03 mar, 2025 - 22:54 • Alexandre Abrantes Neves, enviado especial a Roma
Vão aparecendo aos poucos e poucos na Praça de São Pedro, no Vaticano. Fiéis de cadeiras de rodas e acompanhantes fixam a Basílica, param no meio do rodopio turístico e acabam a retribuir as orações pelos doentes do Papa Francisco, agora hospitalizado.
Para Beatriz Patrício, esta é uma consequência normal de quem sempre esteve “alinhado com os cuidados paliativos”. Esta gestora fundou a Casa do Cuidar em 2021, depois de conversar com uma médica paliativista. Até lá, confessa à Renascença em conversa em Roma, “nem fazia ideia” do que eram cuidados paliativos.
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Desde aí, o difícil tem sido arranjar tempo para dar vazão a tantas ideias para defender e promover a importância dos cuidados para quem tem uma doença incurável e terminal. Há formações para explicar o que é este tipo de cuidados, “masterclasses” para aprender a comunicar com os doentes e “muitas, muitas” ações feitas a pensar para ajudar o trabalho diário dos cuidadores informais.
“Aquilo que pretendemos é trabalhar os cuidadores informais. Aquilo que nós queremos mesmo alertar é aos próprios cuidadores, aos familiares, aos vizinhos, aos voluntários, o que é que são estes cuidados e que recurso é que a própria comunidade tem e que podem ser e devem ser usados”, conta, na delegação italiana das Irmãs Hospitaleiras onde está hospedada, uma congregação também especializada no tratamento em fim de vida.
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Em todas as atividades da associação encontra-se a inspiração de Francisco, uma referência que “guia para o cuidar, num mundo onde há cada vez menos”. No coração dos voluntários, encontra-se o lema emprestado do Papa – “incurável não é incuidável” –, mas também a vontade de, tal como Francisco, olhar para aqueles que não são protagonistas, mas que saem afetados pela doença.
Por isso, o trabalho da Casa do Cuidar passa também por alertar para a necessidade de servir e ajudar aquele próximo que acarreta custos – monetários e emocionais – por estar totalmente absorvido na missão de ajudar um doente.
“O custo não é carregado pelo Estado. (…) Há muitos cuidadores informais que são mães que cuidam de crianças. Quando depois querem fazer uma reintegração, na vida social e profissional, têm uma dificuldade enorme. Em termos dos cuidadores mais idosos, há o esforço adicional do peso da idade”, esclarece.
Em Portugal, e segundo o Instituto da Segurança Social, há mais de 15 mil cuidadores informais. Nas orações que tem feito pela saúde do Santo Papa, Beatriz junta também este grupo, para que consigam encontrar força para continuar, na fé simples e quotidiana desenhada por Francisco.
“O Papa Francisco traz-nos muito a Igreja para o hoje: ‘O que posso eu fazer? O que faria hoje Jesus Cristo?’. Este viver da fé, não de uma forma esotérica, mas no meu dia-a-dia – eu, Beatriz; eu, mãe; eu, profissional. Revejo-me muito também nas orientações que o Papa Francisco nos traz”, conta.
Por enquanto, e mesmo depois de sair de Roma, vai relembrar os “sorrisos arrepiantes” da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, em 2023, para continuar a rezar pelo Papa Francisco. É “justo”: pedir por aquele que está doente e que tantas vezes pediu pelos doentes.