15 jun, 2025 - 15:50 • Susana Madureira Martins
"O que nos une nesta sala é o amor a Portugal". Foi desta maneira que António José Seguro, candidato à Presidência da República, arrancou o seu discurso lido com teleponto para apresentar a corrida à Presidência da República, que está a decorrer no Centro Cultural das Caldas da Rainha, no distrito de Leiria.
"As pessoas estão fartas de promessas vazias, jogos partidários e discursos que nada resolvem", disse o ex-líder do PS, justificando que é "por Portugal" que é candidato à Presidência da República. "Eu não venho da política tradicional", voltou a dizer, referindo que esta candidatura "não é partidária nem nunca será", demarcando-se do PS, partido que liderou.
Na agenda "própria" que diz ter, Seguro diz que é necessária "uma nova cultura política, baseada no diálogo e no compromisso, afastando a cultura de tribo e de trincheiras". Seguindo o que o próprio PS já manifestou como posição de princípio, o candidato presidencial diz que não considera que a revisão constitucional "seja prioridade".
Num discurso com muitas interrupções devido às palmas dos apoiantes na sala, Seguro diz querer deixar "claro que o chumbo do Orçamento do Estado não implica automaticamente dissolução do Parlamento", numa posição contrária à que tem sido adotada pelo atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, desde 2021. A "prioridade", diz, é "promover o acesso das pessoas à habitação e aos cuidados de saúde a tempo e horas".
Prometendo, se for eleito, uma "vigilância democrática" e que "escuta antes de falar", que "não divide nem se impõe, mas constrói entendimentos", António José Seguro promete estar "próximo" dos cidadãos e irá "ouvir o país inteiro, de forma permanente". "Não me fecharei no Palácio", garante o candidato presidencial.
No discurso, Seguro quis deixar "claras" duas posições sobre aquilo que entende serem os poderes presidenciais. A primeira é a de "cumprir e fazer cumprir" a Constituição, prometendo que fará "tudo" o que a Lei Fundamental lhe "permitir" e o que a República lhe "exigir".
A segunda interpretação que o candidato faz dos poderes presidenciais é que, embora o Presidente da República seja "formalmente" o Comandante Supremo das Forças Armadas, "nunca deve procurar exercer influência direta na cadeia de comando militar", no que pode ser lido como uma indireta e uma demarcação em relação ao militar na reserva e também candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo.
"Um Presidente respeita a separação de funções entre Presidente, Governo e chefias militares", diz Seguro, que recomenda: "O comandante supremo das Forças Armadas não pode ser visto nem pensado enquanto possuidor de um poder de comando direto, mas enquanto detentor de uma responsabilidade constitucional, de zelar pela legalidade, pela integridade e pela missão cívica das Forças Armadas".
Definindo no seu discurso que a Europa "precisa de adotar uma resposta comum" e defendendo que os "nacionalismos não são solução", acusando que "foram responsáveis pelas maiores tragédias mundiais do século passado", António José Seguro diz que a resposta passa pelo "aprofundamento da integração política". Sobre os gastos com Defesa, que Portugal admite antecipar para os 2% do PIB ainda este ano, o ex-líder socialista pede "cautela".
"Ouvem-se vozes a dizer que necessitamos de mais dinheiro para a Defesa e segurança europeia. Recomendo cautela. Em 2023, o conjuntos dos Estados da UE e o Reino Unido gastaram em defesa três vezes mais do que a Rússia. Antes de gastarmos mais, devemos gastar melhor", defende Seguro. E isso passa por ter "economias de escala, desenvolvendo tecnologia europeia e criar um sistema científico europeu com aplicação dual: na defesa, mas também noutras áreas, nomeadamente a economia".
O candidato à corrida a Belém faz outro aviso que o próprio PS tem feito ao Governo da AD: "Os gastos em Defesa não podem ser feitos à custa da saúde, da educação e da proteção social".
Na "agenda própria" com que se apresenta, António José Seguro diz que tem o "desígnio" de um Pacto para a Prosperidade, que envolva "todos" os partidos políticos, os parceiros sociais, as universidades e "todos os interessados". Há áreas centrais em que, defende o candidato, as políticas públicas "não podem mudar sempre que muda um Governo".
Seguro defende, por isso, "estabilidade e previsibilidade", nas políticas, assumindo 7 preocupações "fundamentais". O compromisso com a justiça social e os direitos humanos; a defesa da democracia e do Estado de Direito; a abertura ao diálogo e à concertação política; a valorização da cultura, da Ciência e da Educação; o compromisso com a solidariedade inetrnacional, "pugnado pela paz na Europa e em Gaza"; aposta em políticas que "valorizem a remuneração do trabalho e clara afirmação de uma classe média e por último a defesa da participação de Portugal "no centro da integração política europeia".
Uma sessão de apresentação que começou com algum atraso, estando marcada para as 16H00 deste domingo, mas a sala ainda demorou algum tempo a ficar completa e começou quase um quarto de hora depois com uma longa salva de palmas a Seguro dos apoiantes, que agitaram as dezenas de bandeiras de Portugal que foram colocadas nas cadeiras e nos camarotes do auditório e que logo à entrada do ex-líder do PS na sala, gritou "Portugal".
A apresentação de Seguro à corrida a Belém arrancou com um pequeno teatrinho com dois atores e a filha do candidato, Maria Seguro, a antecederem a entrada em palco, com um Centro Cultural das Caldas da Rainha cheio que nem um ovo e onde lê no enorme ecrã o slogan "Conto consigo" com a assinatura do candidato e um desenho estilizado da bandeira de Portugal.
Uma sessão em que se regista a ausência de membros da atual direção do PS, ainda afeta a Pedro Nuno Santos, o ex-líder do partido. À mesma hora desta apresentação nas Caldas da Rainha, José Luís Carneiro, candidato à liderança do partido está num plenário com militantes em Tondela. Presentes no auditório do Centro Cultural das Caldas da Rainha estão os apoiantes de sempre de António José Seguro: O eurodeputado Francisco Assis, Alberto Martins, antigo líder parlamentar socialista, Maria de Belém Roseira, ex- presidente do PS e candidata à Presidência da Republica em 2016 à revelia do partido, João Soares ou ainda o candidato à câmara de Évora, Carlos Zorrinho.