13 set, 2025 - 10:31 • Susana Madureira Martins
A menos de um mês das eleições autárquicas de 12 de outubro, o presidente do PS, Carlos César, dispensa “fidelidades partidárias” aos autarcas do PS e exige aos candidatos do partido que sejam “exemplos de honestidade” e que sejam “capazes de ouvir e agir com competência”.
“Não pedimos aos nossos autarcas fidelidades partidárias, mas sim fidelidade aos seus eleitores e atenção ao seu território, mas se se distinguirem como fatores de mobilização da cidadania, como exemplos de honestidade”, disse o dirigente do PS no arranque da convenção autárquica do partido que decorre este sábado em Coimbra, no Convento de São Francisco.
“Se forem capazes de ouvir e agir com competência e resolver problemas, então não só merecem todas as vitórias, como prestigiam a Democracia e honram a missão e as melhores ambições do PS”, acrescentou César.
O presidente do partido carrega na tecla sobre a necessidade de ética dos autarcas do PS. César quer “preocupação de discernimento na deteção das prioridades para um desenvolvimento local sustentado, e não para obras de fachada e bravatas de ocasião, na exigência de um sentido ético na conduta e de humanismo na ação e não de cedência a meros apetites mediáticos de conjuntura”.
O PS lança este sábado o compromisso autárquico e tenta que os candidatos não se encantem com eventuais acordos pós-eleitorais com o Chega para conquistar maiorias nas autarquias. É, de resto, o que consta do compromisso autárquico que é lançado pela direção na convenção de Coimbra e que o líder do PS, José Luís Carneiro, fez questão de deixar claro na entrevista que deu ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal Público.
Em Coimbra, o presidente do PS atirou particularmente ao partido liderado por André Ventura, referindo que os socialistas precisam de “um poder local forte e esclarecido”, numa altura em que, diz, o país se confronta com um “poder central fraco e sem rumo e com a jogatana e os desmandos perigosos que nos chegam da extrema-direita”.
“Nunca a vitória do PS significou tanto como agora, para um novo fôlego para a Democracia portuguesa”, avisa o presidente do partido.
Crítico da ação do Governo, nos incêndios deste verão que, segundo o dirigente socialista, “destruíram recursos e lançaram o pânico nas comunidades e nas famílias”, mas também crítico da crise nas urgências do Serviço Nacional de Saúde, César começou e acabou o discurso em Coimbra a fazer vários avisos sobre o caminho do PS local que pode ficar minado pelo Chega, que o dirigente socialista classifica como uma espécie de falso “canivete suíço”.
“Importa, porém, que os portugueses também possam perceber, o desvalor para as suas vidas do extremismo populista. Quando oiço o Chega falar sobre o país, lembro-me sempre de um canivete suíço que comprei numa loja low cost de bugigangas: lá vistoso e barato era, mas quando se tratou de fazer obra com ele, desmanchou-se aos bocados. Parecia que servia, mas não serviu para nada. A extema-direita parece boa na oposição, mas não prestará para nada que sirva ao povo num Governo", concluiu César.
Com uma plateia cheia de candidatos autárquicos no claustro a céu aberto do Convento de São Francisco, César dirigiu-se em particular à candidata do PS à câmara de Lisboa, Alexandra Leitão, salientando o “sentido de responsabilidade, a decência, a prontidão e a sensibilidade” que revelou na sequência da tragédia com o elevador da Glória.
Leitão foi uma escolha pessoal da anterior direção de Pedro Nuno Santos, mas é uma escolha plenamente assumida pelo novo secretário-geral, José Luís Carneiro, sobre quem César diz estar a “recuperar a energia” que o PS precisa para “se confirmar como uma alternativa”.
Combater a intenção do Governo em avançar com mexidas na legislação laboral é um dos cavalos de batalha do PS e poderá marcar as semanas de debate orçamental que aí vê. O tema não ficou de fora do discurso do presidente do partido.
“O governo desencanta uma reforma laboral regressiva de direitos e da segurança no emprego que promete perturbação, perda de direitos, precariedades, desconfianças entre empregados e empregadores e que terá a nossa mais firme, mas construtiva oposição”, avisa Carlos César.
É um ponto sensível para os socialistas que elaboraram e legislaram a agenda do trabalho digno e César avisa sobre o que pode acontecer se as mexidas forem em frente. “Num momento em que se apela, face à eclosão, e mesmo às ameaças de regimes autocráticos e ditatoriais, em que se apela à “coligação das democracias” e, no nosso caso, pelo menos à defesa do nosso legado constitucional, o governo português tende, a contraciclo, para uma conjugação com os que advogam o emagrecimento dos direitos, liberdades e garantias como a solução para qualquer mal”.
César dá a entender que o PS irá bater-se contra as alterações à lei laboral, enquanto, diz, o Governo “parece entender que a proteção social é uma tarefa acessória e protelável, cujo financiamento pode ser trocado com vantagem por uma corrida de Fórmula1 ou por um qualquer dispêndio fútil que lhes pareça dar votos”.
César apela à “estabilidade” e “coesão social e económica” e avisa sobre o que pode vir aí, mesmo tendo em conta as previsões mais otimistas do Governo. “Pesem embora as estimativas do governo sobre a divida pública, os meios poderão vir a escassear, a desaceleração da atividade económica é previsível e as causalidades externas vão, com certeza, pesar na economia como nos orçamentos”.
César carrega nas tintas de um problema que pode vir aí. E “não são só as perturbações potenciais da evolução, por causa da política fiscal americana, ou a volatilidade em países de referência da UE, como agora na França, ou as debilidades da coordenação política europeia”, diz o dirigente socialista. A “ameaça” a prazo é o “expansionismo russo que existe, que é real, para o leste europeu como para Portugal, independentemente da obtenção da paz na Ucrânia”.
Para o dirigente do PS “o expansionismo russo é uma ameaça consequencial na fronteira ocidental europeia e ainda maior face à potencial diminuição do esforço dos EUA na defesa convencional europeia” e isso pode atingir em cheio Portugal, na opinião de César.
No discurso em Coimbra, o presidente do PS aconselhou o Governo a ser mais ambicioso no investimento na Defesa. “Isso significa que o país, não podendo colocar-se à margem de uma nova arquitetura de defesa, terá de fazer um esforço financeiro suplementar na programação militar e de ter de fazer opções orçamentais relevantes, para além dos níveis que o próprio Ministério da Defesa revelou estar a projetar”.
César dramatiza e considera que a Europa está “perante o risco mais elevado desde as movimentações que antecederam a II Guerra Mundial e só essa perceção já será importante na evolução da situação económica e financeira de países como o nosso que, aliás, já tem um crescimento económico inferior ao previsto pelo governo”.