05 mai, 2025 - 12:59 • Henrique Cunha
A perceção que os portugueses têm da família vai estar em destaque no Congresso Internacional sobre o Centenário da Ordenação do padre Alves Brás.
O coordenador da Comissão Científica do Congresso, Juan Ambrósio, revelou à Renascença que, durante o encontro que vai acontecer a 17 e 18 de maio, em Fátima, serão divulgados os resultados de “um inquérito que teve milhares de respostas” sobre qual é “a perceção que hoje os portugueses têm em relação à família”.
“Este é um dos grandes contributos que o Instituto das Cooperadoras quer dar também a esta reflexão sobre a família e ao cuidado sobre a família”, acrescenta.
Juan Ambrósio reconhece que este congresso internacional também pretende ser uma ajuda à causa da canonização do sacerdote nascido e ordenado na Guarda.
“Também se insere nesse contexto, ou seja, celebra-se o centenário da ordenação do monsenhor Alves Brás. Sabemos que está a ocorrer o processo com ordem à sua beatificação, já foi considerado venerável e, por ocasião desta celebração, julgou-se que seria importante fazermos uma reflexão também mais séria no contexto daquilo que é o seu contributo específico para a vida das comunidades cristãs e para uma dimensão muito importante da vida da comunidade cristã - e não só das comunidades cristãs, mas da sociedade em geral -, que é esta preocupação que ele sempre teve pela família”, contextualiza.
O responsável sublinha que o tema do congresso “anda à volta da questão da família” e constata que o pensamento de Alves Brás sobre esta questão “está muito alinhado com aquilo que foi também uma das grandes e primeiras preocupações do pontificado do Papa Francisco”.
“Sabemos que foi a família a quem ele dedicou sempre também uma grande atenção e dedicou também um lugar muito importante em todo este processo”, acrescenta.
Nascido em Casegas (Diocese da Guarda) a 20 de março de 1899, o padre Alves Brás era o quinto filho de uma família rural, cuja vida se orientava pelos valores do Evangelho.
Ordenado a 19 de julho de 1925 na capela do Paço Episcopal da Guarda, desempenhou várias missões, tendo sido pároco de Donas e diretor espiritual do Seminário Maior da Guarda.
Ao visitar os doentes no hospital foi capaz de compreender o drama de muitas jovens raparigas que vinham do campo para as cidades, como "criadas de servir". Profundamente tocado por esta realidade, sente no seu coração o que descobre ser o apelo de Deus a procurar respostas para as situações de indignidade em que se encontravam. É nesse contexto que cria a Obra de Santa Zita, que, rapidamente, se estendeu a todo o país, tendo proporcionado formação a milhares de jovens, possibilitando-lhes melhorar as condições de vida e de trabalho.
Em 1933, Alves Brás funda o Instituto Secular das Cooperadoras da Família, um instituto de Vida Consagrada que tem como Carisma e Missão “O Cuidado da Santificação da Família”, concebida como “fonte de vida humana e agente de transformação do mundo” (Constituições, art. 6).
O padre Alves Brás deixou, por isso, uma obra de apoio à família dinamizada por inúmeras fundações, que formam a Família Blasiana: Obra de Santa Zita (OSZ), Centros de Cooperação Familiar (CCF), Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCF), Movimento por um Lar Cristão (MLC), Fundação Monsenhor Alves Brás e o movimento juvenil “Focos de Esperança”.
Juan Ambrósio, que é professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, adianta ainda que o congresso, para além de uma “abordagem a toda a vida do sacerdote”, pretende também promover uma “reflexão sobre o que tem sido, neste ano de centenário, a memória e as expectativas deste caminho acerca de monsenhor Alves Braz”, para depois “analisarmos os desafios que se levantam ao futuro, para um debate onde teremos pessoas que vêm do estrangeiro – nomeadamente de Espanha - para nos ajudar a pensar estas questões”.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) divulgou esta segunda-feira uma nota pastoral sobre o centenário da ordenação sacerdotal do padre Joaquim Alves Brás.
No documento enviado à Renascença, a CEP, para além de fazer uma breve resenha histórica sobre a figura do fundador da Obra de Santa Zita, sublinha as qualidades de um “homem atento, de coração compassivo, que bate ao ritmo do coração de Deus”.
“A verticalidade da sua vida e da sua fé, a sua inabalável confiança em Deus, a sua solicitude pastoral para com as Famílias e os mais pobres, das quais irradiava uma força transformadora e salvadora, foram marcas inequívocas da sua existência, que levaram ao seu reconhecimento como Venerável, por Bento XVI, no dia 15 de março de 2008. E este processo, em ordem à sua beatificação, continua aberto e a ser percorrido”, sublinha a nota.
A CEP lembra que “o bem da família é verdadeiramente decisivo para a Igreja e para o mundo”, e afirma querer, “no contexto desta celebração, incentivar toda a Família Blasiana a prosseguir a obra iniciada pelo venerável padre Joaquim Alves Brás, cuja intuição e carisma continuam hoje atuais e necessários, convidando-a e animando-a à audácia do anúncio e da concretização da beleza do Evangelho da Família”.
“E que também no âmbito da celebração do Jubileu da Esperança e da dinâmica sinodal que estamos a viver, o Instituto Secular das Cooperadoras da Família e toda a Família Blasiana possam ser testemunho do cuidado pelas famílias e sinal de esperança, tendo a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Deus, a coragem de unir-se a Deus nesta história de construir um mundo onde ninguém se sinta só”, acrescenta.
“À Sagrada Família de Nazaré, por quem este Sacerdote nutria uma devoção especial e a propunha como modelo de vida e de ideal a todas as famílias e às suas seguidoras, Cooperadoras da Família, confiamos esta Causa”, conclui a nota pastoral dos bispos portugueses.