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"É cultura do Brasil que está a ser reconhecida". Walter Salles triunfa nos Óscares

03 mar, 2025 - 09:32 • Lusa

Com o Óscar de Melhor Filme Internacional, realizador brasileiro Walter tem ainda esperança de dar um incentivo aos filmes independentes no país.

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O realizador brasileiro Walter Salles, que venceu esta noite o primeiro Óscar de sempre do Brasil com o filme "Ainda Estou Aqui", considerou que este reconhecimento é para a cultura e o cinema brasileiros, que hoje ecoa pelo mundo.

"Não é um filme que é reconhecido, é a cultura que está a ser reconhecida, é a forma como fazemos cinema no Brasil, é a literatura brasileira com o livro de Marcelo Paiva, é a música brasileira", afirmou o cineasta, nos bastidores dos Óscares da Academia.

"Toda esta jornada foi sobre refazer a memória de uma família ao mesmo tempo que refazíamos a memória de um país durante 21 anos de ditadura militar", considerou Salles, que dedicou a estatueta dourada a "três mulheres extraordinárias": Eunice Paiva, a protagonista da história, e as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.

Walter Salles lembrou que o filme foi visto nos cinemas por cinco milhões de brasileiros e conseguiu ultrapassar a barreira do sistema político binário do país.

Segundo o realizador, a ressonância que está a ter nos mercados internacionais, incluindo Portugal e Estados Unidos, pode ser entendida pela fragilidade cada vez maior da democracia um pouco por todo o lado.

"Nunca pensei que seria tão frágil, até mesmo neste país, e por isso o que aconteceu no Brasil no passado parece muito próximo do que está a acontecer agora", salientou Walter Salles.

"O filme é principalmente sobre perda e como reagimos a ela, como a superamos e como lutamos contra a injustiça", considerou.

"Esta mulher teve a possibilidade de quebrar ou de abraçar a vida e ela abraçou a vida", afirmou, referindo-se à forma de resistência de Eunice Paiva, baseada no afeto.

Salles também salientou a importância do jornalismo, da literatura, do cinema e das canções como forma de preservar a memória.

"A memória esteve no centro deste projeto. Vivemos num momento em que a memória está a ser apagada como um projeto de poder", afirmou. "O que fazemos pode lutar contra a possibilidade do esquecimento e isso é muito importante".

Para evocar a autenticidade do momento retratado, a equipa usou 35mm e Super 8 como forma de mergulhar o público no passado sem interferências artificiais. "Tentei trabalhar de uma forma em que pudéssemos recriar a memória de um período específico no Brasil, os anos setenta, e uma forma de fazer foi isso foi escapar do digital".

Com este Óscar de Melhor Filme Internacional, Salles tem ainda esperança de dar um incentivo aos filmes independentes no Brasil.

A sua vitória foi muito celebrada na sala de entrevistas, onde a agência Lusa e vários meios brasileiros de comunicação social puderam fazer entrevistas ao cineasta e congratulá-lo em português, uma enorme raridade nos bastidores dos Óscares.

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