, é possível que figuras enlouquecidas, emergidas do campo da psicopatologia, assaltem o poder e subvertam todas as regras da boa convivência”.


Evocar Camões, "reler" Os Lusíadas

"Não há outro país do mundo que tenha o seu dia nacional escolhido por causa de um poeta". No seu último discurso de 10 de junho, o Presidente da República evocou Luís Vaz de Camões, alertando que "recriar Portugal é no fundo "reler" Os Lusíadas, a obra máxima do poeta do século XVI. uma "recordação do passado, mas aposta no futuro em anos em que Portugal parecia condenado a morrer".

Em jeito de despedida, Marcelo agradeceu "a esse povo anónimo" que é Portugal, um país que "não é uma ideia abstrata, não é apenas uma paixão, um amor sem conteúdo, é uma história, é um passado, é um presente, é um futuro, mas é um povo, é gente de carne e osso, com alegrias e tristezas, com júbilos e com dores, com euforias e sacrifícios".

O elogio aos portugueses e ao país nos discursos de celebração do 10 de junho foi, de resto, uma constante do Presidente da República ao longo dos dez anos de mandato e o último não foi exceção. "Isto é Portugal, isto é Portugal, os portugueses e as portuguesas, e nele os nossos combatentes, os nossos militares, esses militares que aqui estão, todos os anos pelo 10 de junho, mas estão na nossa história desde que nascemos", sentenciou já na parte final da intervenção.


Condecoração a Ramalho Eanes e a farpa a Gouveia e Melo, que "tem de fazer pela vida"

Numa altura em que o país se prepara para as eleições presidenciais de 2026 e, de novo, há um militar - o almirante Henrique Gouveia e Melo - na corrida a Belém e à sucessão de Marcelo, o Presidente da República condecorou o general António Ramalho Eanes, antigo chefe de Estado, com o grande-colar da Ordem Militar de Avis.

"Somos a pátria que vive em liberdade e democracia, feitas por esses soldados. É essa gratidão que queremos testemunhar neste 10 de junho de 2025 em Lagos, condecorando quem foi, nos mais de 90 anos da sua vida, combatente em África, capitão de Abril, protagonista de novembro, chefe militar até ao comando supremo, primeiro Presidente da República Portuguesa eleito livremente pelo povo português", começou por dizer Marcelo referindo que Eanes "merece como ninguém" o primeiro grande-colar da Ordem Militar de Avis, que nunca atribuído e cujas insígnias foram impostas pelo Presidente da República no final da intervenção.

Condecoração imposta a Eanes, Marcelo haveria minutos mais tarde de ser sibilino sobre Henrique Gouveia e Melo, que esteve ausente das cerimónias do 10 de junho, em Lagos, e que tem agenda pública esta terça-feira, em Lisboa, numa homenagem aos combatentes do Ultramar. Em declarações aos jornalistas, no final da cerimónia militar e ainda dentro do recinto, o Presidente da República comentou a ausência do almirante em Lagos: "Os candidatos têm de fazer pela vida". Ao invés, Luís Marques Mendes, conselheiro de Estado e candidato presidencial apoiado pelo PSD, esteve presente nas cerimónias na Avenida das Descobertas e fez mesmo questão de ver e ser visto pelos jornalistas, passando pela bancada de imprensa que cumprimentou, afastando-se depois, sozinho.


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