19 jan, 2025 - 14:02 • Maria João Costa
Pelo olhar da lente do fotógrafo Augusto Brázio percorremos o país, sobretudo o seu interior. Na Galeria Narrativa, em Lisboa está patente, até 22 de fevereiro, a exposição “Viagens na Minha Terra”. É uma mostra que parte de um projeto que o fotógrafo tem com Nelson d’Aires e que reúne fotografias que Brázio foi fazendo na última década.
Em entrevista ao Ensaio Geral da Renascença, o artista conta que parte para o terreno que vai explorar “lendo os escritores dessas zonas”, mas não só. “Começo a ler os jornais, se há jornais regionais, tento ouvir algumas rádios e chegar a estes sítios com um olhar fresco”.
“São territórios grandes” explica o artista que lembra que são áreas que percorre de carro para “fazer uma geografia” na sua cabeça. “Vou estabelecendo ligações com as pessoas quer profissionalmente, quer pelas suas atividades de lazer, de desporto e vou entrando um pouco em algumas famílias e grupos de pessoas. É a partir daí que começo a fotografar”.
E o que é que interessa a Augusto Brázio? O fotógrafo tanto retrata espaços, como faz retratos de rostos locais, como capta pormenores. Diz que não faz um levantamento prévio do território, porque quer mostrar as impressões que lhe ficam na alma.
“É um método que tenho. Muito antes de fotografar estabeleço essa relação com as pessoas, porque senão ficaria meramente pelas partes muito imediatas do que é visível. Vou me conectando com as pessoas, tanto posso ir à caça com elas, como posso ir para os trabalhos agrícolas, entrar em fábricas ou ir a festas. Vou criando laços”, explica.
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A ideia de Brázio é contar uma história. “As diferentes fotografias, os diferentes assuntos, as diferentes temáticas acabam por ser elementos que compõem uma narrativa. Não me interessa só fazer retratos, ou só fazer paisagem, pormenores, ou o que for. Isto é como um texto. Tem muitas palavras e aqui há muitas imagens que querem deixar a porta aberta para as pessoas construírem as suas próprias histórias”, diz o autor das fotografias.
Pediu de “empréstimo” o nome deste projeto ao clássico de Almeida Garrett, “Viagens na Minha Terra”. “Eu gosto muito do título “Viagens na Minha Terra”, e na verdade o que estou a fazer são viagens na minha terra”, explica Brázio, que aponta que o “mais importante” para si é o processo de descoberta do território.
“A fotografia acaba por ser quase algo secundária”, arrisca dizer referindo que para si “o mais importante é a experiência de estar nestes sítios, da descoberta, de estar com outras pessoas”, refere.
“Nós muitas vezes temos ideias feitas, pré-concebidas quando vamos para determinados sítios, e aqui eu vou muito liberto, vou muito disponível para o que vou encontrar e para o que me é dado a ver e a ouvir”.
Questionado sobre que país encontra nestas Viagens na Minha Terra, Augusto Brázio aponta ser “um país muito deserto no interior” e que isso é algo que por vezes lhe provoca “um sentimento estranho ao chegar a muitas aldeias e a maior instituição ser o lar da terceira idade”.
Há “poucos jovens” explica Augusto Brázio que diz: “Esse lado da desertificação talvez seja a marca maior que fica destas minhas viagens”.
Para os seus retratos, o artista explica que não leva muito equipamento. “Eu tenho uma única câmera fotográfica, uma única lente, um flash e tenho um tripé”. Chama-lhe o seu “material básico” e diz que “é uma forma de não ser muito ostensivo” e ser “o mais discreto possível” quando estabelece conversa com as pessoas.
“Não quero que me vejam com um transportador de equipamento, portanto vou muito simples. Eu fotografo exclusivamente em Portugal, não tenho muito interesse em fotografar fora de Portugal, e portanto este é um território no qual eu trabalho e que tenho uma grande sede de descobrir”
Tem ainda muitos locais que quer explorar e por vezes, devido à falta de apoios financeiros acaba por adiar os projetos. “Além destas publicações, já fiz outros trabalhos, só que não estão editadas, porque não tive verba para a edição. Este é um projeto contínuo, paralelamente a outros projetos que tenho. Não poderia viver só de um projeto, até porque tenho um trabalho comercial que é do que eu vivo”, concluiu.
“Viagens na Minha Terra” patente na Narrativa conta com entrada livre.