16 mai, 2025 - 10:48 • Aura Miguel
“A paz constrói-se no coração e a partir do coração, erradicando o orgulho e as pretensões e medindo a linguagem, pois também com as palavras se pode ferir e matar, não só com as armas”, disse esta manhã o Papa aos diplomatas.
No seu primeiro discurso aos representantes do Corpo Diplomático acreditados junto da Santa Sé, Francisco apontou três palavras-chave, "que constituem os pilares da ação missionária da Igreja e do trabalho da diplomacia da Santa Sé: paz, justiça e verdade.”
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A paz é um dom ativo e envolvente, por isso, as religiões, no pleno respeito pela liberdade religiosa em todos os países, podem dar um grandecontributo para promover contextos de paz. Leão XIV recordou que “é possível erradicar as premissas de qualquer conflito ou vontade destrutiva de conquista”, o que exige “uma abertura sincera ao diálogo, animada pelo desejo de encontro e não de confronto, sendo necessária a vontade de deixar de produzir instrumentos de destruição e de morte” e citou o Papa Francisco na sua última Mensagem Urbi et Orbi: “Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento!”
A propósito da relação entre justiça e paz, o novo Papa reafirmou ter escolhido o seu nome a pensar principalmente em Leão XIII, o Papa da primeira grande encíclica social, a Rerum novarum. “Na mudança de época que estamos a viver, a Santa Sé não pode deixar de fazer ouvir a sua voz perante os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas”, afirmou.
Para remediar as desigualdades globais, “que veem a opulência e a indigência traçar sulcos profundos entre continentes, países e mesmo no interior de cada sociedade”, Leão XIV apela aos responsáveis governamentais que se esforcem por construir sociedades civis harmoniosas e pacíficas, sobretudo, “investindo na família, fundada na união estável entre o homem e a mulher, uma sociedade muito pequena certamente, mas real e anterior a toda a sociedade civil” e sem deixar de favorecer contextos “em que a dignidade de cada pessoa é protegida, especialmente a das mais frágeis e indefesas, do nascituro ao idoso, do doente ao desempregado, seja ele cidadão ou imigrante”.
O seu discurso também inclui um testemunho pessoal: “A minha própria história é a de um cidadão, descendente de imigrantes, que por sua vez emigraram”, recordou. “Cada um de nós, ao longo da vida, pode encontrar-se saudável ou doente, empregado ou desempregado, na sua terra natal ou numa terra estrangeira, no entanto, a nossa dignidade permanece sempre a mesma, a de uma criatura querida e amada por Deus”.
Preocupado com os desafios do nosso tempo, “como as migrações, o uso ético da inteligência artificial e a preservação da nossa querida Terra”, Leão XIV sublinha que “a verdade não nos aliena, mas permite-nos enfrentar com maior vigor estes desafios”.
Perante os representantes dos 184 países que mantêm relações diplomáticas com o Vaticano, o novo Papa citou apenas dois contextosmundiais, vítimas de prolongado conflito: a Ucrânia e a Terra Santa.
Em pleno um ano jubilar, dedicado de modo especial à esperança, o Santo Padre espera que se viva um tempo de conversão e de renovação e, sobretudo, que o Jubileu seja uma oportunidade para deixar para trás os conflitos e iniciar um novo caminho, “animado pela esperança de se poder construir, trabalhando juntos, cada um segundo as suas sensibilidades e responsabilidades, um mundo em que todos possam realizar a sua humanidade na verdade, na justiça e na paz.
Espero que isto possa acontecer em todos os contextos, a começar pelos mais provados, como a Ucrânia e a Terra Santa”, afirmou.