19 jun, 2025 - 12:25 • José Pedro Frazão
"É preciso baixar a temperatura do discurso político", defende Mariana Vieira da Silva, ao fazer a associação entre linguagem agressiva e a ocorrência de violência na sociedade. No programa "Casa Comum" da Renascença, a antiga ministra saúda a Polícia Judiciária e recorda que a violência física cresce quando há processos de desumanização de uma parte das pessoas.
"Esta operação mostrou que a forma como , do ponto de vista verbal, o que se diz sobre certas pessoas - e o não terem direito a viver e a benefícios - tem consequências", alerta a deputada do PS, para quem a linguagem agressiva do Chega tem consequências na violência na sociedade.
A antiga ministra ressalva que não há indícios da proximidade entre o partido de André Ventura e os motivos da operação policial desencadeada esta semana. Vieira da Sila argumenta que as palavras agressivas usadas pelo Chega no Parlamento tornaram-se correntes no hemiciclo, mas alerta que há mais vida para além do Parlamento.
"Quando vemos televisão, observamos um nível de ataque no comentário político absolutamente inaceitável e que tem consequências. Quando há deputados a colocar vídeos de uma cidade da área metropolitana de Lisboa a dizer que 'temos que limpar a Amadora', isto tem consequências., O que é que é 'limpar' face ao vídeo que foi colocado?", questiona Mariana Vieira da Silva que pede cuidado com a forma como todos os políticos se expressam "e também a comunicação social, porque a forma como se ampliam determinadas mensagens também tem consequências".
Duarte Pacheco não tem dúvidas em identificar uma ligação indireta " entre um discurso agressivo e o exemplo que damos à sociedade", evocando os discursos de dirigentes de futebol com impacto nas claques,
"O discurso muito violento de alguns dirigentes do Chega, podem levar a esse tipo de comportamento. Em 30 anos de Parlamento, um dos momentos que me deixou com mais vergonha foi a recepção que fizemos ao Presidente Lula e o modo como eu vi representantes do povo português, aos gritos, a chamarem-lhe ladrão e criminoso. Isto não é aceitável. Depois o que é que queremos que lá fora os outros façam? Se damos este exemplo, é natural que depois os outros, lá fora, repitam estes argumentos e até com agressões físicas", afirma Duarte Pacheco, na Renascença.
No programa Casa Comum, o antigo deputado do PSD apela ao Chega para que "se não quer que seja conotado com este tipo de comportamentos na sociedade, tem que dar o exemplo" , defendendo aquilo em que acredita, "mas sem o tal discurso de violência que incita à violência".
Noutro plano, o antigo deputado espera que não haja contemplações do poder Político "como houve no caso das FPs25", manifestando-se contra amnistia para "pessoas que também mataram, que também saquearam, que também ofenderam, que utilizaram violência física e que tiraram vidas a portugueses".
Casa Comum
O militante social-democrata esteve 30 anos no Par(...)
No rescaldo da operação da PJ que desmantelou um grupo neonazi que planeava ataques a órgãos de soberania, a antiga ministra do PS pede à nova titular da Justiça que não deixe de falar da violência extremista.
"Temos que ser capazes de dizer quais são as dimensões complicadas da segurança em Portugal - como a violência doméstica, por exemplo - mas também falar sobre este tipo de violência que está a crescer e que põe mais em causa a segurança do que muitas outras dimensões que têm sido referidas no espaço público sobre a segurança"", alerta Mariana Vieira da Silva numa referência aos discursos que ligam imigração à criminalidade.
A dirigente socialista espera que a Ministra da Administração Interna " com o seu perfil profissional, com o trabalho que fez na Provedoria de Justiça, seja aqui uma voz de bom senso".
A antiga ministra pede atenção ao financiamento destes movimentos extremistas, "porque são visíveis, um pouco por toda a Europa, mecanismos até internacionais de financiamento destes grupos e que precisam também de ser acompanhados". Mariana Vieira da Silva pede "concentração nestas novas ameaças", lembrando que " o país achava que Portugal era um mundo à parte e que não havia ascensão da extremo direita"
"Também aqui nós não somos um mundo à parte. E as dinâmicas, por exemplo, da invasão do Capitólio, que vimos noutros países, não são impossíveis de acontecerem no nosso país", remata Mariana Vieira da Silva na Renascença.