04 nov, 2025 - 17:25 • João Maldonado
“Tenho um remédio infalível para que as pessoas não durmam durante a homília: é não demorar mais do que cinco minutos; não lhes dá tempo para adormecer.” D. Pio Alves de Sousa apela a que os sacerdotes aproveitem mais os momentos em que têm os fiéis a escutá-los e pede para que se evite “utilizar palavras que as pessoas não entendem”.
O bispo auxiliar emérito do Porto diz que procura a partir dos textos litúrgicos “falar da vida das pessoas” no dia-a-dia, selecionando “uma frase de cada uma das leituras” sempre que possível. Aconselha o clero a saber situar-se e a conhecer para quem se está a dirigir. Afinal, tudo “depende dos ambientes e do público que nos escuta”.
A simplificação da linguagem é um dos grandes temas sobre o qual por estes dias se debruçam os 9 bispos portugueses e espanhóis reunidos no Funchal para o Encontro Ibérico das Comissões Diocesanas de Comunicação Social.
Para D. Pio Alves de Sousa é também necessário refletir sobre a forma como é gerida a relação com os meios de comunicação externos à Igreja: “A maneira mais eficaz de entrar nas redações é por via da relação pessoal com uma ou duas pessoas, não se trata de instrumentalizar a amizade ou de pedir favores, mas é o modo de estar sem ter que à ultima bater à porta não se sabe de quem e correndo o risco de que nos mandem um especialista em futebol que não sabe aquilo que a Igreja fala”.
A manhã foi preenchida com duas conferências, seguidas de debate entre os participantes. Como oradores estiveram Gil Rosa, subdiretor da RTP Madeira, e Cristina Sánchez, diretora do semanário espanhol “Alfa y Omega”.
Encontro Ibérico das Comissões Episcopais de Comunicação Social
Arrancou esta segunda-feira no Funchal o Encontro (...)
Jornalista na região há 30 anos, Gil Rosa nota uma “maior disponibilidade e abertura” por parte da Igreja, mas sublinha que há ainda “um caminho a percorrer”. Deixa aos bispos, como sugestão, “não fechar portas, estar sempre disponível a tentar responder às questões”.
Já Cristina Sánchez acredita que a Igreja pode, usando bem as ferramentas de comunicação, ser a chave para a “necessidade de transcendência do ser humano”. Apela a que se utilize com sentido crítico instrumentos como as redes sociais - de forma a que “a Igreja esteja presente em todos os aspetos da vida social, política, filosófica, humana, familiar”.
Pela parte espanhola desta reunião, o padre José Gabriel Vera, secretário da Comissão Episcopal, sublinha que nenhuma forma de comunicação pode ser excluída, admitindo, ainda assim, que a Igreja demora algum tempo a adaptar-se.
“É verdade que a Igreja não é rápida em mudar a sua forma de fazer, mas ao mesmo tempo é verdade que encontrámos 3 revoluções: internet, redes sociais e inteligência artificial; e cada uma dessas revoluções obriga a uma evolução da comunicação, a um novo encontro de como fazer chegar a mensagem do Evangelho.” O secretário da Comissão Episcopal espanhola diz que é fundamental uma formação permanente para que, utilizando as novas tecnologias, o meio eclesial consiga expor posicionamentos nas realidades culturais, sociais ou políticas, como, por exemplo, “a natalidade ou as migrações”.
Da parte da tarde, depois de uma pausa para almoço, a comitiva participou numa visita aos principais pontos da ilha da Madeira, terminando o dia com uma missa no Senhor dos Milagres em Machico.
O encontro começou esta segunda-feira e decorre até esta quarta. Estão presentes: D. Nuno Brás (bispo do Funchal e Presidente da Comissão Portuguesa); D. Pio Alves de Sousa (bispo auxiliar emérito do Porto); D. Fernando Paiva (Bispo de Beja); D. Delfim Gomes, (bispo auxiliar de Braga); D. Joaquim Dionísio (bispo auxiliar do Porto); D. José Manuel Lorca (bispo de Cartagena e Presidente da Comissão Espanhola); D. Salvador Giménez Valls (bispo de Lleida); D. Sebastián Taltavull (bispo de Maiorca); e D. Cristóbal Déniz (bispo auxiliar das Canárias).