18 set, 2025 - 13:49 • Aura Miguel
O Livro “Leão XIV, Cidadão do Mundo, Missionário do Século XXI”, com a primeira entrevista do novo Papa, foi publicado em língua espanhola, no Peru, esta quinta-feira.
Trata-se de uma extensa entrevista, sobre temas de atualidade e desafios deste pontificado face à realidade da Igreja e do mundo, após a divulgação de alguns excertos, no passado domingo.
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Entre outros temas, o Papa Leão não se mostra disponível para introduzir alterações doutrinárias em questões mais polémicas como a ordenação das mulheres ou a abertura aos fiéis LGBT+.
Sobre a possibilidade de ordenar mulheres diáconas, debatida numa assembleia internacional em 2023 e 2024, Leão XIV refere: “Não tenho intenção de mudar a doutrina da Igreja sobre o assunto, a curto prazo”.
No entanto, deseja "continuar o caminho" do Papa Francisco, "nomeando mulheres para cargos de liderança em diferentes níveis da vida da Igreja".
Pré-publicação
A Renascença publica, em exclusivo, um excerto do (...)
Quanto à questão "muito sensível" e "polarizadora" do acolhimento na Igreja dos fiéis LGBT+, o Papa alinha com o seu antecessor no acolhimento de "todos, todos, todos", mas recusa quaisquer alterações doutrinárias, como o reconhecimento do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
"Acredito que o ensinamento da Igreja se manterá como está", afirmou. “Estão todos convidados, mas não convido ninguém pela sua identidade particular", frisou, explicando que não quer "incentivar a polarização dentro da Igreja".
E acrescenta: “As pessoas querem que a doutrina da Igreja mude. Penso que precisamos de mudar as atitudes antes mesmo de pensarmos em mudar o que a Igreja diz sobre qualquer questão”. Assim, “é altamente improvável, num futuro próximo, que a doutrina da Igreja sobre a sexualidade e sobre o casamento venha a mudar”.
Neste ponto, Leão XIV reitera o seu apoio à "família tradicional" — "pai, mãe e filhos" — cujo "papel, que por vezes sofreu nas últimas décadas, deve ser novamente reconhecido e fortalecido".
Questionado sobre o combate aos crimes de violência sexual por parte de membros do clero, Leão XIV afirma que a Igreja deve continuar a apoiar as vítimas com "genuína e profunda compaixão”, pois “sofreram feridas muito profundas por causa de abusos, por vezes carregam essas feridas durante toda a vida”.
E acrescenta: “Seria ingénuo da minha parte, ou de qualquer outra pessoa pensar, que — embora lhes tenhamos dado algum tipo de acordo financeiro ou tratado do processo e o padre demitido — essas feridas possam simplesmente desaparecer por causa disso”.
O Papa não esquece os acusados, que “também têm direitos, e muitos deles acreditam que esses direitos não foram respeitados”.
Leão XIV cita estatísticas em que mais de 90% das pessoas que fazem acusações são autenticamente vítimas. E acrescenta que, perante "casos comprovados de acusações falsas" (ou seja, cerca de 10%), considera necessário proteger os padres, ou os acusados e respeitar os seus direitos.
“Houve padres cujas vidas foram destruídas por causa disso. A lei existe, e podemos falar de direito civil ou direito eclesiástico, mas a lei existe para proteger os direitos de todas as pessoas”, sublinha.
Produção do Dicastério para a Comunicação do Vatic(...)
A curto prazo, o Papa Leão vai dar continuidade à política que a Santa Sé tem vindo a seguir. “Não pretendo, de modo algum, ser mais sábio ou mais experiente do que todos os que me precederam.”
O pontífice revela que se mantém “em diálogo contínuo com várias pessoas, chinesas, de ambos os lados sobre algumas das questões que se colocam” e está a “tentar obter uma compreensão mais clara de como a Igreja pode dar continuidade à sua missão, respeitando tanto a cultura como as questões políticas que têm, obviamente, uma grande importância”, mas não esquece “um grupo significativo de católicos chineses que, durante muitos anos, sofreram algum tipo de opressão ou dificuldade em viver a sua fé livremente”.
Leão XIV reconhece que se trata de “uma situação muito difícil” e comenta: “Não quero dizer o que farei a longo prazo, mas já comecei a ter discussões a vários níveis sobre este tema”.
“Não pretendo envolver-me em política partidária. Não é disso que se trata na Igreja. Mas não tenho medo de levantar questões que considero verdadeiras questões evangélicas e que espero que as pessoas de ambos os lados possam ouvir”, afirma o primeiro Papa norte-americano.
“Obviamente, há algumas coisas a acontecer nos Estados Unidos que são preocupantes”, reconhece. Mas não se mostra apressado em encontrar-se com Trump: “Penso que seria muito mais apropriado que a liderança da Igreja nos Estados Unidos se envolvesse com ele, com bastante seriedade. Eu diria isso sobre qualquer governo”.
E acrescenta: “Os Estados Unidos são um ator poderoso a nível mundial, por vezes, as decisões são tomadas mais com base na economia do que na dignidade humana e no apoio humano, mas [temos de] continuar a desafiar e a levantar algumas questões e procurar a melhor forma de o fazer.”
Sobre as pressões de setores tradicionalistas para valorizar a celebração do rito tridentino, anterior ao Vaticano II, Leão XIV refere que ainda não teve oportunidade de se sentar e falar calmamente com um grupo de pessoas que defendem aquele rito.
"Esta questão está tão polarizada que muitos nem sequer estão dispostos a ouvir-se uns aos outros. Temos de nos sentar e falar. É um dos assuntos que está na agenda”.